ANOVIS ANOPHELIS: Voos da CIA em Portugal? Não vimos, não ouvimos, não sabemos...

23-12-2009
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A Assembleia da República rejeitou a formação de uma comissão de inquérito aos voos secretos da CIA que passaram em aeroportos portugueses, em especial, nos Açores. O PS juntou os seus votos aos do PSD e do CDS/PP, impedindo assim que o parlamento avançasse na procura da verdade.Para além do resultado, o que fica na memória de todos os que seguiram este debate são os rasgados e entusiasmados elogios ao actual governo – e muito especialmente ao seu ministro Luís Amado – proferidos pelos deputados da direita e da extrema­‑direita, exactamente os mesmos que ou estavam no governo ou lhe garantiam o apoio parlamentar quando ocorreram a maior parte dos voos que estão na origem da investigação em curso no Parlamento Europeu.Foi debaixo dos aplausos do agradecido José Luís Arnault, ex-ministro da presidência de Durão e Santana, e dos sorrisos do aliviado Paulo Portas, titular da pasta da Defesa dos mesmos governos, que o deputado socialista Vera Jardim despachou o assunto, concluindo que não havia nem factos nem indícios que justificassem a abertura de um inquérito parlamentar, pois quer o governo quer a própria assembleia já tudo tinham esclarecido e clarificado.A direita saía tranquila: o parlamento desistia de seguir o rasto da sua cumplicidade com as ilegalidades praticadas pelos serviços secretos norte-americanos. O Partido Socialista saía envergonhado: nunca nesta legislatura tinha sido tão evidente e descarado o apoio, e o reconhecimento, da direita ao governo de José Sócrates.De facto, foi chocante ver o enlevo com que PSD e CDS/PP defenderam as decisões e a postura do governo do PS neste caso dos voos da CIA, sobretudo o papel do ministro Luís Amado que, desde o primeiro momento, tudo fez para impedir que alguma coisa pudesse ser investigada e esclarecida, quer aqui pelas autoridades portuguesas, quer nas instâncias europeias. Recorde-se que o actual ministro dos Negócios Estrangeiros foi dos poucos socialistas que apoiaram, em Portugal, a ocupação do Iraque pelas tropas norte-americanas.Ao contrário do que PS, PSD e CDS/PP dizem, não faltam factos nem indícios mais que suficientes para levar por diante e até ás últimas consequências uma investigação séria às condições em que aviões ao serviço da CIA escalaram aeroportos portugueses. Em nome dos direitos humanos e das liberdades e garantias constitucionais, bem como das convenções internacionais subscritas pelo estado português, não podem ficar sem resposta algumas perguntas elementares: dos mais de cem voos ao serviço da CIA, tendo Guantánamo como origem ou destino (entre outros) e que está provado terem passado por Portugal, pelo menos desde 2002, quantos se destinaram a transportar cidadãos raptados e detidos ilegalmente pelas autoridades norte-americanas sob a acusação ou suspeita de envolvimento em actos terroristas? Onde estão e por que não são apresentadas as listagens dos passageiros e tripulantes desses voos? As autoridades portuguesas conheciam, consentiram ou autorizaram esses voos? E os governos de Durão Barroso e Santana Lopes? E o actual?É lamentável que o governo português e o nosso parlamento não sigam o exemplo dos parlamentares europeus – da comissão de inquérito criada no PE – na procura de toda a verdade sobre as operações da CIA em território nacional e, obviamente, europeu. Tal como é indisfarçável o medo do PS, do PSD e do CDS/PP pelos resultados de uma investigação séria, determinada e transparente. De facto, receiam vir a confrontar­‑se com verdades incómodas e factos incontornáveis, no fundo reveladores de toda a sua condescendência e até mesmo subserviência perante a administração norte-americana.Do PSD e do CDS/PP não seria de esperar outra atitude. Mas do PS, com franqueza! Que pensarão hoje todos aqueles socialistas que, com toda a esquerda portuguesa, desfilaram pelas cidades deste país contra a invasão do Iraque ordenada pelo chefe do império G. Bush?A rejeição do inquérito parlamentar constitui um intervalo. Pela dimensão que atingiu, pela gravidade do que pode estar em causa, o problema voos secretos da CIA não vai parar aqui. A verdade, mais tarde ou mais cedo, acabará por se impor.João SemedoEsquerdahttp://www.infoalternativa.org/portugal/port121.htm

A Assembleia da República rejeitou a formação de uma comissão de inquérito aos voos secretos da CIA que passaram em aeroportos portugueses, em especial, nos Açores. O PS juntou os seus votos aos do PSD e do CDS/PP, impedindo assim que o parlamento avançasse na procura da verdade.Para além do resultado, o que fica na memória de todos os que seguiram este debate são os rasgados e entusiasmados elogios ao actual governo – e muito especialmente ao seu ministro Luís Amado – proferidos pelos deputados da direita e da extrema­‑direita, exactamente os mesmos que ou estavam no governo ou lhe garantiam o apoio parlamentar quando ocorreram a maior parte dos voos que estão na origem da investigação em curso no Parlamento Europeu.Foi debaixo dos aplausos do agradecido José Luís Arnault, ex-ministro da presidência de Durão e Santana, e dos sorrisos do aliviado Paulo Portas, titular da pasta da Defesa dos mesmos governos, que o deputado socialista Vera Jardim despachou o assunto, concluindo que não havia nem factos nem indícios que justificassem a abertura de um inquérito parlamentar, pois quer o governo quer a própria assembleia já tudo tinham esclarecido e clarificado.A direita saía tranquila: o parlamento desistia de seguir o rasto da sua cumplicidade com as ilegalidades praticadas pelos serviços secretos norte-americanos. O Partido Socialista saía envergonhado: nunca nesta legislatura tinha sido tão evidente e descarado o apoio, e o reconhecimento, da direita ao governo de José Sócrates.De facto, foi chocante ver o enlevo com que PSD e CDS/PP defenderam as decisões e a postura do governo do PS neste caso dos voos da CIA, sobretudo o papel do ministro Luís Amado que, desde o primeiro momento, tudo fez para impedir que alguma coisa pudesse ser investigada e esclarecida, quer aqui pelas autoridades portuguesas, quer nas instâncias europeias. Recorde-se que o actual ministro dos Negócios Estrangeiros foi dos poucos socialistas que apoiaram, em Portugal, a ocupação do Iraque pelas tropas norte-americanas.Ao contrário do que PS, PSD e CDS/PP dizem, não faltam factos nem indícios mais que suficientes para levar por diante e até ás últimas consequências uma investigação séria às condições em que aviões ao serviço da CIA escalaram aeroportos portugueses. Em nome dos direitos humanos e das liberdades e garantias constitucionais, bem como das convenções internacionais subscritas pelo estado português, não podem ficar sem resposta algumas perguntas elementares: dos mais de cem voos ao serviço da CIA, tendo Guantánamo como origem ou destino (entre outros) e que está provado terem passado por Portugal, pelo menos desde 2002, quantos se destinaram a transportar cidadãos raptados e detidos ilegalmente pelas autoridades norte-americanas sob a acusação ou suspeita de envolvimento em actos terroristas? Onde estão e por que não são apresentadas as listagens dos passageiros e tripulantes desses voos? As autoridades portuguesas conheciam, consentiram ou autorizaram esses voos? E os governos de Durão Barroso e Santana Lopes? E o actual?É lamentável que o governo português e o nosso parlamento não sigam o exemplo dos parlamentares europeus – da comissão de inquérito criada no PE – na procura de toda a verdade sobre as operações da CIA em território nacional e, obviamente, europeu. Tal como é indisfarçável o medo do PS, do PSD e do CDS/PP pelos resultados de uma investigação séria, determinada e transparente. De facto, receiam vir a confrontar­‑se com verdades incómodas e factos incontornáveis, no fundo reveladores de toda a sua condescendência e até mesmo subserviência perante a administração norte-americana.Do PSD e do CDS/PP não seria de esperar outra atitude. Mas do PS, com franqueza! Que pensarão hoje todos aqueles socialistas que, com toda a esquerda portuguesa, desfilaram pelas cidades deste país contra a invasão do Iraque ordenada pelo chefe do império G. Bush?A rejeição do inquérito parlamentar constitui um intervalo. Pela dimensão que atingiu, pela gravidade do que pode estar em causa, o problema voos secretos da CIA não vai parar aqui. A verdade, mais tarde ou mais cedo, acabará por se impor.João SemedoEsquerdahttp://www.infoalternativa.org/portugal/port121.htm

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