Serpente Emplumada: in "Setembro dos Desgarrados"

23-05-2011
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(...) Um ano tem quatro estações! O dia - vinte e quatro horas. Num lugar sem idade onde o velho era velho apenas, como repartir o dia?O leite era de quem tivesse sede. Com a chegada do tempo medido, a garrafa passou a ter dono. O litro passou a ser dividido como o tempo daquele novo presente.João sonhava com um sino numa igreja a badalar de hora em hora. Em cada casa um relógio a marcar a hora do regresso a casa.A criança chorava em horas marcadas. De duas em duas horas pedia o peito da mãe. Quando cada coisa tem um tempo acordado, nasce a pressa do tempo esgotado. (...)(...) Pouco a pouco, mais depressa que nunca Setembro se organizava. A ordem tomava conta de cada esquina. Sem demora em cada casa uma nova rotina. Igual aos lugares da partida.Na cama as mulheres passaram a fazer contas. Depois da menstruação o amor passou a ter dia marcado para a procriação.Nos outros dias – descansavam. Os intervalos ganharam o enfado. E se a vizinha achava que estava de esperanças, raivosas as outras rogavam pragas aos maridos incapazes. Veio o esquecimento do tempo sem pressa. (...)(...) - Um dia morres miúda!- Esse dia existe mamã?- ?- O dia de morrer… Existe isso mamã? Ouvi dizer que tudo é vida.- És muito nova para perceber. Mas um dia alguém vai te explicar melhor que eu.- Esse alguém fez o curso da Morte? Porque ouvi dizer que tudo nasce e morre e volta a nascer. Parece que é o curso da vida… Não percebi nada, mas ouvi.- Vá Canela. Despacha-te que chegas atrasada a escola…(...) in Setembro dos Desgarrados


(...) Um ano tem quatro estações! O dia - vinte e quatro horas. Num lugar sem idade onde o velho era velho apenas, como repartir o dia?O leite era de quem tivesse sede. Com a chegada do tempo medido, a garrafa passou a ter dono. O litro passou a ser dividido como o tempo daquele novo presente.João sonhava com um sino numa igreja a badalar de hora em hora. Em cada casa um relógio a marcar a hora do regresso a casa.A criança chorava em horas marcadas. De duas em duas horas pedia o peito da mãe. Quando cada coisa tem um tempo acordado, nasce a pressa do tempo esgotado. (...)(...) Pouco a pouco, mais depressa que nunca Setembro se organizava. A ordem tomava conta de cada esquina. Sem demora em cada casa uma nova rotina. Igual aos lugares da partida.Na cama as mulheres passaram a fazer contas. Depois da menstruação o amor passou a ter dia marcado para a procriação.Nos outros dias – descansavam. Os intervalos ganharam o enfado. E se a vizinha achava que estava de esperanças, raivosas as outras rogavam pragas aos maridos incapazes. Veio o esquecimento do tempo sem pressa. (...)(...) - Um dia morres miúda!- Esse dia existe mamã?- ?- O dia de morrer… Existe isso mamã? Ouvi dizer que tudo é vida.- És muito nova para perceber. Mas um dia alguém vai te explicar melhor que eu.- Esse alguém fez o curso da Morte? Porque ouvi dizer que tudo nasce e morre e volta a nascer. Parece que é o curso da vida… Não percebi nada, mas ouvi.- Vá Canela. Despacha-te que chegas atrasada a escola…(...) in Setembro dos Desgarrados

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