Marginalizante: A consolidação do regime parlamentar

18-12-2009
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A hipocrisia politicamente correcta da nossa praça esfregou, esta semana, as mãos de contente com a falta de quórum da Assembleia da República para fazer algumas votações. Os deputados e os partidos foram desancados de cima a baixo, sem se cuidar de separar os faltosos dos presentes e os faltosos porque sim daqueles que tinham justificações plausíveis. Foi tudo metido no mesmo saco. Uma vergonha.Os senhores do politicamente correcto foram hipócritas como de costume. Em primeiro lugar porque cuspir para o ar não costuma ser boa ideia. Esgrimir-se com o argumento de que os deputados são uns bandidolas porque resolveram fazer férias nesta altura não cuidando do seu serviço é algo que pode (e quase de certeza dá) azo a ricochete. Quem não fez férias sabe perfeitamente que o País está mais ou menos parado na semana que antecede a Páscoa: o trânsito é menor, as filas nos serviços públicos diminuem apesar da ausência de muitos dos funcionários, etc. Querer que os deputados fossem diferentes dos cidadãos que os elegeram é um disparate.E o que verificámos esta semana na Assembleia da República foi a consolidação do regime parlamentar. Esse regime em teoria significa que os cidadãos decidem o rumo do País através dos seus representantes directos, os deputados. Foi isso mesmo que se passou, os deputados mostraram representar fielmente quem os elegeu. A maioria do povo está de férias, assumidas ou não, e os seus eleitos também. Mas uma análise bancada a bancada permite ainda perceber melhor a fiel representação do nosso povo pelos seus deputados.Os portugueses cultivam a "cunha", o oportunismo, a incompetência e a mentira. Isto na maioria dos casos, porque ainda há muito boa gente que se mantém íntegra. Mas se a maioria do povo é aquilo que atrás descrevi, importa ver qual foi o comportamento da bancada que esse povo maioritariamente elegeu, a bancada socialista. Sabe-se que entre tantos deputados do PS, a maioria só o é por "cunha" e que são incompetentes. Ficámos agora a saber que também há por ali muitos trapaceiros. Dos 121 deputados "rosa", 114 assinaram a folha de presenças, mas só 72 estavam no hemiciclo prontos para as voltações...Saltando para as bandas do PSD, percebe-se que os seus eleitos também representam fielmente os seus eleitores. Os eleitores do PSD são, maioritariamente, pessoas de direita, algo envergonhadas de se assumirem frontalmente como tal. E são pessoas que cultivam as aparências moralistas. Pregam a favor da moral, mas são debochados e exploradores dos mais fracos e oprimidos. No Parlamento, criticaram com veemência os socialistas por estes não terem garantido o quórum, mas dos 75 deputados social-democratas só estavam na sala 25. Dois terços deles andariam em parte incerta.No CDS-PP a situação é parecida, mas mais radical. O eleitor-tipo desse partido é claramente de direita e assume-se como tal. Vive ainda com saudades do Salazar, em muitos casos. Os mais novos são "betos". Novos e velhos são pios e santos - no discurso - e gostam da autoridade. A mesma autoridade patenteada pelo "beto" líder paralamentar do partido, Nuno Melo, justificando a ausência de cinco dos seus 12 colegas de bancada - quase metade - dizendo que os colegas apresentaram razões válidas para a ausência. Sobre dois deles em particular, Melo disse qual a justificação, mostrando a sua veia de autoridade, que não se sabe porquê não está contemplada na lei: faltaram porque Melo autorizou. É autêntico.Um terço do grupo do PCP baldou-se à sessão, todos por motivos politico-partidários e de funcionamento da Assembleia, excepto uma deputada, que o terá feito por motivos familiares. Condiz com o eleitorado comunista: trabalhador, mas pondo o partido acima de tudo o resto.A bancada com menos baixas foi a do Bloco de Esquerda, na qual só uma deputada entre os oito eleitos bloquistas estava fora da sala de votações. Desconfio que este é o partido que menos representa os seus eleitores, porque estes não são trabalhadores e responsáveis como os deputados que elegeram. Mas o certo é que este grupo parlamentar demonstrou representar na perfeição um dos seus votantes: eu mesmo. Já que também eu, mesmo não gostando de trabalhar, estou nesta semana em grande actividade nas minhas novas funções e sempre cumpri com as minhas obrigações laborais em todos os lados por onde passei. Além disso, o "meu deputado", o renovador comunista João Semedo, eleito pelo BE pelo Porto, estava na Assembleia.

A hipocrisia politicamente correcta da nossa praça esfregou, esta semana, as mãos de contente com a falta de quórum da Assembleia da República para fazer algumas votações. Os deputados e os partidos foram desancados de cima a baixo, sem se cuidar de separar os faltosos dos presentes e os faltosos porque sim daqueles que tinham justificações plausíveis. Foi tudo metido no mesmo saco. Uma vergonha.Os senhores do politicamente correcto foram hipócritas como de costume. Em primeiro lugar porque cuspir para o ar não costuma ser boa ideia. Esgrimir-se com o argumento de que os deputados são uns bandidolas porque resolveram fazer férias nesta altura não cuidando do seu serviço é algo que pode (e quase de certeza dá) azo a ricochete. Quem não fez férias sabe perfeitamente que o País está mais ou menos parado na semana que antecede a Páscoa: o trânsito é menor, as filas nos serviços públicos diminuem apesar da ausência de muitos dos funcionários, etc. Querer que os deputados fossem diferentes dos cidadãos que os elegeram é um disparate.E o que verificámos esta semana na Assembleia da República foi a consolidação do regime parlamentar. Esse regime em teoria significa que os cidadãos decidem o rumo do País através dos seus representantes directos, os deputados. Foi isso mesmo que se passou, os deputados mostraram representar fielmente quem os elegeu. A maioria do povo está de férias, assumidas ou não, e os seus eleitos também. Mas uma análise bancada a bancada permite ainda perceber melhor a fiel representação do nosso povo pelos seus deputados.Os portugueses cultivam a "cunha", o oportunismo, a incompetência e a mentira. Isto na maioria dos casos, porque ainda há muito boa gente que se mantém íntegra. Mas se a maioria do povo é aquilo que atrás descrevi, importa ver qual foi o comportamento da bancada que esse povo maioritariamente elegeu, a bancada socialista. Sabe-se que entre tantos deputados do PS, a maioria só o é por "cunha" e que são incompetentes. Ficámos agora a saber que também há por ali muitos trapaceiros. Dos 121 deputados "rosa", 114 assinaram a folha de presenças, mas só 72 estavam no hemiciclo prontos para as voltações...Saltando para as bandas do PSD, percebe-se que os seus eleitos também representam fielmente os seus eleitores. Os eleitores do PSD são, maioritariamente, pessoas de direita, algo envergonhadas de se assumirem frontalmente como tal. E são pessoas que cultivam as aparências moralistas. Pregam a favor da moral, mas são debochados e exploradores dos mais fracos e oprimidos. No Parlamento, criticaram com veemência os socialistas por estes não terem garantido o quórum, mas dos 75 deputados social-democratas só estavam na sala 25. Dois terços deles andariam em parte incerta.No CDS-PP a situação é parecida, mas mais radical. O eleitor-tipo desse partido é claramente de direita e assume-se como tal. Vive ainda com saudades do Salazar, em muitos casos. Os mais novos são "betos". Novos e velhos são pios e santos - no discurso - e gostam da autoridade. A mesma autoridade patenteada pelo "beto" líder paralamentar do partido, Nuno Melo, justificando a ausência de cinco dos seus 12 colegas de bancada - quase metade - dizendo que os colegas apresentaram razões válidas para a ausência. Sobre dois deles em particular, Melo disse qual a justificação, mostrando a sua veia de autoridade, que não se sabe porquê não está contemplada na lei: faltaram porque Melo autorizou. É autêntico.Um terço do grupo do PCP baldou-se à sessão, todos por motivos politico-partidários e de funcionamento da Assembleia, excepto uma deputada, que o terá feito por motivos familiares. Condiz com o eleitorado comunista: trabalhador, mas pondo o partido acima de tudo o resto.A bancada com menos baixas foi a do Bloco de Esquerda, na qual só uma deputada entre os oito eleitos bloquistas estava fora da sala de votações. Desconfio que este é o partido que menos representa os seus eleitores, porque estes não são trabalhadores e responsáveis como os deputados que elegeram. Mas o certo é que este grupo parlamentar demonstrou representar na perfeição um dos seus votantes: eu mesmo. Já que também eu, mesmo não gostando de trabalhar, estou nesta semana em grande actividade nas minhas novas funções e sempre cumpri com as minhas obrigações laborais em todos os lados por onde passei. Além disso, o "meu deputado", o renovador comunista João Semedo, eleito pelo BE pelo Porto, estava na Assembleia.

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