Serpente Emplumada: DESCRIÇÃO DUM SONHO

20-05-2011
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Porque o Homem é essencialmente o que sonha, não numa concepção romântica do termo, mas na própria bizarria do pressuposto:Parecia um imediato do séc. XVIII, a retornar à sua cidade depois de longa ausência. Deambulando pelo bairro destruído à bomba, para matar saudades e confraternizar, com outros que não baleias e peixes. Para entrar no cabaré não tinha mais para subornar a rapariga da porta, do que um isqueiro sem gás, da marca nacional. Nunca tinha conseguido trazer pérolas e antiguidades para impressionar as gentes da terra, das suas deambulações pelo alto mar.Criatura estranha como o albatroz do Baudelaire, viu-se de modo continuo num cenário diverso. Deitado na cama a jurar que o tecto se ia transformando em ondas (tocava uma música de cravos, emprestando a solenidade que não tinha.) Quem nunca soube nadar vê nisto um paralelismo não tão estranho como poderia parecer, familiar como o desencanto, aonde fomos conduzidos pela obscuridade heraclitiana, resultando-nos hostil a matéria de facto autêntica no sentido em que é clara.


Porque o Homem é essencialmente o que sonha, não numa concepção romântica do termo, mas na própria bizarria do pressuposto:Parecia um imediato do séc. XVIII, a retornar à sua cidade depois de longa ausência. Deambulando pelo bairro destruído à bomba, para matar saudades e confraternizar, com outros que não baleias e peixes. Para entrar no cabaré não tinha mais para subornar a rapariga da porta, do que um isqueiro sem gás, da marca nacional. Nunca tinha conseguido trazer pérolas e antiguidades para impressionar as gentes da terra, das suas deambulações pelo alto mar.Criatura estranha como o albatroz do Baudelaire, viu-se de modo continuo num cenário diverso. Deitado na cama a jurar que o tecto se ia transformando em ondas (tocava uma música de cravos, emprestando a solenidade que não tinha.) Quem nunca soube nadar vê nisto um paralelismo não tão estranho como poderia parecer, familiar como o desencanto, aonde fomos conduzidos pela obscuridade heraclitiana, resultando-nos hostil a matéria de facto autêntica no sentido em que é clara.

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