Escaninho: Ode à Primavera

28-05-2010
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A vida anda possessa de Poesia! Anda prenha de mosto! Ou é da luz do dia, Ou é da cor do rosto, Ou então quer abrir-se, neste gosto De pão com todo o sal que lhe cabia! Tem narcisos de amor no coração, Folhas de acanto nos sentidos! E carícias na mão A espreitar dos tendões adormecidos! Toca-se numa pedra, e ela treme! Murmura-se uma prece, e a boca grita! A rabiça do arado é como um leme Sobre a terra que ondula e ressuscita! Quem avoluma a sombra, ou quem a teme? Cada presença é um hino que palpita! E se na estrada alguém discorda e geme, Ninguém que vai no sonho o acredita! Serás tu, Primavera? Tu, com frutos na rama do futuro, Com sementes nos pés E flores inúteis sobre cada muro,Contentes só da graça que tu és!Miguel Torga, in "Odes", 1946; "Poesia Completa", 2000Gentilmente cedido pelos Amigos do Lugar ao Sul


A vida anda possessa de Poesia! Anda prenha de mosto! Ou é da luz do dia, Ou é da cor do rosto, Ou então quer abrir-se, neste gosto De pão com todo o sal que lhe cabia! Tem narcisos de amor no coração, Folhas de acanto nos sentidos! E carícias na mão A espreitar dos tendões adormecidos! Toca-se numa pedra, e ela treme! Murmura-se uma prece, e a boca grita! A rabiça do arado é como um leme Sobre a terra que ondula e ressuscita! Quem avoluma a sombra, ou quem a teme? Cada presença é um hino que palpita! E se na estrada alguém discorda e geme, Ninguém que vai no sonho o acredita! Serás tu, Primavera? Tu, com frutos na rama do futuro, Com sementes nos pés E flores inúteis sobre cada muro,Contentes só da graça que tu és!Miguel Torga, in "Odes", 1946; "Poesia Completa", 2000Gentilmente cedido pelos Amigos do Lugar ao Sul

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