Presidenciais onlineCavaco Silva e Governo já definem termos da relação futura

23-01-2011
marcar artigo

Antecipando a reeleição do Presidente, o Executivo avisa que não vacilará perante intervenções excessivas. Cavaco sacode a pressão

A análise de João d"Espiney do dia de campanha. As fotos e as acções de campanha. Os perfis dos candidatos em http://publico.pt/Presidenciais2011/Jogar no futuro é a estratégia. O diálogo dos últimos dias entre Cavaco Silva, candidato e Presidente, e o Governo demonstra que ambos estão a mostrar os músculos e a definir atempadamente regras para a futura relação institucional. Dirigentes nacionais do PS ouvidos pelo PÚBLICO dizem que na última semana de campanha as participações de membros do Governo em acções da candidatura de Manuel Alegre servirão sobretudo para enviar recados a Cavaco, que acreditam poder ser reeleito à primeira volta, como apontam as sondagens.

A dramatização de algumas intervenções - exemplificada no discurso de Santos Silva, anteontem à noite em Matosinhos, quando notou que um Presidente "não se deve meter onde não é chamado", nem "definir os rumos das políticas públicas" - tem o propósito de, antecipadamente, estabelecer parâmetros para a relação Governo/Belém no segundo mandato de Cavaco. A mensagem central do Executivo consiste em esclarecer que não estará disposto a aceitar futuras intervenções excessivas de Cavaco. Que, note-se, ripostou ontem às afirmações de Santos Silva ao reiterar que se for eleito exercerá uma "magistratura activa" para encaminhar o país para "o rumo certo". Um Presidente "não governa, não legisla", embora possa "apontar caminhos estratégicos, grandes linhas de orientação", disse. Prevenindo eventuais efeitos da "magistratura activa", São Bento parece estar apostado em mostrar que não vacilará ao primeiro golpe de Belém.

Na candidatura de Cavaco, os ataques do Governo são interpretados como uma forma de tentar condicionar o segundo mandato presidencial. Daí que a resposta mais dura do candidato tenha sido planeada para sacudir essa pressão, traçar fronteiras e deixar claro que há áreas em que discorda do Executivo. "É uma acção preventiva", na expressão de um colaborador do Presidente ao PÚBLICO. A área económica e os atrasos na resposta à crise são campos em que é clara a diferença.

Combate à abstenção

Para os socialistas, porém, as afirmações críticas de Cavaco têm um objectivo: agitar águas para tentar contrariar a abstenção. Isto porque entendem que o candidato já terá conquistado os votos dos descontentes com o Executivo e com a aplicação das medidas de austeridade. Porém, o fantasma da abstenção, que pode afectar todas as candidaturas, afigura-se como o maior inimigo. Sustentam que uma elevada abstenção no dia 23 poderá limitar a sua margem de manobra, lesando assim a sua legitimidade eleitoral. Sabendo deste alegado receio de Cavaco, o Governo procurou a melhor oportunidade para fixar desde já algumas regras. E esse momento surgiu nos últimos dias.

Contudo, apesar das afirmações mais agressivas de Santos Silva, não se prevê que o primeiro-ministro faça ataques incisivos a Cavaco. Em Castelo Branco, na sua estreia na campanha, o secretário-geral do PS optou por uma abordagem branda: falou na necessidade de existir uma "cooperação institucional" entre os órgãos de soberania e avisou, demarcando os campos de acção do Governo e da Presidência, que "um Presidente é eleito para presidir e não para governar". Em Aveiro, amanhã, não deverá fugir deste registo, legando a outros ministros, como Santos Silva e Alberto Martins, as intervenções que mais revelam a posição do Executivo.

O melhor do Público no email Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subscrever ×

Em Vila Real, Martins foi ontem mais incisivo do que na véspera. "Queremos um Presidente que presida, mas que não queira ser chefe de facção", afirmou. "Não queremos um corifeu de lamúrias. Queremos um Presidente imparcial, garante da estabilidade nacional", frisou. Não se espere, porém, que ministros mais próximos de Sócrates, como Pedro Silva Pereira ou Teixeira dos Santos, apareçam na campanha. E mesmo Vieira da Silva, que apoiou Alegre quando este disputou a liderança do PS, em 2004, não apareceu até agora em qualquer iniciativa.

Socialistas ouvidos pelo PÚBLICO consideram que seria possível forçar uma segunda volta se cada partido à esquerda apresentasse o seu próprio candidato, numa referência crítica ao discurso "incoerente" de Alegre, resultado do apoio conjunto do PS e do BE. João Semedo, deputado bloquista, nota, porém, que esta mesma leitura foi feita pelo PS nas últimas eleições, quando todos os partidos apresentaram uma candidatura presidencial.

Antecipando a reeleição do Presidente, o Executivo avisa que não vacilará perante intervenções excessivas. Cavaco sacode a pressão

A análise de João d"Espiney do dia de campanha. As fotos e as acções de campanha. Os perfis dos candidatos em http://publico.pt/Presidenciais2011/Jogar no futuro é a estratégia. O diálogo dos últimos dias entre Cavaco Silva, candidato e Presidente, e o Governo demonstra que ambos estão a mostrar os músculos e a definir atempadamente regras para a futura relação institucional. Dirigentes nacionais do PS ouvidos pelo PÚBLICO dizem que na última semana de campanha as participações de membros do Governo em acções da candidatura de Manuel Alegre servirão sobretudo para enviar recados a Cavaco, que acreditam poder ser reeleito à primeira volta, como apontam as sondagens.

A dramatização de algumas intervenções - exemplificada no discurso de Santos Silva, anteontem à noite em Matosinhos, quando notou que um Presidente "não se deve meter onde não é chamado", nem "definir os rumos das políticas públicas" - tem o propósito de, antecipadamente, estabelecer parâmetros para a relação Governo/Belém no segundo mandato de Cavaco. A mensagem central do Executivo consiste em esclarecer que não estará disposto a aceitar futuras intervenções excessivas de Cavaco. Que, note-se, ripostou ontem às afirmações de Santos Silva ao reiterar que se for eleito exercerá uma "magistratura activa" para encaminhar o país para "o rumo certo". Um Presidente "não governa, não legisla", embora possa "apontar caminhos estratégicos, grandes linhas de orientação", disse. Prevenindo eventuais efeitos da "magistratura activa", São Bento parece estar apostado em mostrar que não vacilará ao primeiro golpe de Belém.

Na candidatura de Cavaco, os ataques do Governo são interpretados como uma forma de tentar condicionar o segundo mandato presidencial. Daí que a resposta mais dura do candidato tenha sido planeada para sacudir essa pressão, traçar fronteiras e deixar claro que há áreas em que discorda do Executivo. "É uma acção preventiva", na expressão de um colaborador do Presidente ao PÚBLICO. A área económica e os atrasos na resposta à crise são campos em que é clara a diferença.

Combate à abstenção

Para os socialistas, porém, as afirmações críticas de Cavaco têm um objectivo: agitar águas para tentar contrariar a abstenção. Isto porque entendem que o candidato já terá conquistado os votos dos descontentes com o Executivo e com a aplicação das medidas de austeridade. Porém, o fantasma da abstenção, que pode afectar todas as candidaturas, afigura-se como o maior inimigo. Sustentam que uma elevada abstenção no dia 23 poderá limitar a sua margem de manobra, lesando assim a sua legitimidade eleitoral. Sabendo deste alegado receio de Cavaco, o Governo procurou a melhor oportunidade para fixar desde já algumas regras. E esse momento surgiu nos últimos dias.

Contudo, apesar das afirmações mais agressivas de Santos Silva, não se prevê que o primeiro-ministro faça ataques incisivos a Cavaco. Em Castelo Branco, na sua estreia na campanha, o secretário-geral do PS optou por uma abordagem branda: falou na necessidade de existir uma "cooperação institucional" entre os órgãos de soberania e avisou, demarcando os campos de acção do Governo e da Presidência, que "um Presidente é eleito para presidir e não para governar". Em Aveiro, amanhã, não deverá fugir deste registo, legando a outros ministros, como Santos Silva e Alberto Martins, as intervenções que mais revelam a posição do Executivo.

O melhor do Público no email Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subscrever ×

Em Vila Real, Martins foi ontem mais incisivo do que na véspera. "Queremos um Presidente que presida, mas que não queira ser chefe de facção", afirmou. "Não queremos um corifeu de lamúrias. Queremos um Presidente imparcial, garante da estabilidade nacional", frisou. Não se espere, porém, que ministros mais próximos de Sócrates, como Pedro Silva Pereira ou Teixeira dos Santos, apareçam na campanha. E mesmo Vieira da Silva, que apoiou Alegre quando este disputou a liderança do PS, em 2004, não apareceu até agora em qualquer iniciativa.

Socialistas ouvidos pelo PÚBLICO consideram que seria possível forçar uma segunda volta se cada partido à esquerda apresentasse o seu próprio candidato, numa referência crítica ao discurso "incoerente" de Alegre, resultado do apoio conjunto do PS e do BE. João Semedo, deputado bloquista, nota, porém, que esta mesma leitura foi feita pelo PS nas últimas eleições, quando todos os partidos apresentaram uma candidatura presidencial.

marcar artigo