O Grande Zoo: PS em Coimbra: duas candidaturas suaves

21-01-2011
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1. Vão ocorrer, a curto prazo, eleições para a Comissão Política Concelhia de Coimbra do Partido Socialista. Em todas as candidaturas deste tipo é dado um grande relevo à identidade de quem as lidera. É um relevo compreensível, já que o primeiro nome da lista vencedora será o próximo Presidente da Comissão Política Concelhia. Mas há circunstâncias em que adquire uma importância particular o sentido político da candidatura, quer pelo seu todo, quer pelo seu conteúdo programático, quer pelo modo como se posiciona na conjuntura que o respectivo partido atravessa. Esta é uma dessas circunstâncias.Sabemos que uma das candidaturas é encabeçada pelo camarada Henrique Fernandes e a outra pelo camarada Carlos Cidade. Os textos que as anunciaram respiram boas intenções, uma vez que ambas olham para o futuro de Coimbra como algo que, estando ainda no seu espírito envolto em compreensível neblina, gostariam de transformar num horizonte radioso. É um desígnio que só pode louvar-se.Esperemos pelos programas para vermos se nos mostram caminhos susceptíveis de nos aproximarem de tão generosos desígnios. Esperemos pela composição das listas para vermos se é legítimo tirar dela conclusões auspiciosas nesse campo.Mas, na conjuntura actual, a pedra de toque determinante da qualidade de qualquer candidatura é, como atrás se disse, o modo como se posiciona na actual conjuntura que o PS atravessa em Coimbra. Tudo o que ocorreu até agora no âmbito do processo de formação das duas candidaturas é suficiente para se poder avaliar com relativa segurança esse decisivo aspecto.Esquecida a retórica da renovação, da abertura do partido à sociedade e da ambição ganhadora, que todas as candidaturas, com um mínimo de consistência, necessariamente assumem, em qualquer competição ocorrida dentro do PS, da imagem global de cada uma delas ressalta com nitidez uma não demarcação clara, explícita e sustentada, em face das actuais lideranças do PS em Coimbra, quer no plano federativo, que no plano concelhio.É possível que a candidatura de HF se revele mais próxima de Victor Baptista do que a de CC, mas nenhuma se demarca claramente da sua condução política da Federação de Coimbra, se é que expressamente se não identifica com ela.É certo que só há candidatura de HF, porque Luís Vilar se não candidatou, tendo-o pelo contrário apoiado, enquanto CC se afirmou como um candidato que se disporia a enfrentar LV, se ele tivesse concorrido. Foi público, todavia, que ambas as candidaturas estiveram à beira de se fundir. Ora, se esteve quase a consumar-se um casamento feliz entre elas, certamente que isso não quer dizer que as separam diferenças abissais.Asim, as duas candidaturas, sendo diferentes, situam-se contudo num plano que, no fundamental, é de não ruptura com o modo como têm sido politicamente conduzidas a Federação e a Concelhia nestes últimos mandatos. A menor ou maior distância, relativamente aos poderes concelhio e federativo instalados, não é, por isso, uma diferença qualitativa, é ( se o chegar a ser) uma simples diferença de grau.2. Poderia dizer-se que isso só acontece, em virtude de a oposição interna ao status quo partidário distrital, cuja expressão mais recente foi a candidatura de Luís Marinho à Federação de Coimbra, não ter gerado uma candidatura própria. E é verdade.Falta saber se essa falta de comparência é uma omissão, um erro ou o resultado de considerações políticas mais amplas. Omissão involuntária não foi. Só pode saber-se se foi erro, à luz da sua perspectiva sobre o que é essencial e secundário na actual conjuntura.Do ponto de vista que julgo ser o do movimento de opinião que dentro da Federação de Coimbra do PS apoia a candidatura do Luís Marinho, o essencial da vida do partido nos próximos tempos joga-se no plano federativo. Tendo também a ver com a orientação politica a ser seguida, no essencial, o que deve estar em jogo é o próprio funcionamento do partido, a sua dinâmica interna, o seu modo de articulação e interacção com a sociedade, em geral, e com os seus simpatizantes e eleitores habituais, em particular. Ou seja, são imperativas mudanças estruturais e não apenas de orientação. Mudanças estruturais que a todos envolvam e que digam respeito a todos; e não apenas mudanças de timoneiros ou de rota. Não se pretende um tipo de mudança que se traduza apenas em novos rostos e novas atitudes políticas sob a égide de alguns, pretende-se um novo tipo de funcionamento que a todos implique. E entendeu-se que o essencial dessa indispensável mutação tem como instância circunstancialmente determinante a distrital.Penso eu, ter sido esse o factor que mais contribuiu para a decisão daquele movimento de opinião de não assumir um protagonismo próprio nas eleições concelhias.De facto, o que neste plano está em causa nas concelhias é relativamente secundário. O que nas concelhias está em causa mais directamente é a criação de condições para ter bons resultados nas eleições autárquicas do próximo ano. E neste campo, quanto ao concelho de Coimbra (que é o que neste texto está em causa) as notícias não são boas. Ambas as listas dão centralidade ao problema, mas parecem alérgicas a arrancar as raízes da catástrofe passada. E, principalmente, parecem cegas perante os riscos novos e acrescidos que pairam sobre o próximo acto eleitoral autárquico aqui em Coimbra, do ponto de vista do PS.3. Na verdade, há mutações estruturais que se justificam independentemente das conjunturas, mas que em certas circunstâncias se tornam particularmente urgentes. É o que acontece com o PS do Concelho de Coimbra, considerando como tal o conjunto dos seus militantes inscritos, dos seus militantes que deixaram de pagar quotas, dos seus simpatizantes e dos seus eleitores habituais. Este conjunto tem de readquirir uma coesão que perdeu e de conseguir solidarizar-se numa dinâmica política virada para o plano autárquico que permita colocar de novo autarcas socialistas ao leme da nossa Câmara Municipal.Desiludam-se, no entanto, os que pensam que uma operação de simples cosmética política, mediaticamente potenciada, pode substituir essa dinâmica profunda, ou que basta tirar um qualquer candidato salvador da cartola, para se caminhar triunfantemente para uma desejada vitória.Várias coisas novas e básicas têm que ser postas em prática, para serem alicerces seguros de iniciativas que sigam a tradição das melhores campanhas autárquicas do PS e sejam capazes até de ir para além delas. Contudo, sem esses alicerces, é grande o risco de condenar à esterilidade política realizações que, adequadamente alicerçadas, poderiam produzir os melhores resultados.Destaco duas medidas. Primeira: escolher o candidato do PS através de eleições primárias em que participem militantes, simpatizantes e eleitores habituais do PS, de modo a criar um envolvimento de todo o povo socialista como seu verdadeiro protagonista, desde o início do processo das eleições autárquicas. Segunda: tornar públicas todas as informações quanto aos negócios privados dos candidatos a essas eleições primárias, nos mesmos termos em que os titulares dos cargos políticos têm que informar o Tribunas Constitucional.Os processos administrativos de concretizar as eleições primárias teriam que ser, natutalmente, objecto de um regulamento específico, no qual se garantiriam condições de plena equidade e transparência no tratamento dos vários candidatos. É claro, que esta lisura eleitoral e a amplitude do corpo de votantes são condições prévias sem as quais o processo se poderia transformar numa farsa.O problema da publicidade dos negócios privados é um factor de legitimação dos candidatos que se deve conjugar com as primárias, mas que vale por si e se justifica, mesmo que as primárias não se realizem ainda nas próximas eleições. Na verdade, a imagem do PS em Coimbra exige medidas e cuidados que, valendo por si próprios, nas actuais circunstâncias têm uma particular importância. Na verdade, vai ser um factor decisivo de credibilidade das candidaturas do PS que os seus protagonistas se apresentem não apenas como subjectivamente limpos de qualquer sombra de corrupção, mas mais do que isso que não estejam colocados objectivamente em situações que possam envolver sequer a possibilidade de isso ocorrer.De facto, para não sermos vulneráveis a manobras ou ciladas mediática de última hora nas próximas pugnas eleitorais, pelo menos em Coimbra nas próximas eleições, precisamos de tornar objectivamente impossível qualquer imputação de tráfico de influências, de aproveitamento de posições públicas para vantagens privadas, de fruição de rendas de situação eticamente questionáveis. É uma exigência que vai para além da lei e talvez da própria ética, mas que qualquer estratégia política prudente não deixará de sugerir ao PS nestas circunstâncias.4. Tudo isto torna talvez compreensível que entre os apoiantes da candidatura do Luís Marinho haja quem apoie, quer um, quer outro dos candidatos, mas que haja também quem não apoie qualquer deles e até quem se distancie deste acto eleitoral, em si próprio.Por mim, sigo este último caminho, mas se algum candidato viesse comprometer-se, sem margem para dúvidas, a levar por diante as duas propostas que acima lembrei, respeitando por completo o seu espírito e garantindo a sua plena efectividade global, certamente que votaria nele, se na sua candidatura não surgisse qualquer aspecto novo que agora não conheça , mas que me levasse a ter que a rejeitar.Se ambas as candidaturas se comprometessem com o que acima é proposto seria uma festa e quase me apeteceria votar nas duas.


1. Vão ocorrer, a curto prazo, eleições para a Comissão Política Concelhia de Coimbra do Partido Socialista. Em todas as candidaturas deste tipo é dado um grande relevo à identidade de quem as lidera. É um relevo compreensível, já que o primeiro nome da lista vencedora será o próximo Presidente da Comissão Política Concelhia. Mas há circunstâncias em que adquire uma importância particular o sentido político da candidatura, quer pelo seu todo, quer pelo seu conteúdo programático, quer pelo modo como se posiciona na conjuntura que o respectivo partido atravessa. Esta é uma dessas circunstâncias.Sabemos que uma das candidaturas é encabeçada pelo camarada Henrique Fernandes e a outra pelo camarada Carlos Cidade. Os textos que as anunciaram respiram boas intenções, uma vez que ambas olham para o futuro de Coimbra como algo que, estando ainda no seu espírito envolto em compreensível neblina, gostariam de transformar num horizonte radioso. É um desígnio que só pode louvar-se.Esperemos pelos programas para vermos se nos mostram caminhos susceptíveis de nos aproximarem de tão generosos desígnios. Esperemos pela composição das listas para vermos se é legítimo tirar dela conclusões auspiciosas nesse campo.Mas, na conjuntura actual, a pedra de toque determinante da qualidade de qualquer candidatura é, como atrás se disse, o modo como se posiciona na actual conjuntura que o PS atravessa em Coimbra. Tudo o que ocorreu até agora no âmbito do processo de formação das duas candidaturas é suficiente para se poder avaliar com relativa segurança esse decisivo aspecto.Esquecida a retórica da renovação, da abertura do partido à sociedade e da ambição ganhadora, que todas as candidaturas, com um mínimo de consistência, necessariamente assumem, em qualquer competição ocorrida dentro do PS, da imagem global de cada uma delas ressalta com nitidez uma não demarcação clara, explícita e sustentada, em face das actuais lideranças do PS em Coimbra, quer no plano federativo, que no plano concelhio.É possível que a candidatura de HF se revele mais próxima de Victor Baptista do que a de CC, mas nenhuma se demarca claramente da sua condução política da Federação de Coimbra, se é que expressamente se não identifica com ela.É certo que só há candidatura de HF, porque Luís Vilar se não candidatou, tendo-o pelo contrário apoiado, enquanto CC se afirmou como um candidato que se disporia a enfrentar LV, se ele tivesse concorrido. Foi público, todavia, que ambas as candidaturas estiveram à beira de se fundir. Ora, se esteve quase a consumar-se um casamento feliz entre elas, certamente que isso não quer dizer que as separam diferenças abissais.Asim, as duas candidaturas, sendo diferentes, situam-se contudo num plano que, no fundamental, é de não ruptura com o modo como têm sido politicamente conduzidas a Federação e a Concelhia nestes últimos mandatos. A menor ou maior distância, relativamente aos poderes concelhio e federativo instalados, não é, por isso, uma diferença qualitativa, é ( se o chegar a ser) uma simples diferença de grau.2. Poderia dizer-se que isso só acontece, em virtude de a oposição interna ao status quo partidário distrital, cuja expressão mais recente foi a candidatura de Luís Marinho à Federação de Coimbra, não ter gerado uma candidatura própria. E é verdade.Falta saber se essa falta de comparência é uma omissão, um erro ou o resultado de considerações políticas mais amplas. Omissão involuntária não foi. Só pode saber-se se foi erro, à luz da sua perspectiva sobre o que é essencial e secundário na actual conjuntura.Do ponto de vista que julgo ser o do movimento de opinião que dentro da Federação de Coimbra do PS apoia a candidatura do Luís Marinho, o essencial da vida do partido nos próximos tempos joga-se no plano federativo. Tendo também a ver com a orientação politica a ser seguida, no essencial, o que deve estar em jogo é o próprio funcionamento do partido, a sua dinâmica interna, o seu modo de articulação e interacção com a sociedade, em geral, e com os seus simpatizantes e eleitores habituais, em particular. Ou seja, são imperativas mudanças estruturais e não apenas de orientação. Mudanças estruturais que a todos envolvam e que digam respeito a todos; e não apenas mudanças de timoneiros ou de rota. Não se pretende um tipo de mudança que se traduza apenas em novos rostos e novas atitudes políticas sob a égide de alguns, pretende-se um novo tipo de funcionamento que a todos implique. E entendeu-se que o essencial dessa indispensável mutação tem como instância circunstancialmente determinante a distrital.Penso eu, ter sido esse o factor que mais contribuiu para a decisão daquele movimento de opinião de não assumir um protagonismo próprio nas eleições concelhias.De facto, o que neste plano está em causa nas concelhias é relativamente secundário. O que nas concelhias está em causa mais directamente é a criação de condições para ter bons resultados nas eleições autárquicas do próximo ano. E neste campo, quanto ao concelho de Coimbra (que é o que neste texto está em causa) as notícias não são boas. Ambas as listas dão centralidade ao problema, mas parecem alérgicas a arrancar as raízes da catástrofe passada. E, principalmente, parecem cegas perante os riscos novos e acrescidos que pairam sobre o próximo acto eleitoral autárquico aqui em Coimbra, do ponto de vista do PS.3. Na verdade, há mutações estruturais que se justificam independentemente das conjunturas, mas que em certas circunstâncias se tornam particularmente urgentes. É o que acontece com o PS do Concelho de Coimbra, considerando como tal o conjunto dos seus militantes inscritos, dos seus militantes que deixaram de pagar quotas, dos seus simpatizantes e dos seus eleitores habituais. Este conjunto tem de readquirir uma coesão que perdeu e de conseguir solidarizar-se numa dinâmica política virada para o plano autárquico que permita colocar de novo autarcas socialistas ao leme da nossa Câmara Municipal.Desiludam-se, no entanto, os que pensam que uma operação de simples cosmética política, mediaticamente potenciada, pode substituir essa dinâmica profunda, ou que basta tirar um qualquer candidato salvador da cartola, para se caminhar triunfantemente para uma desejada vitória.Várias coisas novas e básicas têm que ser postas em prática, para serem alicerces seguros de iniciativas que sigam a tradição das melhores campanhas autárquicas do PS e sejam capazes até de ir para além delas. Contudo, sem esses alicerces, é grande o risco de condenar à esterilidade política realizações que, adequadamente alicerçadas, poderiam produzir os melhores resultados.Destaco duas medidas. Primeira: escolher o candidato do PS através de eleições primárias em que participem militantes, simpatizantes e eleitores habituais do PS, de modo a criar um envolvimento de todo o povo socialista como seu verdadeiro protagonista, desde o início do processo das eleições autárquicas. Segunda: tornar públicas todas as informações quanto aos negócios privados dos candidatos a essas eleições primárias, nos mesmos termos em que os titulares dos cargos políticos têm que informar o Tribunas Constitucional.Os processos administrativos de concretizar as eleições primárias teriam que ser, natutalmente, objecto de um regulamento específico, no qual se garantiriam condições de plena equidade e transparência no tratamento dos vários candidatos. É claro, que esta lisura eleitoral e a amplitude do corpo de votantes são condições prévias sem as quais o processo se poderia transformar numa farsa.O problema da publicidade dos negócios privados é um factor de legitimação dos candidatos que se deve conjugar com as primárias, mas que vale por si e se justifica, mesmo que as primárias não se realizem ainda nas próximas eleições. Na verdade, a imagem do PS em Coimbra exige medidas e cuidados que, valendo por si próprios, nas actuais circunstâncias têm uma particular importância. Na verdade, vai ser um factor decisivo de credibilidade das candidaturas do PS que os seus protagonistas se apresentem não apenas como subjectivamente limpos de qualquer sombra de corrupção, mas mais do que isso que não estejam colocados objectivamente em situações que possam envolver sequer a possibilidade de isso ocorrer.De facto, para não sermos vulneráveis a manobras ou ciladas mediática de última hora nas próximas pugnas eleitorais, pelo menos em Coimbra nas próximas eleições, precisamos de tornar objectivamente impossível qualquer imputação de tráfico de influências, de aproveitamento de posições públicas para vantagens privadas, de fruição de rendas de situação eticamente questionáveis. É uma exigência que vai para além da lei e talvez da própria ética, mas que qualquer estratégia política prudente não deixará de sugerir ao PS nestas circunstâncias.4. Tudo isto torna talvez compreensível que entre os apoiantes da candidatura do Luís Marinho haja quem apoie, quer um, quer outro dos candidatos, mas que haja também quem não apoie qualquer deles e até quem se distancie deste acto eleitoral, em si próprio.Por mim, sigo este último caminho, mas se algum candidato viesse comprometer-se, sem margem para dúvidas, a levar por diante as duas propostas que acima lembrei, respeitando por completo o seu espírito e garantindo a sua plena efectividade global, certamente que votaria nele, se na sua candidatura não surgisse qualquer aspecto novo que agora não conheça , mas que me levasse a ter que a rejeitar.Se ambas as candidaturas se comprometessem com o que acima é proposto seria uma festa e quase me apeteceria votar nas duas.

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