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20-09-2010
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O pinheiro-bravo está a caminho de perder o título da árvore mais plantada em Portugal. Os fogos e o desinteresse económico, juntos, estão a reduzir de tal modo a área ocupada por esta espécie que os eucaliptos ameaçam roubar-lhe a dianteira na preponderância da floresta nacional. Os sobreiros também estão a morder-lhes os calcanhares. A floresta portuguesa, como sempre, está em movimento.

O pinheiro fora a espécie de eleição para reflorestar o país desertificado por séculos de extracção de madeira e de intenso pastoreio. A área ocupada por pinhais e outras resinosas subiu de 210 mil hectares em 1874 para 1380 mil hectares em 1978. Desde então, porém, começou a cair e nunca mais parou.

O último Inventário Florestal Nacional, cujos dados definitivos foram apresentados este mês, estima que, em 2005/2006, havia 885 mil hectares de pinheiro-bravo - a espécie resinosa dominante. Houve uma queda de nove por cento em relação ao inventário anterior, de 1995/1998.

A maior frequência de incêndios florestais nas últimas décadas é uma das maiores causas deste declínio. Um só fogo não seria problema. Pelo contrário, o pinheiro-bravo regenera-se facilmente depois da passagem das chamas, a partir de sementes no solo. "É tão intensa a regeneração, que arde com facilidade logo a seguir", afirma o investigador João Santos Pereira, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia.

Matos ganham terreno

A ocorrência de incêndios num mesmo local em anos seguidos, porém, acaba por inviabilizar a produção de sementes, comprometendo a regeneração. "Foi a frequência dos fogos que causou aquilo [o declínio na área de pinhais], não os fogos em si", diz Santos Pereira. A praga do nemátodo-do-pinheiro também terá tido influência, embora o seu real efeito só venha a ser medido num próximo inventário, já que o problema se tem agravado nos anos mais recentes.

Perante a ameaça dos fogos e das pragas, muitos proprietários florestais têm também desistido de replantar pinhais. "Uma parte da redução do pinheiro-bravo é explicada também pela sua substituição pelo eucalipto", explica João Pinho, director nacional para a Gestão Florestal, da Autoridade Florestal Nacional.

Para João Soares, ex-secretário de Estado das Florestas e assessor do grupo Portucel Soporcel, os fogos e as pragas não teriam tanto impacto se os pinhais tivessem uma gestão mais activa. Retirar maior rendimento do pinheiro-bravo, segundo João Soares, implicaria plantar áreas densas, desbastá-las gradualmente, utilizando as árvores para produção de pasta de papel ou aglomerados, e deixar as melhores crescerem por décadas, garantindo diâmetros maiores que as tornariam mais valiosas para a serração.

"O que temos hoje é a negação disso tudo", diz João Soares, que falou ao PÚBLICO a título pessoal, e não em nome do grupo Portucel Soporcel. "Nunca se conseguiu ter uma indústria muito forte para o pinheiro-bravo em Portugal", concorda João Santos Pereira, do Instituto Superior de Agronomia.

Se não são substituídos por eucaliptos, os pinhais são sucedidos por matos. Este ano, até 15 de Setembro, dois terços da área ardida correspondem a matos e só um terço a povoamentos florestais.

No mais recente retrato florestal do país, as azinheiras também aparecem a perder relevo. Em sentido contrário, estão a subir os eucaliptos, sobreiros, carvalhos e pinheiros-mansos.

Se os eucaliptos irão ou não ultrapassar os pinheiros-bravos, é matéria que não reúne consenso. "Espaço físico há com certeza", afirma João Soares. Motivação económica também: as fábricas nacionais de pasta de papel estão a ser abastecidas em boa parte com matéria-prima importada.

As necessidades da indústria podem, porém, vir a ser supridas pelo aumento da produtividade dos eucaliptais. A Estratégia Florestal Nacional, aprovada em 2006, sugere a relocalização das espécies a longo prazo, concentrando-as nas áreas onde são mais produtivas. Os planos regionais de ordenamento florestal já incorporam esta ideia e, segundo João Pinho, muitas pretensões de novos eucaliptais têm sido indeferidas por esta razão.

Por trás das espécies mais visíveis, há outros que estão a povoar o território nacional e que preocupam, como as acácias - uma praga vegetal que facilmente ocupa áreas devastadas pelos fogos. "A acácia claramente está-se a expandir", afirma João Pinho. Um próximo inventário poderá dizer melhor com o que contamos.

O pinheiro-bravo está a caminho de perder o título da árvore mais plantada em Portugal. Os fogos e o desinteresse económico, juntos, estão a reduzir de tal modo a área ocupada por esta espécie que os eucaliptos ameaçam roubar-lhe a dianteira na preponderância da floresta nacional. Os sobreiros também estão a morder-lhes os calcanhares. A floresta portuguesa, como sempre, está em movimento.

O pinheiro fora a espécie de eleição para reflorestar o país desertificado por séculos de extracção de madeira e de intenso pastoreio. A área ocupada por pinhais e outras resinosas subiu de 210 mil hectares em 1874 para 1380 mil hectares em 1978. Desde então, porém, começou a cair e nunca mais parou.

O último Inventário Florestal Nacional, cujos dados definitivos foram apresentados este mês, estima que, em 2005/2006, havia 885 mil hectares de pinheiro-bravo - a espécie resinosa dominante. Houve uma queda de nove por cento em relação ao inventário anterior, de 1995/1998.

A maior frequência de incêndios florestais nas últimas décadas é uma das maiores causas deste declínio. Um só fogo não seria problema. Pelo contrário, o pinheiro-bravo regenera-se facilmente depois da passagem das chamas, a partir de sementes no solo. "É tão intensa a regeneração, que arde com facilidade logo a seguir", afirma o investigador João Santos Pereira, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia.

Matos ganham terreno

A ocorrência de incêndios num mesmo local em anos seguidos, porém, acaba por inviabilizar a produção de sementes, comprometendo a regeneração. "Foi a frequência dos fogos que causou aquilo [o declínio na área de pinhais], não os fogos em si", diz Santos Pereira. A praga do nemátodo-do-pinheiro também terá tido influência, embora o seu real efeito só venha a ser medido num próximo inventário, já que o problema se tem agravado nos anos mais recentes.

Perante a ameaça dos fogos e das pragas, muitos proprietários florestais têm também desistido de replantar pinhais. "Uma parte da redução do pinheiro-bravo é explicada também pela sua substituição pelo eucalipto", explica João Pinho, director nacional para a Gestão Florestal, da Autoridade Florestal Nacional.

Para João Soares, ex-secretário de Estado das Florestas e assessor do grupo Portucel Soporcel, os fogos e as pragas não teriam tanto impacto se os pinhais tivessem uma gestão mais activa. Retirar maior rendimento do pinheiro-bravo, segundo João Soares, implicaria plantar áreas densas, desbastá-las gradualmente, utilizando as árvores para produção de pasta de papel ou aglomerados, e deixar as melhores crescerem por décadas, garantindo diâmetros maiores que as tornariam mais valiosas para a serração.

"O que temos hoje é a negação disso tudo", diz João Soares, que falou ao PÚBLICO a título pessoal, e não em nome do grupo Portucel Soporcel. "Nunca se conseguiu ter uma indústria muito forte para o pinheiro-bravo em Portugal", concorda João Santos Pereira, do Instituto Superior de Agronomia.

Se não são substituídos por eucaliptos, os pinhais são sucedidos por matos. Este ano, até 15 de Setembro, dois terços da área ardida correspondem a matos e só um terço a povoamentos florestais.

No mais recente retrato florestal do país, as azinheiras também aparecem a perder relevo. Em sentido contrário, estão a subir os eucaliptos, sobreiros, carvalhos e pinheiros-mansos.

Se os eucaliptos irão ou não ultrapassar os pinheiros-bravos, é matéria que não reúne consenso. "Espaço físico há com certeza", afirma João Soares. Motivação económica também: as fábricas nacionais de pasta de papel estão a ser abastecidas em boa parte com matéria-prima importada.

As necessidades da indústria podem, porém, vir a ser supridas pelo aumento da produtividade dos eucaliptais. A Estratégia Florestal Nacional, aprovada em 2006, sugere a relocalização das espécies a longo prazo, concentrando-as nas áreas onde são mais produtivas. Os planos regionais de ordenamento florestal já incorporam esta ideia e, segundo João Pinho, muitas pretensões de novos eucaliptais têm sido indeferidas por esta razão.

Por trás das espécies mais visíveis, há outros que estão a povoar o território nacional e que preocupam, como as acácias - uma praga vegetal que facilmente ocupa áreas devastadas pelos fogos. "A acácia claramente está-se a expandir", afirma João Pinho. Um próximo inventário poderá dizer melhor com o que contamos.

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