Nem sombreros nem cocos protegeram Governo do ataque da oposição

02-05-2010
marcar artigo

Foi uma longa tarde de debate em São Bento em que quase só se falou da crise, dos ratings, do PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento), das ironias ao bloco central "renascido e revigorado", e em que se ouviram metáforas com sombreros e chapéus de coco para proteger o país. A oposição, à direita, esforçou-se, em várias frentes, por pressionar o Governo a desistir de grandes obras como o TGV entre Lisboa e Madrid. Mas o mais que ouviu, da parte do ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, foi que o Governo iria avançar com um novo modelo para o novo aeroporto e que o TGV era mesmo para construir. Nem o derradeiro pedido de "pare, escute e olhe" de Paulo Portas, líder do CDS, que pediu o debate de urgência, surtiu efeito. A essa hora já o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, tinha anunciado quais os projectos a repensar. O TGV não era um deles, afinal (ver texto principal).

No capítulo da crise dos ratings e do acordo Sócrates-Passos Coelho para responder ao "ataque especulativo", assistiu-se a um "aquecimento" para o debate quinzenal com o primeiro-ministro, hoje de manhã. Jorge Lacão disse que haveria propostas para o combate à crise, dado que Sócrates abordaria as "condições de execução do PEC". Ao CDS, acusado pela esquerda de ter marcado o debate de urgência por despeito de não ter ficado "na foto" da cimeira PS/PSD, o ministro abriu a porta - "uma oportunidade" - para entrar neste entendimento entre partidos pró-Europa. Os sinais não foram claros da parte de Portas.

A discussão, tantas vezes acesa, começou ainda no período das intervenções políticas. O deputado do PSD Miguel Frasquilho subiu à tribuna para dizer que o seu partido está disposto a colaborar no combate à crise, mas recusou que isso de faça através de aumentos de impostos e com os "grandes investimentos". E não deixou de apontar responsabilidades ao Governo de Sócrates. Três erros foram apontados: a "redução artificial do défice" de 2005 a 2007, o "brutal aumento da carga fiscal" e o fracasso do PRACE. Erros, lembrou, para os quais o PSD alertou e que o PS "não quis ouvir".

Doravante, das declarações políticas ao debate de urgência, era esta a tónica, embora com nuances diferentes. O PCP, através de Bernardino Soares, fez dez perguntas à maioria socialista, mas não ouviu respostas. A começar pelas previsões quanto ao comportamento de Portugal no euro, em "combater a crise com medidas que são a sua causa", como "afundar" o crescimento económico através de cortes no investimento, ou de cortes nos salários. Ou ainda criticando a União Europeia por "não pôr fim às movimentações do capital financeiro especulativo". Sérgio Sousa Pinto, do PS, respondeu que o PCP tinha a mesma linha ideológica, nostálgica de sempre, questionando o que aconteceria se Portugal não estivesse na UE e no euro. Foi o que lhe valeu a tirada irónica de Bernardino Soares, que gracejou com o "chapéu" para "nos proteger": "Em vez de um sombrero, é um chapéu de coco e muito pequenino."

A conversa avançava. O Bloco de Esquerda, através de José Manuel Pureza, acusou PS e PSD de porem os desempregados a pagar e crise. "Foi esse o sinal deste Bloco Central renascido e revigorado." E não poupou nas críticas, nisso partilhadas também pelo PCP e até por João Galamba, do PS, às agências de rating, lembrando que a Standard&Poor"s deu nota máxima ao Lehman Brothers "dois dias antes de ir à falência".

O melhor do Público no email Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subscrever ×

Chegou depois a vez de o CDS abrir o debate de urgência, já com Jorge Lacão na sala. Paulo Portas começou por dizer que um "ataque especulativo à dívida é um ataque ao Estado no seu todo" a exigir uma resposta patriótica. Depois, partiu para as críticas ao Governo e às propostas. As críticas por o PS e o Governo terem escondido do país a verdadeira situação do défice na campanha eleitoral. Depois, com propostas. Sugerindo a suspensão total do TGV e a reprogramação do novo aeroporto, com um custo estimado de 11 mil milhões de euros. "Dinheiro que o país não tem no bolso." Repensar a terceira ponte sobre o Tejo e uma reavaliação das concessões rodoviárias. Lacão a tudo disse que o ministro das Obras Públicas iria responder mais tarde, mas que o Estado iria cumprir os seus compromissos. Ou seja, nada de alterações substanciais de rumo.

O empréstimo à Grécia, a proposta do Governo sobre a tributação das mais-valias e a criação de um novo escalão de 45 por cento no IRS serão discutidos no Parlamento no próximo 27 de Maio. O agendamento foi feito ontem em conferência de líderes. No mesmo dia será também debatida a ajuda financeira para a reconstrução da Madeira prevista na chamada lei de meios. com S.R.

Paulo Portas defendeu a suspensão total do TGV e a reprogramação do novo aeroporto internacional

Foi uma longa tarde de debate em São Bento em que quase só se falou da crise, dos ratings, do PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento), das ironias ao bloco central "renascido e revigorado", e em que se ouviram metáforas com sombreros e chapéus de coco para proteger o país. A oposição, à direita, esforçou-se, em várias frentes, por pressionar o Governo a desistir de grandes obras como o TGV entre Lisboa e Madrid. Mas o mais que ouviu, da parte do ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, foi que o Governo iria avançar com um novo modelo para o novo aeroporto e que o TGV era mesmo para construir. Nem o derradeiro pedido de "pare, escute e olhe" de Paulo Portas, líder do CDS, que pediu o debate de urgência, surtiu efeito. A essa hora já o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, tinha anunciado quais os projectos a repensar. O TGV não era um deles, afinal (ver texto principal).

No capítulo da crise dos ratings e do acordo Sócrates-Passos Coelho para responder ao "ataque especulativo", assistiu-se a um "aquecimento" para o debate quinzenal com o primeiro-ministro, hoje de manhã. Jorge Lacão disse que haveria propostas para o combate à crise, dado que Sócrates abordaria as "condições de execução do PEC". Ao CDS, acusado pela esquerda de ter marcado o debate de urgência por despeito de não ter ficado "na foto" da cimeira PS/PSD, o ministro abriu a porta - "uma oportunidade" - para entrar neste entendimento entre partidos pró-Europa. Os sinais não foram claros da parte de Portas.

A discussão, tantas vezes acesa, começou ainda no período das intervenções políticas. O deputado do PSD Miguel Frasquilho subiu à tribuna para dizer que o seu partido está disposto a colaborar no combate à crise, mas recusou que isso de faça através de aumentos de impostos e com os "grandes investimentos". E não deixou de apontar responsabilidades ao Governo de Sócrates. Três erros foram apontados: a "redução artificial do défice" de 2005 a 2007, o "brutal aumento da carga fiscal" e o fracasso do PRACE. Erros, lembrou, para os quais o PSD alertou e que o PS "não quis ouvir".

Doravante, das declarações políticas ao debate de urgência, era esta a tónica, embora com nuances diferentes. O PCP, através de Bernardino Soares, fez dez perguntas à maioria socialista, mas não ouviu respostas. A começar pelas previsões quanto ao comportamento de Portugal no euro, em "combater a crise com medidas que são a sua causa", como "afundar" o crescimento económico através de cortes no investimento, ou de cortes nos salários. Ou ainda criticando a União Europeia por "não pôr fim às movimentações do capital financeiro especulativo". Sérgio Sousa Pinto, do PS, respondeu que o PCP tinha a mesma linha ideológica, nostálgica de sempre, questionando o que aconteceria se Portugal não estivesse na UE e no euro. Foi o que lhe valeu a tirada irónica de Bernardino Soares, que gracejou com o "chapéu" para "nos proteger": "Em vez de um sombrero, é um chapéu de coco e muito pequenino."

A conversa avançava. O Bloco de Esquerda, através de José Manuel Pureza, acusou PS e PSD de porem os desempregados a pagar e crise. "Foi esse o sinal deste Bloco Central renascido e revigorado." E não poupou nas críticas, nisso partilhadas também pelo PCP e até por João Galamba, do PS, às agências de rating, lembrando que a Standard&Poor"s deu nota máxima ao Lehman Brothers "dois dias antes de ir à falência".

O melhor do Público no email Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subscrever ×

Chegou depois a vez de o CDS abrir o debate de urgência, já com Jorge Lacão na sala. Paulo Portas começou por dizer que um "ataque especulativo à dívida é um ataque ao Estado no seu todo" a exigir uma resposta patriótica. Depois, partiu para as críticas ao Governo e às propostas. As críticas por o PS e o Governo terem escondido do país a verdadeira situação do défice na campanha eleitoral. Depois, com propostas. Sugerindo a suspensão total do TGV e a reprogramação do novo aeroporto, com um custo estimado de 11 mil milhões de euros. "Dinheiro que o país não tem no bolso." Repensar a terceira ponte sobre o Tejo e uma reavaliação das concessões rodoviárias. Lacão a tudo disse que o ministro das Obras Públicas iria responder mais tarde, mas que o Estado iria cumprir os seus compromissos. Ou seja, nada de alterações substanciais de rumo.

O empréstimo à Grécia, a proposta do Governo sobre a tributação das mais-valias e a criação de um novo escalão de 45 por cento no IRS serão discutidos no Parlamento no próximo 27 de Maio. O agendamento foi feito ontem em conferência de líderes. No mesmo dia será também debatida a ajuda financeira para a reconstrução da Madeira prevista na chamada lei de meios. com S.R.

Paulo Portas defendeu a suspensão total do TGV e a reprogramação do novo aeroporto internacional

marcar artigo