O Número Primo: Ainda acerca dos cartoons

20-05-2011
marcar artigo

«O Conselho Islâmico Britânico (CIB) já veio dizer que nada tem a ver com esse grupo de pessoas. Deveria fazer uma condenação mais clara dessas atitudes. Parece evidente que quem leva a cabo tais manifestações são os grupos radicais organizados, que aproveitam o pretexto para promoverem a sua agenda. E por isso mesmo, uma organização como o CIB deveria fazer o máximo por se distanciar dessas pessoas. Até por um aspecto que raramente é tido em conta: os imigrantes muçulmanos que, na realidade, querem gozar das liberdades do mundo ocidental, são prejudicados pela condescendência que as autoridades têm perante esses grupos radicais que vêem o Ocidente como a encarnação do Mal. Veja-se o que acontece em França, onde a diminuta mobilidade social condena quem deseja viver em França para beneficiar de um modo de vida mais livre que o das ditaduras islâmicas, no fundo, quem deseja "ser francês", a viver à mercê de quem foi para França, mas que abomina e contraria um estilo de vida que é a base das nossas sociedades. Condena-os a ficar à mercê de quem odeia a liberdade, à mercê de quem, em virtude da condescendência ocidental, impõe nos bairros onde vivem uma "lei" que vai contra a lei do Estado francês, que é intolerável à luz de tudo aquilo em que as nossas sociedades se baseiam».Bruno Alves no Desesperada Esperança.----------«Quando liberdade de expressão entra em conflito com a decência do discurso, o Estado tem que defender a liberdade de expressão. A falta de decência pode ser criticada, abertamente, mas sem ameaças de morte. Quando há uma ameaça de morte, o Estado tem de defender o ameaçado, não quem ameaça.Não para tomar um lado no debate, mas para proteger os intervenientes da violência e garantir que a discussão (e liberdade de expressão significa discussão e não consenso) decorre em moldes pacíficos.Não há Estados neutros porque nada é neutro. O liberalismo não é neutro porque exige tolerância mútua e rejeita o recurso à violência. Mas estes são os nossos valores (tolerância, convivência, diálogo não-violento) e há que defendê-los contra quem não os tem: neste caso as associações islamistas. Defendê-los sem vergonha.A Europa pode aceitar imigrantes islâmicos, que sejam praticantes, que abram e frequentem mesquitas. Eu acho que deve até fazê-lo. Deve, até, digo eu, acolher a Turquia. Mas estes terão que aceitar as regras européias da tolerância mútua, o ideal Ocidental da sociedade cosmopolita.Antes disso, será, no entanto, preciso que os Europeus comecem também a defender estes ideais porque andamos a viver deles, mas já não os defendemos como uma terceira geração que vive à custa da fortuna que os avós trabalharam duro para acumular sem perceber que um dia acabará o dinheiro. A nós, um dia, se não a defendermos, acabar-se-á a liberdade que os nossos avós acumularam».Luís Pedro, no Rabbit's blog.----------«Odeio fanatismos, religiosos ou outros. Mas nos tempos em que vivemos será sensato contribuir para o confronto religioso? Aqui penso ser importante distinguir entre ter razão e ser razoável (negrito meu). O jornal dinamarquês e a maioria daqueles que celebram a coragem e firmeza perante valores basilares do nosso sistema politico têm toda a razão em desprezar e rejeitar os fanáticos e suas ameaças ignóbeis -elas sao inaceitáveis, bárbaras, medievais e tudo o mais. Mas para além de tudo isso elas são sobretudo reais, e aí a razão pode pouco e nao há Kantianismo que nos valha. Os valores e os direitos são deste mundo e têm a importância que os humanos lhe atribuem. O problema é que os fanáticos existem, e nós com eles. A publicação dos cartoons pode ter afirmado o valor da liberdade, mas esqueceu-se da segurança, e sem esta a primeira serve de pouco».João Galamba, no metablog.----------«Para resumir: julgo que o escândalo dos muçulmanos não nos obriga a nada. Os seus protestos não nos devem repugnar. Mas devemos proteger-nos sem hesitações, e sem imaginar que somos superiores».Luís M. Jorge, no Franco Atirador.----------«Hoje, quando circulava na marginal da Foz, dois «transeuntes» que se passeavam acompanhados por cães de «elevado calibre» - um rottweiler e um boxer - cruzaram-se. Em vez de seguir em frente, fazendo uso da minha liberdade de circulação, optei pela solução mais segura: atravessei a rua.Certamente que os cidadãos que se fazem acompanhar de cães perigosos não deveriam circular ao domingo numa zona de grande afluência; e, óbvio, teria todo o direito de seguir em frente. Só que fiz um juízo de valor e, dadas as circunstâncias, pareceu-me que o momento não seria o mais oportuno para fazer uma dissertação sobre «liberdades básicas».Em 2002, na Tanzânia, eu e uns amigos fomos «convidados a sair» de uma mesquita, porque supostamente a nossa mera presença foi considerada desrespeitosa. Pareceu-nos, também, que o melhor seria sair discretamente. Ao longo dos mil quilómetros de estrada que fizemos no Quénia e na Tanzânia, desde Nairobi, passando pela planície do Serengeti, até ao Kilimanjaro, houve momentos em que por questões de segurança a nossa opção passou por limitar a «liberdade de expressão». Em duas situações, a nossa expressão de liberdade limitou-se à rápida colocação da Toyota Hiace em movimento... O Ocidente tem conseguido compatibililizar os valores essenciais da liberdade e da tolerância, retirando uma boa parte do atrito que necessariamente se gera quando procurámos conciliá-los. Só que o mundo mudou, e hoje assistimos a um choque de civilizações complexo, que nos deve fazer pensar no modo como agimos, na forma como exercemos as nossas liberdades. De nada nos vale afirmar a liberdade de expressão, como liberdade negativa, se isso põe em causa a nossa segurança. Sobretudo quando na balança a restrição da nossa liberdade, aqui, apenas se limita a utilizá-la com prudência, e o valor que se atinge com esta limitação é a salvaguarda da paz (na linha de I. Berlin). Existem momentos em que temos de saber se seguimos em frente, ou se atravessamos a rua. Eu, da minha parte, prefiro evoluir para uma sociedade que usa as suas liberdades com prudência e inteligência, procurando com persistência ganhar a batalha cultural com o Islão, do que afirmar de uma forma quixotesca a supremacia dos valores ocidentais, que nos está a encaminhar para ódios inultrapassáveis e para uma potencial guerra». Rodrigo Adão da Fonseca, no Bluelounge.

«O Conselho Islâmico Britânico (CIB) já veio dizer que nada tem a ver com esse grupo de pessoas. Deveria fazer uma condenação mais clara dessas atitudes. Parece evidente que quem leva a cabo tais manifestações são os grupos radicais organizados, que aproveitam o pretexto para promoverem a sua agenda. E por isso mesmo, uma organização como o CIB deveria fazer o máximo por se distanciar dessas pessoas. Até por um aspecto que raramente é tido em conta: os imigrantes muçulmanos que, na realidade, querem gozar das liberdades do mundo ocidental, são prejudicados pela condescendência que as autoridades têm perante esses grupos radicais que vêem o Ocidente como a encarnação do Mal. Veja-se o que acontece em França, onde a diminuta mobilidade social condena quem deseja viver em França para beneficiar de um modo de vida mais livre que o das ditaduras islâmicas, no fundo, quem deseja "ser francês", a viver à mercê de quem foi para França, mas que abomina e contraria um estilo de vida que é a base das nossas sociedades. Condena-os a ficar à mercê de quem odeia a liberdade, à mercê de quem, em virtude da condescendência ocidental, impõe nos bairros onde vivem uma "lei" que vai contra a lei do Estado francês, que é intolerável à luz de tudo aquilo em que as nossas sociedades se baseiam».Bruno Alves no Desesperada Esperança.----------«Quando liberdade de expressão entra em conflito com a decência do discurso, o Estado tem que defender a liberdade de expressão. A falta de decência pode ser criticada, abertamente, mas sem ameaças de morte. Quando há uma ameaça de morte, o Estado tem de defender o ameaçado, não quem ameaça.Não para tomar um lado no debate, mas para proteger os intervenientes da violência e garantir que a discussão (e liberdade de expressão significa discussão e não consenso) decorre em moldes pacíficos.Não há Estados neutros porque nada é neutro. O liberalismo não é neutro porque exige tolerância mútua e rejeita o recurso à violência. Mas estes são os nossos valores (tolerância, convivência, diálogo não-violento) e há que defendê-los contra quem não os tem: neste caso as associações islamistas. Defendê-los sem vergonha.A Europa pode aceitar imigrantes islâmicos, que sejam praticantes, que abram e frequentem mesquitas. Eu acho que deve até fazê-lo. Deve, até, digo eu, acolher a Turquia. Mas estes terão que aceitar as regras européias da tolerância mútua, o ideal Ocidental da sociedade cosmopolita.Antes disso, será, no entanto, preciso que os Europeus comecem também a defender estes ideais porque andamos a viver deles, mas já não os defendemos como uma terceira geração que vive à custa da fortuna que os avós trabalharam duro para acumular sem perceber que um dia acabará o dinheiro. A nós, um dia, se não a defendermos, acabar-se-á a liberdade que os nossos avós acumularam».Luís Pedro, no Rabbit's blog.----------«Odeio fanatismos, religiosos ou outros. Mas nos tempos em que vivemos será sensato contribuir para o confronto religioso? Aqui penso ser importante distinguir entre ter razão e ser razoável (negrito meu). O jornal dinamarquês e a maioria daqueles que celebram a coragem e firmeza perante valores basilares do nosso sistema politico têm toda a razão em desprezar e rejeitar os fanáticos e suas ameaças ignóbeis -elas sao inaceitáveis, bárbaras, medievais e tudo o mais. Mas para além de tudo isso elas são sobretudo reais, e aí a razão pode pouco e nao há Kantianismo que nos valha. Os valores e os direitos são deste mundo e têm a importância que os humanos lhe atribuem. O problema é que os fanáticos existem, e nós com eles. A publicação dos cartoons pode ter afirmado o valor da liberdade, mas esqueceu-se da segurança, e sem esta a primeira serve de pouco».João Galamba, no metablog.----------«Para resumir: julgo que o escândalo dos muçulmanos não nos obriga a nada. Os seus protestos não nos devem repugnar. Mas devemos proteger-nos sem hesitações, e sem imaginar que somos superiores».Luís M. Jorge, no Franco Atirador.----------«Hoje, quando circulava na marginal da Foz, dois «transeuntes» que se passeavam acompanhados por cães de «elevado calibre» - um rottweiler e um boxer - cruzaram-se. Em vez de seguir em frente, fazendo uso da minha liberdade de circulação, optei pela solução mais segura: atravessei a rua.Certamente que os cidadãos que se fazem acompanhar de cães perigosos não deveriam circular ao domingo numa zona de grande afluência; e, óbvio, teria todo o direito de seguir em frente. Só que fiz um juízo de valor e, dadas as circunstâncias, pareceu-me que o momento não seria o mais oportuno para fazer uma dissertação sobre «liberdades básicas».Em 2002, na Tanzânia, eu e uns amigos fomos «convidados a sair» de uma mesquita, porque supostamente a nossa mera presença foi considerada desrespeitosa. Pareceu-nos, também, que o melhor seria sair discretamente. Ao longo dos mil quilómetros de estrada que fizemos no Quénia e na Tanzânia, desde Nairobi, passando pela planície do Serengeti, até ao Kilimanjaro, houve momentos em que por questões de segurança a nossa opção passou por limitar a «liberdade de expressão». Em duas situações, a nossa expressão de liberdade limitou-se à rápida colocação da Toyota Hiace em movimento... O Ocidente tem conseguido compatibililizar os valores essenciais da liberdade e da tolerância, retirando uma boa parte do atrito que necessariamente se gera quando procurámos conciliá-los. Só que o mundo mudou, e hoje assistimos a um choque de civilizações complexo, que nos deve fazer pensar no modo como agimos, na forma como exercemos as nossas liberdades. De nada nos vale afirmar a liberdade de expressão, como liberdade negativa, se isso põe em causa a nossa segurança. Sobretudo quando na balança a restrição da nossa liberdade, aqui, apenas se limita a utilizá-la com prudência, e o valor que se atinge com esta limitação é a salvaguarda da paz (na linha de I. Berlin). Existem momentos em que temos de saber se seguimos em frente, ou se atravessamos a rua. Eu, da minha parte, prefiro evoluir para uma sociedade que usa as suas liberdades com prudência e inteligência, procurando com persistência ganhar a batalha cultural com o Islão, do que afirmar de uma forma quixotesca a supremacia dos valores ocidentais, que nos está a encaminhar para ódios inultrapassáveis e para uma potencial guerra». Rodrigo Adão da Fonseca, no Bluelounge.

marcar artigo