O Cachimbo de Magritte: Saint-Pierre

31-05-2010
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Há dois dias teve lugar a apresentação do livro "Os Grandes Mestres da Estratégia - Estudos sobre o poder da Guerra e da Paz", editado por Guilherme d'Oliveira Martins e Ana Paula Garcês, pela Almedina. Ainda não tive a oportunidade de folheá-lo, por isso limito-me a informar quem esteja interessado que contribuí com um capítulo para este volume. Escrevi sobre um homem esquecido: Castel de Saint-Pierre, o homem que, no início do século XVIII, provavelmente inventou a ideia de "Paz Perpétua". Ou muito me engano, ou foi o primeiro a usar a expressão "União Europeia", e, para o bem e para o mal, a nossa União Europeia tem com certeza Saint-Pierre como um dos seus pais fundadores.Aprende-se muito com Saint-Pierre. Mas há um ponto particularmente interessante. É que a interpretação mais vulgar dos nossos dias apresenta Hobbes e Kant como extremos opostos na visão da guerra e da paz. No auge da crise política no Ocidente em torno da preparação da invasão do Iraque, havia quem dissesse que os Americanos viviam num mundo "hobbesiano", ao passo que os Europeus viviam num mundo "kantiano". E essa análise tinha como propósito mostrar que Americanos e Europeus estavam muito afastados. Ora a dita análise sempre me pareceu manca. Que existe um certo "hobbismo" na filosofia política de Kant, parece-me indiscutível. Porém, com Saint-Pierre percebemos que o próprio projecto da "paz perpétua" tem raízes muito mais "hobbesianas" do que à primeira vista seria de supor. E que o desígnio da filosofia política moderna, pelo menos até chegarmos à Revolução francesa, é mais consistente do que parece.


Há dois dias teve lugar a apresentação do livro "Os Grandes Mestres da Estratégia - Estudos sobre o poder da Guerra e da Paz", editado por Guilherme d'Oliveira Martins e Ana Paula Garcês, pela Almedina. Ainda não tive a oportunidade de folheá-lo, por isso limito-me a informar quem esteja interessado que contribuí com um capítulo para este volume. Escrevi sobre um homem esquecido: Castel de Saint-Pierre, o homem que, no início do século XVIII, provavelmente inventou a ideia de "Paz Perpétua". Ou muito me engano, ou foi o primeiro a usar a expressão "União Europeia", e, para o bem e para o mal, a nossa União Europeia tem com certeza Saint-Pierre como um dos seus pais fundadores.Aprende-se muito com Saint-Pierre. Mas há um ponto particularmente interessante. É que a interpretação mais vulgar dos nossos dias apresenta Hobbes e Kant como extremos opostos na visão da guerra e da paz. No auge da crise política no Ocidente em torno da preparação da invasão do Iraque, havia quem dissesse que os Americanos viviam num mundo "hobbesiano", ao passo que os Europeus viviam num mundo "kantiano". E essa análise tinha como propósito mostrar que Americanos e Europeus estavam muito afastados. Ora a dita análise sempre me pareceu manca. Que existe um certo "hobbismo" na filosofia política de Kant, parece-me indiscutível. Porém, com Saint-Pierre percebemos que o próprio projecto da "paz perpétua" tem raízes muito mais "hobbesianas" do que à primeira vista seria de supor. E que o desígnio da filosofia política moderna, pelo menos até chegarmos à Revolução francesa, é mais consistente do que parece.

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