O Carmo e a Trindade: O ÚLTIMO A SAIR ROUBA A LUZ

28-05-2010
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Ao contrário de muitos cidadãos alfacinhas e até de eventuais candidatos à presidência da principal autarquia do país, eu gosto muito de Lisboa. Por isso é que me mete particular dó assistir ao aproveitamento da actual situação da cidade por meia dúzia de arrivistas. Realmente, nunca se viu uma coisa assim: quanto mais a cidade se desertifica, mais abutres aparecem. É provável que um dia destes seja ela por ela: dizem-me que, na actualidade, o centro de Lisboa não terá mais de 500 mil habitantes (um número e uma verdade que infelizmente não consigo confirmar). 500 mil? são quase tantos os habitantes como os candidatos à Câmara Municipal. Com a diferença que alguns dos candidatos à Câmara não serão decerto residentes em Lisboa. Como se sabe, o PSD chegou a considerar propor Fernando Seara para concorrer às eleições intercalares. Mas o Presidente da Câmara de Sintra (que sempre admitiu morar em Lisboa) não estaria decerto pelos ajustes: é que uma candidatura por Lisboa implicaria imediatamente a compra de um T2 na Rinchoa. Sempre achei que votar nas eleições autárquicas é como escolher entre o bom papel higiénico e o mau papel higiénico. No caso de Lisboa, trata-se de escolher entre um pequeno e um grande rolo de papel higiénico. Mas antes de chegarmos à limpeza, uma conclusão deveria ser, para já, evidente: a cidade precisa de mais lisboetas e de menos autarcas. E quanto menos autarcas se apresentarem, melhor. Não é inocente pensar que, até agora, o principal tema de campanha tenha sido “a situação da Câmara Municipal”, quando afinal deveria ser apenas “a situação de Lisboa”. Pelo menos é onde a Câmara se situa. Mas creio que Lisboa atingiu o limite das suas “experiências políticas”. Afinal, até suportámos Santana Lopes na Câmara. E os resultados? O silo da Calçada do Combro e o estacionamento nas Portas do Sol (este entregue à máfia). Os últimos dois anos poderiam ter sido exemplares: Carrilho deixou de desestabilizar por aí e Carmona trabalhou com um “dream team”: Maria José Nogueira Pinto, Ruben de Carvalho e Sá Fernandes. Rescaldo? Gabriela Seara, Fontão de Carvalho e o próprio Carmona foram constituídos arguidos no caso Bragaparques. O que se segue? Um acto de coragem e dignidade - informar os cidadãos de que, a partir de 2007, a gestão da Câmara Municipal de Lisboa será entregue a um profissional independente, preferivelmente contratado pelo Estado no estrangeiro. Se funcionou na TAP ou com a selecção nacional, por que não tentar na Câmara? Mas, antes disso, anular as eleições intercalares, mandar os lisboetas de férias, e pedir um esforço adicional a todos os profissionais da Câmara (dos quadros ou a recibos verdes, incluíndo ucranianos) para, em último esforço, eleger o cabeçudo que eles gostariam de ver no edifício da Câmara a honrar os seus derradeiros compromissos, saldando as dívidas morais e patrimoniais à sociedade civil, antes de se pôr a andar para parte incerta, ou uma ilha deserta. Uma vez limpa a bagunça na Câmara Municipal, erguer aí um Museu que honrasse o mérito e fracasso de um sistema democrático, transparente e incorruptível. Ou então vender tudo à Bragaparques.Miguel SomsenIn Metro


Ao contrário de muitos cidadãos alfacinhas e até de eventuais candidatos à presidência da principal autarquia do país, eu gosto muito de Lisboa. Por isso é que me mete particular dó assistir ao aproveitamento da actual situação da cidade por meia dúzia de arrivistas. Realmente, nunca se viu uma coisa assim: quanto mais a cidade se desertifica, mais abutres aparecem. É provável que um dia destes seja ela por ela: dizem-me que, na actualidade, o centro de Lisboa não terá mais de 500 mil habitantes (um número e uma verdade que infelizmente não consigo confirmar). 500 mil? são quase tantos os habitantes como os candidatos à Câmara Municipal. Com a diferença que alguns dos candidatos à Câmara não serão decerto residentes em Lisboa. Como se sabe, o PSD chegou a considerar propor Fernando Seara para concorrer às eleições intercalares. Mas o Presidente da Câmara de Sintra (que sempre admitiu morar em Lisboa) não estaria decerto pelos ajustes: é que uma candidatura por Lisboa implicaria imediatamente a compra de um T2 na Rinchoa. Sempre achei que votar nas eleições autárquicas é como escolher entre o bom papel higiénico e o mau papel higiénico. No caso de Lisboa, trata-se de escolher entre um pequeno e um grande rolo de papel higiénico. Mas antes de chegarmos à limpeza, uma conclusão deveria ser, para já, evidente: a cidade precisa de mais lisboetas e de menos autarcas. E quanto menos autarcas se apresentarem, melhor. Não é inocente pensar que, até agora, o principal tema de campanha tenha sido “a situação da Câmara Municipal”, quando afinal deveria ser apenas “a situação de Lisboa”. Pelo menos é onde a Câmara se situa. Mas creio que Lisboa atingiu o limite das suas “experiências políticas”. Afinal, até suportámos Santana Lopes na Câmara. E os resultados? O silo da Calçada do Combro e o estacionamento nas Portas do Sol (este entregue à máfia). Os últimos dois anos poderiam ter sido exemplares: Carrilho deixou de desestabilizar por aí e Carmona trabalhou com um “dream team”: Maria José Nogueira Pinto, Ruben de Carvalho e Sá Fernandes. Rescaldo? Gabriela Seara, Fontão de Carvalho e o próprio Carmona foram constituídos arguidos no caso Bragaparques. O que se segue? Um acto de coragem e dignidade - informar os cidadãos de que, a partir de 2007, a gestão da Câmara Municipal de Lisboa será entregue a um profissional independente, preferivelmente contratado pelo Estado no estrangeiro. Se funcionou na TAP ou com a selecção nacional, por que não tentar na Câmara? Mas, antes disso, anular as eleições intercalares, mandar os lisboetas de férias, e pedir um esforço adicional a todos os profissionais da Câmara (dos quadros ou a recibos verdes, incluíndo ucranianos) para, em último esforço, eleger o cabeçudo que eles gostariam de ver no edifício da Câmara a honrar os seus derradeiros compromissos, saldando as dívidas morais e patrimoniais à sociedade civil, antes de se pôr a andar para parte incerta, ou uma ilha deserta. Uma vez limpa a bagunça na Câmara Municipal, erguer aí um Museu que honrasse o mérito e fracasso de um sistema democrático, transparente e incorruptível. Ou então vender tudo à Bragaparques.Miguel SomsenIn Metro

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