1. A SEDES nasceu como um gato gordo que passou a ronronar um pouco de respeitosa oposição algum tempo antes do 25 de Abril. Sempre se quis mostrar aprumada ao centro, mas nunca conseguiu deixar de coxear para a direita. Para alguns foi o recurso prudente que lhes permitiu ostentar depois do 25 de Abril uma pequena ousadia de oposição temerosa. Para outros, foi uma fraqueza, uma tergiversação, um cansaço.Se uma organização política se caracterizasse pela verticalidade, esta não a teria. O seu código genético é uma coisa mole. Talvez por isso, continua a durar. Quando a borrasca verdadeiramente aperta, reduz-se a um prudente silêncio. Quando julga levantar-se um coro suficientemente generalizado, não deixa de lançar a sua pedra.Mesmo que sempre tenha conseguido pescar, para ornamentos, alguns incautos cidadãos de esquerda, o seu coração bate irresistivelmente à direita. À direita, dissimuladamente; ou seja, com a infrontalidade mansa que lhe está no sangue.Por isso, se mantém, quase sempre, circunspectamente silenciosa, quando a direita está no poder, mas passa por surtos de existência, quando é o PS quem governa.2. " Sua dormência"(como em tempos lhe chamei) despertou uma vez mais. Cometeu mais um relatório. As sua boas relações com o Dr. Balsemão e o facto de prometer umas farpas ao governo, levaram-na à SIC. Uma mesa com a solenidade dos grandes eventos encabeçava uma sala com umas dezenas de pessoas. Gente aprumada, erguida até ao cume da sua vasta importância, bebeu religiosamente as palavras sábias de alguns oráculos.Na mesa, quase a sair do écran da televisão, um economista concedeu algumas ideias que embrulhou no aviso de que não era verdade que os "relatoriadores" fossem hostis ao governo, dado que ele até o considerava o melhor dos últimos dez anos. Ou seja, o referido economista respeita muito o Sr. Presidente da República. Ao seu lado, uma loura com ar maroto, já com a patine cruel da terceira idade, olhava para o mundo com condescendência. Especialista em Cesário Verde, gostaria de ter declamado, "O Ressentimento de uma Acidental". Na presidência da mesa, um sujeito espantado deixava transparecer um leve esgar de quem ainda não engoliu o despedimento sumário que sofreu como ministro deste governo, quando ia começar a construir uma glória que afinal não aconteceu. Ao seu lado, um conhecido ex-banqueiro militante do PSD, oferecia-se doutamente para salvar a pátria, talvez com o remorso de o não ter conseguido quanto ao banco.3. Se despirmos o douto relatório dos ouropéis da circunstância, restam duas intenções de farpa apontadas ao Governo: 1. o governo perdeu o ímpeto reformista; 2. o governo está a governar para eleições.Ou seja, a mesma entidade que apontava, há poucos meses, as sequelas sociais do excesso de "reformismo " do Governo, vem agora vociferar contra o défice do mesmo "reformismo". Assim, mesmo deixando passar em claro a mansa subordinação da SEDES ao cânone economicista dominante, fica claro que os doutos relatórios que irregularmente segrega, mais não são do que intenções de farpas, dirigidas ao Governo.Por outro lado, associando-se ao coro das oposições e dos jornalistas estagiários à procura de um alvo, a SEDES, quando não consegue, não quer ou não lhe convém atacar uma medida politica, qualifica-a como eleitoralista. É que no fundo, para a SEDES "reformas" são as medidas que prejudicam socialmente quem vive do seu trabalho, enfraquecendo o Estado e alargando a fatia de riqueza que cabe aos que já são ricos. "Medidas eleitoralistas" são as que beneficiam os mais pobres , os que vivendo do seu trabalho mais dificuldades têm , alargando as obrigações dos que mais têm. Ou seja: SEDES, SEDES,mas direita no seu melhor.O que ainda me espanta é que haja cidadãos, cujos nomes há muito nos habituámos a conotar com a esquerda, que consintam em ser associados às surtidas reaccionárias da SEDES.4. Uma conclusão objectiva pode, no entanto, retirar-se deste novo assomo de "sua ronronância": a direita não acha que o PSD chegue para projectar politicamente os seus interesses, mesmo sob o comando da "Dama de Cinza". Achou que precisava de fazer ouvir de novo o "Compromisso Portugal" e a SEDES. Maior desconsideração estrutural e estratégica à referida Senhora não podia ser imaginada.
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1. A SEDES nasceu como um gato gordo que passou a ronronar um pouco de respeitosa oposição algum tempo antes do 25 de Abril. Sempre se quis mostrar aprumada ao centro, mas nunca conseguiu deixar de coxear para a direita. Para alguns foi o recurso prudente que lhes permitiu ostentar depois do 25 de Abril uma pequena ousadia de oposição temerosa. Para outros, foi uma fraqueza, uma tergiversação, um cansaço.Se uma organização política se caracterizasse pela verticalidade, esta não a teria. O seu código genético é uma coisa mole. Talvez por isso, continua a durar. Quando a borrasca verdadeiramente aperta, reduz-se a um prudente silêncio. Quando julga levantar-se um coro suficientemente generalizado, não deixa de lançar a sua pedra.Mesmo que sempre tenha conseguido pescar, para ornamentos, alguns incautos cidadãos de esquerda, o seu coração bate irresistivelmente à direita. À direita, dissimuladamente; ou seja, com a infrontalidade mansa que lhe está no sangue.Por isso, se mantém, quase sempre, circunspectamente silenciosa, quando a direita está no poder, mas passa por surtos de existência, quando é o PS quem governa.2. " Sua dormência"(como em tempos lhe chamei) despertou uma vez mais. Cometeu mais um relatório. As sua boas relações com o Dr. Balsemão e o facto de prometer umas farpas ao governo, levaram-na à SIC. Uma mesa com a solenidade dos grandes eventos encabeçava uma sala com umas dezenas de pessoas. Gente aprumada, erguida até ao cume da sua vasta importância, bebeu religiosamente as palavras sábias de alguns oráculos.Na mesa, quase a sair do écran da televisão, um economista concedeu algumas ideias que embrulhou no aviso de que não era verdade que os "relatoriadores" fossem hostis ao governo, dado que ele até o considerava o melhor dos últimos dez anos. Ou seja, o referido economista respeita muito o Sr. Presidente da República. Ao seu lado, uma loura com ar maroto, já com a patine cruel da terceira idade, olhava para o mundo com condescendência. Especialista em Cesário Verde, gostaria de ter declamado, "O Ressentimento de uma Acidental". Na presidência da mesa, um sujeito espantado deixava transparecer um leve esgar de quem ainda não engoliu o despedimento sumário que sofreu como ministro deste governo, quando ia começar a construir uma glória que afinal não aconteceu. Ao seu lado, um conhecido ex-banqueiro militante do PSD, oferecia-se doutamente para salvar a pátria, talvez com o remorso de o não ter conseguido quanto ao banco.3. Se despirmos o douto relatório dos ouropéis da circunstância, restam duas intenções de farpa apontadas ao Governo: 1. o governo perdeu o ímpeto reformista; 2. o governo está a governar para eleições.Ou seja, a mesma entidade que apontava, há poucos meses, as sequelas sociais do excesso de "reformismo " do Governo, vem agora vociferar contra o défice do mesmo "reformismo". Assim, mesmo deixando passar em claro a mansa subordinação da SEDES ao cânone economicista dominante, fica claro que os doutos relatórios que irregularmente segrega, mais não são do que intenções de farpas, dirigidas ao Governo.Por outro lado, associando-se ao coro das oposições e dos jornalistas estagiários à procura de um alvo, a SEDES, quando não consegue, não quer ou não lhe convém atacar uma medida politica, qualifica-a como eleitoralista. É que no fundo, para a SEDES "reformas" são as medidas que prejudicam socialmente quem vive do seu trabalho, enfraquecendo o Estado e alargando a fatia de riqueza que cabe aos que já são ricos. "Medidas eleitoralistas" são as que beneficiam os mais pobres , os que vivendo do seu trabalho mais dificuldades têm , alargando as obrigações dos que mais têm. Ou seja: SEDES, SEDES,mas direita no seu melhor.O que ainda me espanta é que haja cidadãos, cujos nomes há muito nos habituámos a conotar com a esquerda, que consintam em ser associados às surtidas reaccionárias da SEDES.4. Uma conclusão objectiva pode, no entanto, retirar-se deste novo assomo de "sua ronronância": a direita não acha que o PSD chegue para projectar politicamente os seus interesses, mesmo sob o comando da "Dama de Cinza". Achou que precisava de fazer ouvir de novo o "Compromisso Portugal" e a SEDES. Maior desconsideração estrutural e estratégica à referida Senhora não podia ser imaginada.