sorumbático: O triunfo de Fedúncia da Costa

18-12-2009
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Por Appio SottomayorNO PRECISO DIA em que me dirigia à centenária “Ginjinha” do Largo de S. Domingos para comprar uma garrafinha do precioso líquido – que me estava em falta na magra garrafeira – soube, pela rádio e pelo DN, que a casa tinha sido fechada.Aquela “Ginjinha” exibe há largas décadas, nas portas e num quadro lateral, uma original publicidade à casa, toda ela em verso. O autor das rimas foi o jornalista e autor teatral Eduardo Fernandes, mais conhecido pelo cognome de Esculápio (pai de vários filhos, entre os quais outro Eduardo Fernandes, advogado e actor de cinema, “mau da fita” em “A Canção de Lisboa” e galã em “Maria Papoila”).Ora o Esculápio e um pintor cujo nome ignoro deixaram nas portas do pequeno estabelecimento, de um lado um tal Mateus, que era “um chochinha, mais feio que um camafeu, magro, tísico, um fuínha”, por nunca ter bebido na vida “nem um copo de ginjinha”. Contrastava com o irmão; este, conhecedor das virtudes do licor, era forte e gozava de saúde; do outro lado, exibe-se*****Dona Fedúncia da Costa*****Delambida e magrizela*****que fez, de ser tola, uma aposta:*****Diz que ginjinha nem vê-la*****Porque, coitada, não gosta!Em contrapartida, a ama de um reverendo apresenta um aspecto “tremendo” e saudável porque o colorido líquido faz parte dos seus usos diários!A jornalista Luísa Botinas não entrou em pormenores na sua reportagem, indicando as causas exactas do encerramento da casa. Mas deu uma deixa, que ouvi repetida por muitas bocas entre a vizinhança: não há ali casa de banho.Se assim for – isto é, se não houver razões mais directas e fundamentadas – parece tratar-se de um manifesto exagero, quase de um fundamentalismo. Para que raio quer um cliente (que por ali passa e só vê um balcão pequeno, quanto basta para lhe servirem um copinho “com” ou “sem”) uma casa de banho? Porque não instala a Câmara por ali os sanitários práticos e higiénicos que se vêem por essa Europa e que em Lisboa não abundam?Toda a gente de bom senso gostaria de estar grata à ASAE e, de um modo geral, a quem defende a nossa saúde. Mas parece haver às vezes uns laivos de recta pronúncia e legalismo cegos. Será o caso?Para já, a ideia que fica é que Dona Fedúncia da Costa, ao cabo de tantos anos, ganhou a partida: Ginjinha nem vê-la . Ela não gosta...«Sorumbático» - 20 de Novembro de 2007 Etiquetas: Appio

Por Appio SottomayorNO PRECISO DIA em que me dirigia à centenária “Ginjinha” do Largo de S. Domingos para comprar uma garrafinha do precioso líquido – que me estava em falta na magra garrafeira – soube, pela rádio e pelo DN, que a casa tinha sido fechada.Aquela “Ginjinha” exibe há largas décadas, nas portas e num quadro lateral, uma original publicidade à casa, toda ela em verso. O autor das rimas foi o jornalista e autor teatral Eduardo Fernandes, mais conhecido pelo cognome de Esculápio (pai de vários filhos, entre os quais outro Eduardo Fernandes, advogado e actor de cinema, “mau da fita” em “A Canção de Lisboa” e galã em “Maria Papoila”).Ora o Esculápio e um pintor cujo nome ignoro deixaram nas portas do pequeno estabelecimento, de um lado um tal Mateus, que era “um chochinha, mais feio que um camafeu, magro, tísico, um fuínha”, por nunca ter bebido na vida “nem um copo de ginjinha”. Contrastava com o irmão; este, conhecedor das virtudes do licor, era forte e gozava de saúde; do outro lado, exibe-se*****Dona Fedúncia da Costa*****Delambida e magrizela*****que fez, de ser tola, uma aposta:*****Diz que ginjinha nem vê-la*****Porque, coitada, não gosta!Em contrapartida, a ama de um reverendo apresenta um aspecto “tremendo” e saudável porque o colorido líquido faz parte dos seus usos diários!A jornalista Luísa Botinas não entrou em pormenores na sua reportagem, indicando as causas exactas do encerramento da casa. Mas deu uma deixa, que ouvi repetida por muitas bocas entre a vizinhança: não há ali casa de banho.Se assim for – isto é, se não houver razões mais directas e fundamentadas – parece tratar-se de um manifesto exagero, quase de um fundamentalismo. Para que raio quer um cliente (que por ali passa e só vê um balcão pequeno, quanto basta para lhe servirem um copinho “com” ou “sem”) uma casa de banho? Porque não instala a Câmara por ali os sanitários práticos e higiénicos que se vêem por essa Europa e que em Lisboa não abundam?Toda a gente de bom senso gostaria de estar grata à ASAE e, de um modo geral, a quem defende a nossa saúde. Mas parece haver às vezes uns laivos de recta pronúncia e legalismo cegos. Será o caso?Para já, a ideia que fica é que Dona Fedúncia da Costa, ao cabo de tantos anos, ganhou a partida: Ginjinha nem vê-la . Ela não gosta...«Sorumbático» - 20 de Novembro de 2007 Etiquetas: Appio

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