A Ilusão da Visão: O cowboy de sofá

28-05-2010
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O João Oliveira do alto da sua sapiência desafia-nos a reflectir "sobre se estas mortes são ou não razoáveis". Estou certo de que as vítimas inocentes e as suas famílias ficarão bem mais tranquilas se considerarmos estas mortes "razoáveis"! JMO dá o seu veredicto: "[d]epois de ver o filme, entendo perfeitamente que tenham sido mortes colaterais", é este o ponto de partida para a sua reflexão idiota.Interpretação freestylerJMO é dos duros, "[p]odiam não ter morrido mas a interpretação dos soldados no helicóptero era perfeitamente, na minha opinião, legítima". Não o incomoda portanto que tenham aberto fogo sobre quem não tinha qualquer arma ou disparou qualquer tiro; que tenham aberto fogo sobre quem recolhia um ferido; que veículos passem por cima dos cadáveres; que as crianças feridas tenham sido desencaminhadas de um hospital americano e colocadas nas mãos da polícia iraquiana e enviadas à sua sorte para a espera num hospital iraquiano sem qualquer garantia; que após o acontecimento as altas patentes norte-americanas tenham mentido deliberadamente para esconder o incidente; que o site que prestou o serviço público de divulgar este vídeo seja agora, e por esse motivo, considerado como um perigo para a segurança nacional pelo Pentágono.Se com a interpretação acima já desconfiávamos, ao afirmar que nesta guerra "não se distingue muito bem o inimigo...", JMO declara o seu lado da trincheira e, mais importante, retrata-nos involuntariamente a natureza imperialista desta guerra: o seu inimigo é em potência todo um povo.As "regras" da guerraMas a astúcia de JMO vai mais longe, "[n]ão queiram seguir as convenções normais do dia a dia mas sim as "regras" da guerra". Sim, de facto como há pessoas como o JMO é preciso prevenir e a guerra tem regras, que dizem por exemplo que os feridos que se arrastam no chão não podem ser abatidos e que deve ser garantido tratamento às crianças feridas.JMO está confortável, este foi apenas mais um aborrecido dia de chacina de inocentes: "[n]a minha leitura, isto apenas mostra o dia a dia da guerra e de como as armas estão mais eficazes". Aliás, este vídeo mostra bem a eficácia das armas sobre inocentes desarmados, mas JMO não se deixa impressionar e prossegue "[p]orque pensem: se este tipo de armas não estivesse possível, quantos casos de verdadeiros inocentes não estaríamos agora a criticar". Este tipo de armas está disponível e matou inocentes, mas JMO não se deixa que o seu raciocínio seja perturbado pela realidade.He-Man, ou como havia guerra antes do capitalismoComo a realidade dos factos não lhe interessa, JMO saca do bolso as suas referências históricas: "não se esqueçam que antigamente matava-se primeiro (ou napalm neles) e depois via-se quem era os inocentes". Aqui o nosso pistoleiro de algibeira volta a declarar o seu lado, não apenas se reportando ao presente mas deixando bem claro que se há tipos que são do Sporting de Braga desde pequeninos, JMO ainda não era nascido e já estava do lado dos cowboys. Mas a sua Histórica de albibeira não apaga os factos. É exactamente a existência destas armas que facilita e potencia a morte de civis, quer por factores tecnológicos quer por motivos psicológicos. Ao contrário da tecnologia bélica que acompanhou a maior parte da História da Humanidade, nos últimos séculos tornou-se possível matar à distância permitindo enganos (ou desejos) técnicos, mas também desumanizar a morte, torna-la invisível e conferir-lhe ainda um carácter quase lúdico.Os videogames também tem armas eficazes"Analisem as razões primeiro, as razões. Estamos a falar dos arredores de Bagdade, há três anos". Pois analisemos as razões primeiro, reportando-nos ainda às regras da guerra referidas por JMO. De facto, estes militares e toda a força cowboy e aliada invadiu o Iraque contra o direito internacional, usando uma mentira como justificação para essa violação da lei."Não julgue-mos os militares" (escreve-se sem hífen). Os que cometeram os actos no filme - e outros similares - devem ser claramente julgados, não um julgamento moral como parece ser sugerido, mas sim em tribunal próprio para o efeito. Mas de facto, a maior parte dos soldados cowboys são filhos de trabalhadores que também se viram despojados do seu próprio corpo e, sem outra opção, foram ganhar uns tostões para o exército para que a classe dirigente e dominante se deleite nos milhões gerados pela apropriação dos recursos naturais da Mesopotâmia. A estes, que são donos do sistema, ninguém senta no banco dos réus. Etiquetas: direitos humanos, guerra

O João Oliveira do alto da sua sapiência desafia-nos a reflectir "sobre se estas mortes são ou não razoáveis". Estou certo de que as vítimas inocentes e as suas famílias ficarão bem mais tranquilas se considerarmos estas mortes "razoáveis"! JMO dá o seu veredicto: "[d]epois de ver o filme, entendo perfeitamente que tenham sido mortes colaterais", é este o ponto de partida para a sua reflexão idiota.Interpretação freestylerJMO é dos duros, "[p]odiam não ter morrido mas a interpretação dos soldados no helicóptero era perfeitamente, na minha opinião, legítima". Não o incomoda portanto que tenham aberto fogo sobre quem não tinha qualquer arma ou disparou qualquer tiro; que tenham aberto fogo sobre quem recolhia um ferido; que veículos passem por cima dos cadáveres; que as crianças feridas tenham sido desencaminhadas de um hospital americano e colocadas nas mãos da polícia iraquiana e enviadas à sua sorte para a espera num hospital iraquiano sem qualquer garantia; que após o acontecimento as altas patentes norte-americanas tenham mentido deliberadamente para esconder o incidente; que o site que prestou o serviço público de divulgar este vídeo seja agora, e por esse motivo, considerado como um perigo para a segurança nacional pelo Pentágono.Se com a interpretação acima já desconfiávamos, ao afirmar que nesta guerra "não se distingue muito bem o inimigo...", JMO declara o seu lado da trincheira e, mais importante, retrata-nos involuntariamente a natureza imperialista desta guerra: o seu inimigo é em potência todo um povo.As "regras" da guerraMas a astúcia de JMO vai mais longe, "[n]ão queiram seguir as convenções normais do dia a dia mas sim as "regras" da guerra". Sim, de facto como há pessoas como o JMO é preciso prevenir e a guerra tem regras, que dizem por exemplo que os feridos que se arrastam no chão não podem ser abatidos e que deve ser garantido tratamento às crianças feridas.JMO está confortável, este foi apenas mais um aborrecido dia de chacina de inocentes: "[n]a minha leitura, isto apenas mostra o dia a dia da guerra e de como as armas estão mais eficazes". Aliás, este vídeo mostra bem a eficácia das armas sobre inocentes desarmados, mas JMO não se deixa impressionar e prossegue "[p]orque pensem: se este tipo de armas não estivesse possível, quantos casos de verdadeiros inocentes não estaríamos agora a criticar". Este tipo de armas está disponível e matou inocentes, mas JMO não se deixa que o seu raciocínio seja perturbado pela realidade.He-Man, ou como havia guerra antes do capitalismoComo a realidade dos factos não lhe interessa, JMO saca do bolso as suas referências históricas: "não se esqueçam que antigamente matava-se primeiro (ou napalm neles) e depois via-se quem era os inocentes". Aqui o nosso pistoleiro de algibeira volta a declarar o seu lado, não apenas se reportando ao presente mas deixando bem claro que se há tipos que são do Sporting de Braga desde pequeninos, JMO ainda não era nascido e já estava do lado dos cowboys. Mas a sua Histórica de albibeira não apaga os factos. É exactamente a existência destas armas que facilita e potencia a morte de civis, quer por factores tecnológicos quer por motivos psicológicos. Ao contrário da tecnologia bélica que acompanhou a maior parte da História da Humanidade, nos últimos séculos tornou-se possível matar à distância permitindo enganos (ou desejos) técnicos, mas também desumanizar a morte, torna-la invisível e conferir-lhe ainda um carácter quase lúdico.Os videogames também tem armas eficazes"Analisem as razões primeiro, as razões. Estamos a falar dos arredores de Bagdade, há três anos". Pois analisemos as razões primeiro, reportando-nos ainda às regras da guerra referidas por JMO. De facto, estes militares e toda a força cowboy e aliada invadiu o Iraque contra o direito internacional, usando uma mentira como justificação para essa violação da lei."Não julgue-mos os militares" (escreve-se sem hífen). Os que cometeram os actos no filme - e outros similares - devem ser claramente julgados, não um julgamento moral como parece ser sugerido, mas sim em tribunal próprio para o efeito. Mas de facto, a maior parte dos soldados cowboys são filhos de trabalhadores que também se viram despojados do seu próprio corpo e, sem outra opção, foram ganhar uns tostões para o exército para que a classe dirigente e dominante se deleite nos milhões gerados pela apropriação dos recursos naturais da Mesopotâmia. A estes, que são donos do sistema, ninguém senta no banco dos réus. Etiquetas: direitos humanos, guerra

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