"A situação é razoavelmente pior do que pensava. Infelizmente, há surpresas diárias"

30-07-2010
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Três semanas após as eleições que lhe deram a presidência do clube, o político João Almeida ainda está a descobrir os contornos da situação "inconcebível" em que vivia o Belenenses

Eleito presidente do Belenenses a 3 de Julho, João Pinho de Almeida tornou-se, aos 33 anos, um dos mais jovens presidentes da história do clube. Foi atleta dos "azuis", pertenceu à claque e agora assume a responsabilidade pelos destinos do emblema de Belém. Deputado à Assembleia da República e secretário-geral do CDS-PP, tem como prioridade a estabilização da situação financeira do clube.

Por que razão decidiu abraçar este desafio?

Sou Belenenses desde que me conheço. O clube estava numa situação muito difícil e era preciso virar uma página. Surgiu um grupo de pessoas com vontade de lançar um projecto de renovação do Belenenses e entenderam que devia ser eu a encabeçá-lo. Não estava no meu horizonte, mas surgiu e não fazia sentido dizer que não.

Qual é o seu projecto?

O projecto que temos, porque somos uma equipa vasta, passa por virar uma página no modelo de gestão. Queremos, em primeiro lugar, pôr o clube a fazer aquilo para que tem meios e, de futuro, obter novas receitas para crescer de forma sustentada. Procuramos, neste ano e dois meses de mandato intercalar, a sustentabilidade financeira do Belenenses.

O mandato terá continuidade?

Não faz sentido falar disso agora. Temos muita coisa para resolver.

Qual é a sua prioridade? Regressar à primeira divisão?

Não, sempre dissemos que isso não é um objectivo imediato. Essa era a maior diferença entre o nosso projecto e o da lista que concorreu contra nós, que apostava em voltar o mais depressa possível à primeira Liga. Para nós, isso não pode ser objectivo neste momento. Procuraremos um equilíbrio para deixarmos de passar por estas situações. A primeira prioridade era inscrever a equipa nas provas profissionais e isso está conseguido.

Era a grande preocupação?

Sem dúvida. O Belenenses nunca mais poderá passar por esta angústia de, no início da época, não saber se está ou não inscrito. É inconcebível. Herdámos uma situação de incumprimento para com as Finanças e a Segurança Social intolerável numa instituição que se quer respeitável.

Nas semanas que leva no cargo que diagnóstico faz do clube?

Está razoavelmente pior do que pensava. Infelizmente, há surpresas diárias com situações de incumprimento, com contratos totalmente desprovidos de lógica. O clube tem uma série de compromissos que vai ter de honrar ou tentar renegociar.

Como é a situação financeira?

É difícil em termos de tesouraria, mas é perfeitamente viável a médio/longo prazo.

Esteve na assembleia geral (AG) que levou à queda da direcção anterior?

Estive.

Como votou o relatório e contas?

Abstive-me. Não tinham o rigor necessário para serem aprovados. Não houve contacto com os sócios, não houve informação ao conselho fiscal e, portanto, não havia condições para aprovar as contas. Vi aquela AG como um triste fim para uma direcção que estava numa situação de desespero. Era a decadência de uma direcção, mas infelizmente tornou-se também na decadência do clube.

No plano desportivo, como está a decorrer a construção da equipa de futebol?

O nosso projecto desportivo para o futebol assenta em três áreas: formação, prospecção e parcerias. Na lógica da formação, mais de metade do plantel é formado no Belenenses. Na área da prospecção começamos a contratar os primeiros jogadores. O terceiro vector é o das parcerias: estamos em negociações para ter cá jogadores de qualidade, em que o Belenenses funcione como porta de entrada na Europa.

Vai ser uma equipa jovem?

É uma aposta que assim seja. Procuramos uma identidade e uma mística que passa pela equipa técnica, formada essencialmente por antigos jogadores do clube, referências que podem transmitir o que é representar o Belenenses.

Essa injecção de mística levou à dispensa de Baltemar Brito?

Não, não tem a ver com isso. O Baltemar Brito foi contratado em condições lamentáveis, por pessoas que estavam na gestão de forma transitória. Não fazia sentido prolongar uma situação que tinha começado assim. Não é culpa do Baltemar Brito, respeitamo-lo.

Isso não representou um encargo suplementar?

Não. O contrato podia ser mais oneroso se fosse cumprido como estava. Financeiramente, pode ser mais útil ao clube rescindi-lo agora.

O futebol português vive acima das suas posses?

Claramente, e o Belenenses vivia muito acima das suas posses. Este ano prevemos reduzir o orçamento para cerca de um quinto do da época passada, para pormos os pés na terra. Há um tecto salarial e os novos contratos são feitos com base no que o Belenenses pode pagar.

Qual será o orçamento?

Temos contratos que vêm de trás e depende da negociação que fizermos, mas estamos a tentar que seja de 1,5 milhões de euros.

Quais são as perspectivas das modalidades?

Estamos a discutir com cada uma delas. O clube não tem condições para apoiar todas, portanto terão de ser projectos sustentáveis.

Podem ser extintas algumas?

Podem, podem. Depende dos projectos que forem apresentados.

O que significa ser o presidente mais jovem da história do Belenenses?

Disseram-me que afinal houve um seis meses mais novo que eu, o Francisco Mega [presidente de 1935 a 1938, 1939 a 1941 e 1950 a 1954]. Se calhar, era. Portanto, não sou o mais novo. Sou o mais novo do século e um dos mais novos de sempre.

Falta sangue novo ao dirigismo desportivo?

Claro. Antes sequer de me passar pela cabeça ser presidente do Belenenses fiquei muito contente com a eleição do Fernando Gomes para a Liga. É importante que apareçam essas pessoas nos cargos e que o futebol português vire uma página ao nível do seu dirigismo.

Acredita no projecto de Fernando Gomes para a Liga?

Acredito muito. Pode dar um impulso à modernização do futebol português e vejo-o preocupado com questões muito importantes para o futuro do futebol, como a sustentabilidade dos clubes e SAD, as apostas desportivas ou as transmissões televisivas.

Deixou a vida política?

Não, continuo a ser deputado.

Como convivem estes dois mundos?

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Sem nenhum problema, separo as duas actividades. É um privilégio enorme, com a minha idade, poder estar dedicado a duas actividades que faço por convicção.

O que é que Paulo Portas lhe disse sobre este desafio?

Somos muito amigos e ele sabe como eu sinto o clube. Ficou satisfeito com a minha vitória e está a torcer para que tudo corra bem.João Almeida, presidente do Belenenses

Três semanas após as eleições que lhe deram a presidência do clube, o político João Almeida ainda está a descobrir os contornos da situação "inconcebível" em que vivia o Belenenses

Eleito presidente do Belenenses a 3 de Julho, João Pinho de Almeida tornou-se, aos 33 anos, um dos mais jovens presidentes da história do clube. Foi atleta dos "azuis", pertenceu à claque e agora assume a responsabilidade pelos destinos do emblema de Belém. Deputado à Assembleia da República e secretário-geral do CDS-PP, tem como prioridade a estabilização da situação financeira do clube.

Por que razão decidiu abraçar este desafio?

Sou Belenenses desde que me conheço. O clube estava numa situação muito difícil e era preciso virar uma página. Surgiu um grupo de pessoas com vontade de lançar um projecto de renovação do Belenenses e entenderam que devia ser eu a encabeçá-lo. Não estava no meu horizonte, mas surgiu e não fazia sentido dizer que não.

Qual é o seu projecto?

O projecto que temos, porque somos uma equipa vasta, passa por virar uma página no modelo de gestão. Queremos, em primeiro lugar, pôr o clube a fazer aquilo para que tem meios e, de futuro, obter novas receitas para crescer de forma sustentada. Procuramos, neste ano e dois meses de mandato intercalar, a sustentabilidade financeira do Belenenses.

O mandato terá continuidade?

Não faz sentido falar disso agora. Temos muita coisa para resolver.

Qual é a sua prioridade? Regressar à primeira divisão?

Não, sempre dissemos que isso não é um objectivo imediato. Essa era a maior diferença entre o nosso projecto e o da lista que concorreu contra nós, que apostava em voltar o mais depressa possível à primeira Liga. Para nós, isso não pode ser objectivo neste momento. Procuraremos um equilíbrio para deixarmos de passar por estas situações. A primeira prioridade era inscrever a equipa nas provas profissionais e isso está conseguido.

Era a grande preocupação?

Sem dúvida. O Belenenses nunca mais poderá passar por esta angústia de, no início da época, não saber se está ou não inscrito. É inconcebível. Herdámos uma situação de incumprimento para com as Finanças e a Segurança Social intolerável numa instituição que se quer respeitável.

Nas semanas que leva no cargo que diagnóstico faz do clube?

Está razoavelmente pior do que pensava. Infelizmente, há surpresas diárias com situações de incumprimento, com contratos totalmente desprovidos de lógica. O clube tem uma série de compromissos que vai ter de honrar ou tentar renegociar.

Como é a situação financeira?

É difícil em termos de tesouraria, mas é perfeitamente viável a médio/longo prazo.

Esteve na assembleia geral (AG) que levou à queda da direcção anterior?

Estive.

Como votou o relatório e contas?

Abstive-me. Não tinham o rigor necessário para serem aprovados. Não houve contacto com os sócios, não houve informação ao conselho fiscal e, portanto, não havia condições para aprovar as contas. Vi aquela AG como um triste fim para uma direcção que estava numa situação de desespero. Era a decadência de uma direcção, mas infelizmente tornou-se também na decadência do clube.

No plano desportivo, como está a decorrer a construção da equipa de futebol?

O nosso projecto desportivo para o futebol assenta em três áreas: formação, prospecção e parcerias. Na lógica da formação, mais de metade do plantel é formado no Belenenses. Na área da prospecção começamos a contratar os primeiros jogadores. O terceiro vector é o das parcerias: estamos em negociações para ter cá jogadores de qualidade, em que o Belenenses funcione como porta de entrada na Europa.

Vai ser uma equipa jovem?

É uma aposta que assim seja. Procuramos uma identidade e uma mística que passa pela equipa técnica, formada essencialmente por antigos jogadores do clube, referências que podem transmitir o que é representar o Belenenses.

Essa injecção de mística levou à dispensa de Baltemar Brito?

Não, não tem a ver com isso. O Baltemar Brito foi contratado em condições lamentáveis, por pessoas que estavam na gestão de forma transitória. Não fazia sentido prolongar uma situação que tinha começado assim. Não é culpa do Baltemar Brito, respeitamo-lo.

Isso não representou um encargo suplementar?

Não. O contrato podia ser mais oneroso se fosse cumprido como estava. Financeiramente, pode ser mais útil ao clube rescindi-lo agora.

O futebol português vive acima das suas posses?

Claramente, e o Belenenses vivia muito acima das suas posses. Este ano prevemos reduzir o orçamento para cerca de um quinto do da época passada, para pormos os pés na terra. Há um tecto salarial e os novos contratos são feitos com base no que o Belenenses pode pagar.

Qual será o orçamento?

Temos contratos que vêm de trás e depende da negociação que fizermos, mas estamos a tentar que seja de 1,5 milhões de euros.

Quais são as perspectivas das modalidades?

Estamos a discutir com cada uma delas. O clube não tem condições para apoiar todas, portanto terão de ser projectos sustentáveis.

Podem ser extintas algumas?

Podem, podem. Depende dos projectos que forem apresentados.

O que significa ser o presidente mais jovem da história do Belenenses?

Disseram-me que afinal houve um seis meses mais novo que eu, o Francisco Mega [presidente de 1935 a 1938, 1939 a 1941 e 1950 a 1954]. Se calhar, era. Portanto, não sou o mais novo. Sou o mais novo do século e um dos mais novos de sempre.

Falta sangue novo ao dirigismo desportivo?

Claro. Antes sequer de me passar pela cabeça ser presidente do Belenenses fiquei muito contente com a eleição do Fernando Gomes para a Liga. É importante que apareçam essas pessoas nos cargos e que o futebol português vire uma página ao nível do seu dirigismo.

Acredita no projecto de Fernando Gomes para a Liga?

Acredito muito. Pode dar um impulso à modernização do futebol português e vejo-o preocupado com questões muito importantes para o futuro do futebol, como a sustentabilidade dos clubes e SAD, as apostas desportivas ou as transmissões televisivas.

Deixou a vida política?

Não, continuo a ser deputado.

Como convivem estes dois mundos?

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Sem nenhum problema, separo as duas actividades. É um privilégio enorme, com a minha idade, poder estar dedicado a duas actividades que faço por convicção.

O que é que Paulo Portas lhe disse sobre este desafio?

Somos muito amigos e ele sabe como eu sinto o clube. Ficou satisfeito com a minha vitória e está a torcer para que tudo corra bem.João Almeida, presidente do Belenenses

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