A Assembleia da República aprovou hoje o Tratado de Lisboa. A atmosfera pública que rodeou o evento é comparável à que teria rodeado uma notícia que informasse sobre a visita a Portugal do Ministro dos Negócios Estrangeiros das Ilhas Maurícias. Sôfrego na ânsia de fugir a um referendo que não devia ter sido prometido, o cartel do conformismo político procurou anestesiar o bom povo, rodeando a questão europeia de uma exótica mistura de silêncios e frases chatas, que afugentariam qualquer mortal que se aproximasse delas.Êxito excessivo. A Europa transformou-se numa rotina. E afinal devia ser um horizonte de esperança. Transformada em rotina, deixou-se encerrar neste presente atrofiado que o neoliberalismo tenta converter numa paciência sem limites. É claro, que há uma pequena casta que ronrona de prazer num excesso de mordomias. Mas os indutores de conformismo acham que o sofrimento dos povos não é mais do que uma oportunidade para dar aos ricos a oportunidade para serem caridosos. E depois a turba faminta há-de ficar eternamente grata e mansa. É esse o tipo de Europa com que sonham os euroglutões.Por isso, lhes convém uma Europa reduzida a esta rotina cinzenta aprisionada num discurso "europês" previsível e redondo que brota em catadupa dos tecnocratas de Bruxelas.Ou seja, uma Europa melancólica que erra pelo mundo espalhando sorrisos que ninguém leva a sério e distribuindo conselhos que ninguém ouve. Os eurocratas, os euroglutões e os simpáticos eurofóricos julgam que ganharam uma batalha, quando apenas aumentaram o risco de um pesadelo.
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A Assembleia da República aprovou hoje o Tratado de Lisboa. A atmosfera pública que rodeou o evento é comparável à que teria rodeado uma notícia que informasse sobre a visita a Portugal do Ministro dos Negócios Estrangeiros das Ilhas Maurícias. Sôfrego na ânsia de fugir a um referendo que não devia ter sido prometido, o cartel do conformismo político procurou anestesiar o bom povo, rodeando a questão europeia de uma exótica mistura de silêncios e frases chatas, que afugentariam qualquer mortal que se aproximasse delas.Êxito excessivo. A Europa transformou-se numa rotina. E afinal devia ser um horizonte de esperança. Transformada em rotina, deixou-se encerrar neste presente atrofiado que o neoliberalismo tenta converter numa paciência sem limites. É claro, que há uma pequena casta que ronrona de prazer num excesso de mordomias. Mas os indutores de conformismo acham que o sofrimento dos povos não é mais do que uma oportunidade para dar aos ricos a oportunidade para serem caridosos. E depois a turba faminta há-de ficar eternamente grata e mansa. É esse o tipo de Europa com que sonham os euroglutões.Por isso, lhes convém uma Europa reduzida a esta rotina cinzenta aprisionada num discurso "europês" previsível e redondo que brota em catadupa dos tecnocratas de Bruxelas.Ou seja, uma Europa melancólica que erra pelo mundo espalhando sorrisos que ninguém leva a sério e distribuindo conselhos que ninguém ouve. Os eurocratas, os euroglutões e os simpáticos eurofóricos julgam que ganharam uma batalha, quando apenas aumentaram o risco de um pesadelo.