Acidente da BP é o "Three Mile Island" da exploração petrolífera off-shore

14-06-2010
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Jeff Rubin, autor do livro Por Que É Que o Seu Mundo Vai Ficar Muito Mais Pequeno e antigo economista-chefe da CIBC World Markets, do Canadá, diz que o preço do petróleo só tem um sentido: subir.

Como vê a produção em águas ultraprofundas?

Na última década, o petróleo de águas profundas representou metade do aumento da oferta mundial de crude - cerca de 4,3 milhões de barris por dia. Sem esses poços, provavelmente já teríamos sentido bater no tecto da produção mundial, nos 86 milhões de barris, o que significa que o preço do petróleo só tem um caminho: subir.

Depois dos choques da OPEP, os preços elevados do petróleo impulsionaram a descoberta de novas fontes, por exemplo, no mar do Norte e no Alasca. Mas o único abastecimento que conseguimos aumentar entretanto foi o das areias betuminosas (Canadá e Venezuela). São fontes de petróleo muito caras. É claro que o Canadá e a Venezuela podem ser as arábias sauditas de amanhã, com 165 mil milhões de barris e mais 500 mil milhões de reservas recuperáveis, respectivamente, mas para extrair todo este petróleo é preciso que ele esteja a três dígitos, porque, quando chegou aos 40 dólares, as companhias cancelaram 50 mil milhões de dólares de investimento no Canadá, porque não fazia sentido económico.

A Petrobras diz que a exploração do petróleo nas suas águas profundas é viável com o crude a 45 dólares. O que lhe parece?

É interessante que diga isso, porque a Petrobras também cancelou projectos com a recessão. Além disso, quando o petróleo atinge as margens de Nova Orleães, Louisiana, Florida, qual será a vontade do Brasil? Quando a BP for processada por milhões e milhões de dólares de danos, que pode até deixar de existir, qual será a lição para a Petrobras? Isto é um desastre ecológico e penso que terá na indústriao mesmo impacto que o acidente nuclear de Three Mile Island teve para a indústria nuclear em 1979 (ver caixa nesta página). Depois disso, nunca mais construíram um reactor nuclear nos EUA, quando até então tudo girava à volta do poder nuclear. O jogo alterou-se completamente. Na altura, não foi apenas uma questão de regulação, o mercado financeiro também deixou de querer financiar novas centrais.

O jogo agora mudou com o acidente da BP?

Sim. Estamos a falar de petróleo a cinco mil metros de profundidade. A BP tem um campo maior de águas profundas, o Tiber, também no golfo do México, cuja descoberta foi primeira página doem 2009. Nunca será aberto. Depois deste acidente, a BP vai ter processos de milhões e milhões de dólares. Poderá não sobreviver a isto.

Pergunto-me que vantagem a Petrobras ou a Exxon têm em continuar a fazer o mesmo. Há uma mudança de jogo. Ironicamente as areias do Canadá parecem extraordinariamente verdes perante esta situação. Mas é terrível: é preciso mover duas toneladas de areia, queimar 1400 pés cúbicos de gás natural, poluir mil litros de água para tirar um barril de petróleo das areias. De repente, até isto parece verde em comparação com o que está a acontecer no golfo do México.

Mas continuamos à procura de petróleo caro.

Gastamos milhões nas areias betuminosas e procuramos petróleo várias milhas no fundo do mar, porque não nos resta mais nada. Esta é que é a resposta.

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Os preços mais altos do crude incentivam a procura de novas fontes de fornecimento, mas, apesar da devastação ambiental que provocam, é um fornecimento que não nos podemos dar ao luxo de queimar.

Num mundo em que a oferta real de petróleo não tem mais por onde crescer, significa que para haver 40 milhões de novos carros a circular na China, é preciso que outros 40 milhões em outra parte qualquer do mundo saiam da estrada. No ano passado, houve menos quatro milhões de carros nas estradas dos EUA do que em 2008. Foi a primeira vez que isso aconteceu.

A verdade inconveniente, e que ninguém quer ouvir, é que o fornecimento de petróleo convencional já não cresce desde 2005 e nunca mais crescerá. É claro que, como afirmei, podemos usar as áreas do Canadá ou da Venezuela, mas isso não acontecerá com o petróleo a 40 dólares. Para esses países serem as arábias sauditas de amanha, precisam que o preço do petróleo se fixe nos três dígitos. O mundo não está a ficar sem petróleo, está é a ficar sem petróleo que podemos pagar. Há uma grande diferença entre os dois conceitos. Não é um limite geológico, é económico.

Jeff Rubin, autor do livro Por Que É Que o Seu Mundo Vai Ficar Muito Mais Pequeno e antigo economista-chefe da CIBC World Markets, do Canadá, diz que o preço do petróleo só tem um sentido: subir.

Como vê a produção em águas ultraprofundas?

Na última década, o petróleo de águas profundas representou metade do aumento da oferta mundial de crude - cerca de 4,3 milhões de barris por dia. Sem esses poços, provavelmente já teríamos sentido bater no tecto da produção mundial, nos 86 milhões de barris, o que significa que o preço do petróleo só tem um caminho: subir.

Depois dos choques da OPEP, os preços elevados do petróleo impulsionaram a descoberta de novas fontes, por exemplo, no mar do Norte e no Alasca. Mas o único abastecimento que conseguimos aumentar entretanto foi o das areias betuminosas (Canadá e Venezuela). São fontes de petróleo muito caras. É claro que o Canadá e a Venezuela podem ser as arábias sauditas de amanhã, com 165 mil milhões de barris e mais 500 mil milhões de reservas recuperáveis, respectivamente, mas para extrair todo este petróleo é preciso que ele esteja a três dígitos, porque, quando chegou aos 40 dólares, as companhias cancelaram 50 mil milhões de dólares de investimento no Canadá, porque não fazia sentido económico.

A Petrobras diz que a exploração do petróleo nas suas águas profundas é viável com o crude a 45 dólares. O que lhe parece?

É interessante que diga isso, porque a Petrobras também cancelou projectos com a recessão. Além disso, quando o petróleo atinge as margens de Nova Orleães, Louisiana, Florida, qual será a vontade do Brasil? Quando a BP for processada por milhões e milhões de dólares de danos, que pode até deixar de existir, qual será a lição para a Petrobras? Isto é um desastre ecológico e penso que terá na indústriao mesmo impacto que o acidente nuclear de Three Mile Island teve para a indústria nuclear em 1979 (ver caixa nesta página). Depois disso, nunca mais construíram um reactor nuclear nos EUA, quando até então tudo girava à volta do poder nuclear. O jogo alterou-se completamente. Na altura, não foi apenas uma questão de regulação, o mercado financeiro também deixou de querer financiar novas centrais.

O jogo agora mudou com o acidente da BP?

Sim. Estamos a falar de petróleo a cinco mil metros de profundidade. A BP tem um campo maior de águas profundas, o Tiber, também no golfo do México, cuja descoberta foi primeira página doem 2009. Nunca será aberto. Depois deste acidente, a BP vai ter processos de milhões e milhões de dólares. Poderá não sobreviver a isto.

Pergunto-me que vantagem a Petrobras ou a Exxon têm em continuar a fazer o mesmo. Há uma mudança de jogo. Ironicamente as areias do Canadá parecem extraordinariamente verdes perante esta situação. Mas é terrível: é preciso mover duas toneladas de areia, queimar 1400 pés cúbicos de gás natural, poluir mil litros de água para tirar um barril de petróleo das areias. De repente, até isto parece verde em comparação com o que está a acontecer no golfo do México.

Mas continuamos à procura de petróleo caro.

Gastamos milhões nas areias betuminosas e procuramos petróleo várias milhas no fundo do mar, porque não nos resta mais nada. Esta é que é a resposta.

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Num mundo em que a oferta real de petróleo não tem mais por onde crescer, significa que para haver 40 milhões de novos carros a circular na China, é preciso que outros 40 milhões em outra parte qualquer do mundo saiam da estrada. No ano passado, houve menos quatro milhões de carros nas estradas dos EUA do que em 2008. Foi a primeira vez que isso aconteceu.

A verdade inconveniente, e que ninguém quer ouvir, é que o fornecimento de petróleo convencional já não cresce desde 2005 e nunca mais crescerá. É claro que, como afirmei, podemos usar as áreas do Canadá ou da Venezuela, mas isso não acontecerá com o petróleo a 40 dólares. Para esses países serem as arábias sauditas de amanha, precisam que o preço do petróleo se fixe nos três dígitos. O mundo não está a ficar sem petróleo, está é a ficar sem petróleo que podemos pagar. Há uma grande diferença entre os dois conceitos. Não é um limite geológico, é económico.

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