Nuvem radioactiva do Japão não foi detectada em Portugal

31-03-2011
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Em Ponta Delgada há duas estações: uma da Rede de Alerta da Radioactividade do Ar (RadNet) da Agência Portuguesa do Ambiente; a outra, muito sofisticada, que mede elementos radioactivos separados, é da Organização do Tratado Alargado de Proibição dos Testes Nucleares, uma agência da ONU com estações pelo mundo, e que é operada pelo Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN), em Sacavém.

"Nenhuma destas estações detectaram fosse o que fosse", diz Pedro Vaz, responsável pela Unidade de Protecção e Segurança Radiológica do ITN.

Nem as restantes 11 estações da RadNet, uma na Madeira e as outras em Portugal continental, que medem a dose ambiental total da radioactividade, detectaram alguma coisa. Quando se pergunta a João Oliveira Martins, da RadNet, se as estações assinalaram um aumento da radioactividade relacionada com as partículas da nuvem, a resposta é: "Absolutamente nada. Os nossos sensores não mediram variações na radioactividade ambiente."

Então e os mapas que mostraram uma nuvem a avançar desde a central, entre 12 e 15 de Março, pelo mundo fora? Na realidade, esses mapas são simulações do trajecto da nuvem, que, segundo os seus resultados, chegou há cerca de uma semana a França, ao território português e a outras zonas europeias. Ou seja, são o resultado de modelos de dispersão atmosférica feitos, por exemplo, pelo Instituto de Meteorologia de França ou pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) dos EUA. Foi, aliás, o modelo das trajectórias de massa de ar da NOAA que Félix Rodrigues, da Universidade dos Açores, usou para ver se elementos radioactivos de Fukushima, como o xénon-133 e o césio-137, chegariam aos Açores, tanto à superfície como a mais de dois mil metros, até porque, diz, o arquipélago já foi afectado por chuvas radioactivas entre os anos 60 e 90 devido aos testes nucleares. Baseou-se também em estimativas, incertas, do Instituto de Radioprotecção e Segurança Nuclear francês para as emissões da central.

Os resultados para os Açores coincidem com os modelos de outros cientistas, diz Félix Rodrigues. A diferença, acrescenta, é que as outras equipas não calcularam se haveria reconcentração na atmosfera dessas substâncias radioactivas. "Vi que há sempre diluição. As concentrações que chegariam cá seriam milhares de vezes inferiores às de Fukushima", diz. "Qualquer aparelho que medisse esse acréscimo à superfície, ele confundir-se-ia com as oscilações normais emitidas pela atmosfera ou pelo solo."

Com a rede francesa de detectores também nada foi medido, embora análises a amostras recolhidas em solo francês tenham encontrado vestígios ínfimos, explica José Marques, do ITN e da Faculdade de Ciências de Lisboa. A rede dos EUA, diz ainda, também detectou níveis mínimos, mas esse país está mais perto da central.

Portanto, partículas da nuvem radioactiva chegaram, ou não, a Portugal? Segundo os modelos de dispersão atmosférica, sim. Segundo as medições nas estações, incluindo a da rede internacional nos Açores, não.

Até pode ter-se dado o caso de algumas partículas terem sido trazidas até Portugal. Mas ou ficaram a grande altitude, pelo que não foram medidas à superfície, ou, se caíram, foi em valores tão ínfimos que a rede não as detectou, pelo que não põem em perigo a saúde pública. "No modelo, há transporte de partículas. Mas não há medições que confirmem que afectaram a superfície", diz Félix Rodrigues.

Por que não coincidem os modelos e as medições? As estações medem o que existe, explica Pedro Vaz, enquanto os modelos partem da estimativa das emissões de Fukushima ("esses dados não são ainda fiáveis") e incluíram variáveis como vento e chuva, que podem ter alterado o trajecto da nuvem e tê-la dispersado nos dez mil quilómetros até Portugal.

Em Ponta Delgada há duas estações: uma da Rede de Alerta da Radioactividade do Ar (RadNet) da Agência Portuguesa do Ambiente; a outra, muito sofisticada, que mede elementos radioactivos separados, é da Organização do Tratado Alargado de Proibição dos Testes Nucleares, uma agência da ONU com estações pelo mundo, e que é operada pelo Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN), em Sacavém.

"Nenhuma destas estações detectaram fosse o que fosse", diz Pedro Vaz, responsável pela Unidade de Protecção e Segurança Radiológica do ITN.

Nem as restantes 11 estações da RadNet, uma na Madeira e as outras em Portugal continental, que medem a dose ambiental total da radioactividade, detectaram alguma coisa. Quando se pergunta a João Oliveira Martins, da RadNet, se as estações assinalaram um aumento da radioactividade relacionada com as partículas da nuvem, a resposta é: "Absolutamente nada. Os nossos sensores não mediram variações na radioactividade ambiente."

Então e os mapas que mostraram uma nuvem a avançar desde a central, entre 12 e 15 de Março, pelo mundo fora? Na realidade, esses mapas são simulações do trajecto da nuvem, que, segundo os seus resultados, chegou há cerca de uma semana a França, ao território português e a outras zonas europeias. Ou seja, são o resultado de modelos de dispersão atmosférica feitos, por exemplo, pelo Instituto de Meteorologia de França ou pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) dos EUA. Foi, aliás, o modelo das trajectórias de massa de ar da NOAA que Félix Rodrigues, da Universidade dos Açores, usou para ver se elementos radioactivos de Fukushima, como o xénon-133 e o césio-137, chegariam aos Açores, tanto à superfície como a mais de dois mil metros, até porque, diz, o arquipélago já foi afectado por chuvas radioactivas entre os anos 60 e 90 devido aos testes nucleares. Baseou-se também em estimativas, incertas, do Instituto de Radioprotecção e Segurança Nuclear francês para as emissões da central.

Os resultados para os Açores coincidem com os modelos de outros cientistas, diz Félix Rodrigues. A diferença, acrescenta, é que as outras equipas não calcularam se haveria reconcentração na atmosfera dessas substâncias radioactivas. "Vi que há sempre diluição. As concentrações que chegariam cá seriam milhares de vezes inferiores às de Fukushima", diz. "Qualquer aparelho que medisse esse acréscimo à superfície, ele confundir-se-ia com as oscilações normais emitidas pela atmosfera ou pelo solo."

Com a rede francesa de detectores também nada foi medido, embora análises a amostras recolhidas em solo francês tenham encontrado vestígios ínfimos, explica José Marques, do ITN e da Faculdade de Ciências de Lisboa. A rede dos EUA, diz ainda, também detectou níveis mínimos, mas esse país está mais perto da central.

Portanto, partículas da nuvem radioactiva chegaram, ou não, a Portugal? Segundo os modelos de dispersão atmosférica, sim. Segundo as medições nas estações, incluindo a da rede internacional nos Açores, não.

Até pode ter-se dado o caso de algumas partículas terem sido trazidas até Portugal. Mas ou ficaram a grande altitude, pelo que não foram medidas à superfície, ou, se caíram, foi em valores tão ínfimos que a rede não as detectou, pelo que não põem em perigo a saúde pública. "No modelo, há transporte de partículas. Mas não há medições que confirmem que afectaram a superfície", diz Félix Rodrigues.

Por que não coincidem os modelos e as medições? As estações medem o que existe, explica Pedro Vaz, enquanto os modelos partem da estimativa das emissões de Fukushima ("esses dados não são ainda fiáveis") e incluíram variáveis como vento e chuva, que podem ter alterado o trajecto da nuvem e tê-la dispersado nos dez mil quilómetros até Portugal.

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