O valor das ideias: Desemprego estrutural desde 98: governos PS e governo PSD

19-12-2009
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A Maria João Marques apresentou aqui um gráfico em que compara a população registada como desempregada há mais de um ano em 2009 com a de 2004. E conclui, que, assim medido, o desemprego estrutural, ou de longa duração subiu de 182,4 mil para 215 mil pessoas. Acrescenta a autora uma frase, alegando que, pelo facto de se tratar de desempregados há mais de um ano, esta evolução nada tem a ver com a crise económica internacional. A implicação é que a culpa seria do governo PS.Com toda a franqueza, isto não é uma forma séria de conduzir o debate. Nem político, nem económico. Por uma variedade de razões:a) se alguém está desempregado há mais de um ano ou há 3 meses apenas, é irrelevante do ponto de vista da crise económica internacional: a crise existe na actualidade, e se esse indivíduo permanece desempregado é porque não consegue encontrar emprego no momento presente (quando a crise se está a fazer sentir). A falácia no raciocínio da Maria João passa por considerar que ter iniciado o desemprego há mais de um ano, e ainda não o ter terminado implica que ele está desempregado por razões não relacionadas com a crise. Como é óbvio, isto não faz sentido! Porque o que determina a saída do desemprego é a situação no momento em que essa saída é avaliada. E com dados de 2009, cara Maria João, é mais difícil para qualquer pessoa ter uma saída para o desemprego;b) em segundo lugar, a Maria João parece pensar que a crise começou há menos tempo do que começou de facto. Nessa linha cai no mesmo erro do Banco Central Europeu, com a diferença de eles já o terem admitido. O problema é que se os sinais da crise estouraram em Setembro, a crise internacional já se sentia no início do Verão de 2008. E até antes, se pensarmos que o primeiro banco a colapsar foi o Bear Sterns, em Março de 2008, seis meses antes do Lehman Brothers.c) mesmo que nada disto relevasse, a Maria João Marques está a olhar para os números errados. Eu sugeria-lhe que consultasse o Anuário Estatístico referente ao ano de 2007 (INE). O gráfico acima é retirado de lá, e interessa-nos apenas a linha a castanho: peso no desemprego do desemprego estrutural (lido no eixo da direita), que é o que a Maria João quer imputar ao governo do PS. A descrição do andamento do desemprego estrutural em Portugal, arruina, contudo, qualquer possibilidade de o fazer .1. Nos anos em que António Guterres e o Partido Socialista estiveram no governo, há uma clara tendência de descida do desemprego estrutural. De facto, o peso do desemprego de longa duração cai cerca de 10 pontos entre 1998 e 2002, apanhando já o primeiro ano do governo Barroso.2. Mas por amor de Deus, olhem por favor a subida do peso do desemprego estrutural entre 2002 e 2005. Quando José Sócrates chega ao poder, o peso do desemprego estrutural no total do desemprego tinha disparado quase 15 pontos percentuais! Estava a um nível superior ao de 1998. Cara Maria João Marques, foi este o contributo do Governo Durão Barros / Santana Lopes, durante o qual Manuela Ferreira Leite foi ministra das finanças a maior parte do tempo, para o bem estar dos portugueses!!3. Não exite uma recessão internacional a justificar este fenómeno. Grande parte do problema foi auto-induzido pelas medidas tomadas por Manuela Ferreira Leite no primeiro ano de Barroso. É compreensível que o encarecimento dos produtos com a subida da taxa de IVA em 2 pontos, acrescido de congelamentos reais de carreiras, tenham levado a quebras de encomendas que produziram o resultado que se vê.4.Entre 2006 e o final de 2007, o Governo José Sócrates tinha conseguido inverter a tendência. O peso do desemprego de longa duração estava em clara descida no desemprego total.O problema é que isto não são números para o PSD brincar a tentar ganhar eleições, manipulando leitura de dados [no sentido de deles fazer leituras incorrectas]. O problema, diferentemente, é que isto são pessoas. E a entrada numa espital de desemprego de longo prazo é muito complexa. Porque diversos estudos mostram que é tanto mais difícil saír do desemprego, quanto mais tempo se permancer nele. Daí a urgência de uma política económica pró-activa que combata o problema. Em lugar de esperar sentado, que as divinas forças de mercado o resolvam.Daí a urgência do investimento público não mais adiado.


A Maria João Marques apresentou aqui um gráfico em que compara a população registada como desempregada há mais de um ano em 2009 com a de 2004. E conclui, que, assim medido, o desemprego estrutural, ou de longa duração subiu de 182,4 mil para 215 mil pessoas. Acrescenta a autora uma frase, alegando que, pelo facto de se tratar de desempregados há mais de um ano, esta evolução nada tem a ver com a crise económica internacional. A implicação é que a culpa seria do governo PS.Com toda a franqueza, isto não é uma forma séria de conduzir o debate. Nem político, nem económico. Por uma variedade de razões:a) se alguém está desempregado há mais de um ano ou há 3 meses apenas, é irrelevante do ponto de vista da crise económica internacional: a crise existe na actualidade, e se esse indivíduo permanece desempregado é porque não consegue encontrar emprego no momento presente (quando a crise se está a fazer sentir). A falácia no raciocínio da Maria João passa por considerar que ter iniciado o desemprego há mais de um ano, e ainda não o ter terminado implica que ele está desempregado por razões não relacionadas com a crise. Como é óbvio, isto não faz sentido! Porque o que determina a saída do desemprego é a situação no momento em que essa saída é avaliada. E com dados de 2009, cara Maria João, é mais difícil para qualquer pessoa ter uma saída para o desemprego;b) em segundo lugar, a Maria João parece pensar que a crise começou há menos tempo do que começou de facto. Nessa linha cai no mesmo erro do Banco Central Europeu, com a diferença de eles já o terem admitido. O problema é que se os sinais da crise estouraram em Setembro, a crise internacional já se sentia no início do Verão de 2008. E até antes, se pensarmos que o primeiro banco a colapsar foi o Bear Sterns, em Março de 2008, seis meses antes do Lehman Brothers.c) mesmo que nada disto relevasse, a Maria João Marques está a olhar para os números errados. Eu sugeria-lhe que consultasse o Anuário Estatístico referente ao ano de 2007 (INE). O gráfico acima é retirado de lá, e interessa-nos apenas a linha a castanho: peso no desemprego do desemprego estrutural (lido no eixo da direita), que é o que a Maria João quer imputar ao governo do PS. A descrição do andamento do desemprego estrutural em Portugal, arruina, contudo, qualquer possibilidade de o fazer .1. Nos anos em que António Guterres e o Partido Socialista estiveram no governo, há uma clara tendência de descida do desemprego estrutural. De facto, o peso do desemprego de longa duração cai cerca de 10 pontos entre 1998 e 2002, apanhando já o primeiro ano do governo Barroso.2. Mas por amor de Deus, olhem por favor a subida do peso do desemprego estrutural entre 2002 e 2005. Quando José Sócrates chega ao poder, o peso do desemprego estrutural no total do desemprego tinha disparado quase 15 pontos percentuais! Estava a um nível superior ao de 1998. Cara Maria João Marques, foi este o contributo do Governo Durão Barros / Santana Lopes, durante o qual Manuela Ferreira Leite foi ministra das finanças a maior parte do tempo, para o bem estar dos portugueses!!3. Não exite uma recessão internacional a justificar este fenómeno. Grande parte do problema foi auto-induzido pelas medidas tomadas por Manuela Ferreira Leite no primeiro ano de Barroso. É compreensível que o encarecimento dos produtos com a subida da taxa de IVA em 2 pontos, acrescido de congelamentos reais de carreiras, tenham levado a quebras de encomendas que produziram o resultado que se vê.4.Entre 2006 e o final de 2007, o Governo José Sócrates tinha conseguido inverter a tendência. O peso do desemprego de longa duração estava em clara descida no desemprego total.O problema é que isto não são números para o PSD brincar a tentar ganhar eleições, manipulando leitura de dados [no sentido de deles fazer leituras incorrectas]. O problema, diferentemente, é que isto são pessoas. E a entrada numa espital de desemprego de longo prazo é muito complexa. Porque diversos estudos mostram que é tanto mais difícil saír do desemprego, quanto mais tempo se permancer nele. Daí a urgência de uma política económica pró-activa que combata o problema. Em lugar de esperar sentado, que as divinas forças de mercado o resolvam.Daí a urgência do investimento público não mais adiado.

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