O Cachimbo de Magritte: Ética republicana

23-12-2009
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Em qualquer país civilizado, a pantomina do estudo-da-OCDE-que-afinal-não-era-da-OCDE (ontem, no 31 da Armada) faria rolar cabeças. A de quem encomendou o "estudo", pelo menos. A de Sócrates, se foi Sócrates. A da Ministra da Educação, se foi a Ministra. Porque a verdade, a verdadinha, por mais voltas que se dê, é que o Primeiro-Ministro usou o dinheiro dos nossos impostos para nos mentir.Eu sei que a frase já não causa grande efeito, mas vou tentar outra vez: o Primeiro-Ministro usou o dinheiro dos nossos impostos para nos mentir.Sou suspeito, também sei: tenho a vaga mania de não gostar de impostos. Mas acreditem que pago os meus e, portanto, tenho igualmente o direito de não gostar que o Estado os use para me aldrabar. OK, é outra mania, esta de não gostar de ser aldrabado.Acontece que Portugal não é um país qualquer e há sérias dúvidas de que, sem o TGV, possa vir a ser civilizado. O IKEA não chega.Este é o país em que o Banco central faz previsões económicas à medida das necessidades do Governo. Este é o país em que o Governo faz orçamentos rectificativos à medida que falham todas as previsões do Banco central. Este é o país em que o Ministério Público tem há quatro anos um processo sobre corrupção que envolve o Primeiro-Ministro, e não acontece nada. Este é o país em que o Bastonário da Ordem dos Advogados acusa uma busca do Ministério Público de "terrorismo de Estado", e fica tudo na mesma. Este é o país em que o Primeiro-Ministro insinua que os tribunais ingleses andam às ordens da oposição, e dá-nos vontade de rir. Este é o país em que o líder de uma distrital do maior partido da oposição dá sentenças sobre a investigação de um crime grave, como se fosse um jogo de futebol. Para não falar do futebol propriamente (propriamente?) dito.Se querem discorrer sobre a crise, aí têm a crise. Dos tribunais aos partidos, não há hoje uma única instituição pública que mereça a nossa confiança. E depois queixem-se dos taxistas, do Pacheco Pereira, da distância entre eleitores e eleitos e do fim da ética republicana.Resta saber se, para Sócrates, mentir é um hábito ou é uma política. E se ele distingue entre as duas coisas. Em qualquer dos casos, quando nos vierem outra vez com a ética republicana - já sabem qual é a resposta.


Em qualquer país civilizado, a pantomina do estudo-da-OCDE-que-afinal-não-era-da-OCDE (ontem, no 31 da Armada) faria rolar cabeças. A de quem encomendou o "estudo", pelo menos. A de Sócrates, se foi Sócrates. A da Ministra da Educação, se foi a Ministra. Porque a verdade, a verdadinha, por mais voltas que se dê, é que o Primeiro-Ministro usou o dinheiro dos nossos impostos para nos mentir.Eu sei que a frase já não causa grande efeito, mas vou tentar outra vez: o Primeiro-Ministro usou o dinheiro dos nossos impostos para nos mentir.Sou suspeito, também sei: tenho a vaga mania de não gostar de impostos. Mas acreditem que pago os meus e, portanto, tenho igualmente o direito de não gostar que o Estado os use para me aldrabar. OK, é outra mania, esta de não gostar de ser aldrabado.Acontece que Portugal não é um país qualquer e há sérias dúvidas de que, sem o TGV, possa vir a ser civilizado. O IKEA não chega.Este é o país em que o Banco central faz previsões económicas à medida das necessidades do Governo. Este é o país em que o Governo faz orçamentos rectificativos à medida que falham todas as previsões do Banco central. Este é o país em que o Ministério Público tem há quatro anos um processo sobre corrupção que envolve o Primeiro-Ministro, e não acontece nada. Este é o país em que o Bastonário da Ordem dos Advogados acusa uma busca do Ministério Público de "terrorismo de Estado", e fica tudo na mesma. Este é o país em que o Primeiro-Ministro insinua que os tribunais ingleses andam às ordens da oposição, e dá-nos vontade de rir. Este é o país em que o líder de uma distrital do maior partido da oposição dá sentenças sobre a investigação de um crime grave, como se fosse um jogo de futebol. Para não falar do futebol propriamente (propriamente?) dito.Se querem discorrer sobre a crise, aí têm a crise. Dos tribunais aos partidos, não há hoje uma única instituição pública que mereça a nossa confiança. E depois queixem-se dos taxistas, do Pacheco Pereira, da distância entre eleitores e eleitos e do fim da ética republicana.Resta saber se, para Sócrates, mentir é um hábito ou é uma política. E se ele distingue entre as duas coisas. Em qualquer dos casos, quando nos vierem outra vez com a ética republicana - já sabem qual é a resposta.

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