Da Literatura: LER OS OUTROS

21-05-2011
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Um livro cada domingo. Para Cesare Pavese (1908-1950), o mar, a cidade e a vinha tiveram sempre grande importância. As 29 narrativas coligidas em Férias de Agosto (1946) explicam porquê. O livro volta agora às livrarias, com a tradução, entretanto revista, que Ana Hatherly fez para a primeira edição portuguesa, publicada pela Arcádia em 1965. Escrito na primeira pessoa, como se de um diário temático se tratasse, Férias de Agosto pode (e talvez deva) ser lido como uma colectânea de contos breves. Com Pavese, um nome central da poesia italiana do século XX, fica-se sempre na incerteza do que poderia ter sido a Obra sem o suicídio a treze dias de completar 42 anos. Para este antifascista italiano que amava, entre todas, a literatura americana (traduziu Whitman, Melville, Faulkner, Sinclair Lewis, Gertrude Stein e John dos Passos; além de Defoe e Joyce, mas esses não eram americanos), e teve uma amante americana (a actriz Constance Dowling), a vida foi sempre o material da escrita, a que acrescentava a centelha da literatura. Com Férias de Agosto, Pavese junta-se a Kafka, Lautréamont, Pasolini, Tchekov, Beckett, Houellebecq, Almodóvar, Claude Simon e outros autores que a Quasi tem na sua Biblioteca Metamorfose.A cisão verificada no 5Dias, aparentemente por causa disto, e de mais isto, deu origem ao Jugular, o novo blogue de Ana Matos Pires, Fernanda Câncio, Inês Meneses, João Galamba, João Pinto e Castro, Maria João Guardão, Maria João Pires, Miguel Vale de Almeida, Palmira F. Silva, Paulo Côrte-Real, Paulo Pinto, Rogério da Costa Pereira e Vasco M. Barreto.Filipe Nunes Vicente: «[...] Enquanto Cavaco durou, o PS penou mas depois organizou-se. O PSD não o conseguiu fazer. Na primeira oportunidade, Barroso entregou as chaves a Santana Lopes. Regressado à oposição voltou a desaproveitar. Escolheu Marques Mendes, uma relíquia cavaquista de quem Belmiro disse um dia que nem para porteiro da Sonae contrataria, e depois entrou na Corrida Mais Louca do Mundo: um personagem de novela mexicana (inesquecível o episódio televisivo em que apareceu a chorar acompanhado da família na altura do escândalo das viagens dos deputados) acolitado por uma piolharia de arrivistas, oportunistas e vira-casacas. Dizem-me que tudo isto é por causa das estruturas locais, dos sindicatos de votos, das concelhias, das distritais e do diabo a sete. Pois o remédio é simples: uma parte do PSD sai e reorganiza-se sem esses fiadores da vergonha. [...]»Frederico Lourenço abre o inquérito, organizado por Os Livros Ardem Mal, sobre “os dois melhores livros da literatura portuguesa do século XX”, e ainda sobre a diferença entre os “melhores” e os “mais importantes”.Luis M. Jorge: «Em inúmeros filmes de terror americanos há uma boneca de porcelana que ganha vida durante a noite e esfaqueia todos os bimbos da família recém-chegada [...] Nós, por cá, temos Pedro Santana Lopes. Assim que uma nova liderança chega ao PSD, o Pedro senta-se de olhos muito abertos na colcha de renda, compõe o vestidinho embotado e aguarda a sua hora. Mal cai o lusco-fusco, ele ergue-se vagarosamente e sai para o bosque atraido pelo suave clarão da fogueira em que está reunida a amável família política a cantar o Kumbaya. A primeira vítima é sempre o professor — trespassado por uma das próprias farpas. Logo a seguir, Pacheco Pereira perde a cabeça misteriosamente. Em breve todo o secretariado se esvai com grande aparato, numa sucessão absurda de calamidades, até ao suspiro exangue e silencioso da doutora Manuela. Um último grito horripilante ecoa por entre as árvores, e a paz regressa àquela bonita zona de veraneio. Santana, o boneco assassino, jaz tranquilamente no húmus, perto da fogueira em extinção.»Paulo Gorjão: «Faço aqui uma pausa porque vou à tabacaria num instante comprar o Povo Livre. Quero ler, no suplemento de Economia, a crónica quinzenal de Manuela Ferreira Leite. Como se sabe, é a partir do Povo Livre que a líder expõe quinzenalmente o seu pensamento. Durante a travessia do silêncio Ferreira Leite só interrompia a sabática para escrever para o Povo Livre. O tema desta semana deve ser o Orçamento do Estado para 2009. Aposto que se arruma o assunto em 25 linhas no canto inferior direito da primeira página do suplemento. Ainda por cima esta semana o Povo Livre oferece um DVD.»Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

Um livro cada domingo. Para Cesare Pavese (1908-1950), o mar, a cidade e a vinha tiveram sempre grande importância. As 29 narrativas coligidas em Férias de Agosto (1946) explicam porquê. O livro volta agora às livrarias, com a tradução, entretanto revista, que Ana Hatherly fez para a primeira edição portuguesa, publicada pela Arcádia em 1965. Escrito na primeira pessoa, como se de um diário temático se tratasse, Férias de Agosto pode (e talvez deva) ser lido como uma colectânea de contos breves. Com Pavese, um nome central da poesia italiana do século XX, fica-se sempre na incerteza do que poderia ter sido a Obra sem o suicídio a treze dias de completar 42 anos. Para este antifascista italiano que amava, entre todas, a literatura americana (traduziu Whitman, Melville, Faulkner, Sinclair Lewis, Gertrude Stein e John dos Passos; além de Defoe e Joyce, mas esses não eram americanos), e teve uma amante americana (a actriz Constance Dowling), a vida foi sempre o material da escrita, a que acrescentava a centelha da literatura. Com Férias de Agosto, Pavese junta-se a Kafka, Lautréamont, Pasolini, Tchekov, Beckett, Houellebecq, Almodóvar, Claude Simon e outros autores que a Quasi tem na sua Biblioteca Metamorfose.A cisão verificada no 5Dias, aparentemente por causa disto, e de mais isto, deu origem ao Jugular, o novo blogue de Ana Matos Pires, Fernanda Câncio, Inês Meneses, João Galamba, João Pinto e Castro, Maria João Guardão, Maria João Pires, Miguel Vale de Almeida, Palmira F. Silva, Paulo Côrte-Real, Paulo Pinto, Rogério da Costa Pereira e Vasco M. Barreto.Filipe Nunes Vicente: «[...] Enquanto Cavaco durou, o PS penou mas depois organizou-se. O PSD não o conseguiu fazer. Na primeira oportunidade, Barroso entregou as chaves a Santana Lopes. Regressado à oposição voltou a desaproveitar. Escolheu Marques Mendes, uma relíquia cavaquista de quem Belmiro disse um dia que nem para porteiro da Sonae contrataria, e depois entrou na Corrida Mais Louca do Mundo: um personagem de novela mexicana (inesquecível o episódio televisivo em que apareceu a chorar acompanhado da família na altura do escândalo das viagens dos deputados) acolitado por uma piolharia de arrivistas, oportunistas e vira-casacas. Dizem-me que tudo isto é por causa das estruturas locais, dos sindicatos de votos, das concelhias, das distritais e do diabo a sete. Pois o remédio é simples: uma parte do PSD sai e reorganiza-se sem esses fiadores da vergonha. [...]»Frederico Lourenço abre o inquérito, organizado por Os Livros Ardem Mal, sobre “os dois melhores livros da literatura portuguesa do século XX”, e ainda sobre a diferença entre os “melhores” e os “mais importantes”.Luis M. Jorge: «Em inúmeros filmes de terror americanos há uma boneca de porcelana que ganha vida durante a noite e esfaqueia todos os bimbos da família recém-chegada [...] Nós, por cá, temos Pedro Santana Lopes. Assim que uma nova liderança chega ao PSD, o Pedro senta-se de olhos muito abertos na colcha de renda, compõe o vestidinho embotado e aguarda a sua hora. Mal cai o lusco-fusco, ele ergue-se vagarosamente e sai para o bosque atraido pelo suave clarão da fogueira em que está reunida a amável família política a cantar o Kumbaya. A primeira vítima é sempre o professor — trespassado por uma das próprias farpas. Logo a seguir, Pacheco Pereira perde a cabeça misteriosamente. Em breve todo o secretariado se esvai com grande aparato, numa sucessão absurda de calamidades, até ao suspiro exangue e silencioso da doutora Manuela. Um último grito horripilante ecoa por entre as árvores, e a paz regressa àquela bonita zona de veraneio. Santana, o boneco assassino, jaz tranquilamente no húmus, perto da fogueira em extinção.»Paulo Gorjão: «Faço aqui uma pausa porque vou à tabacaria num instante comprar o Povo Livre. Quero ler, no suplemento de Economia, a crónica quinzenal de Manuela Ferreira Leite. Como se sabe, é a partir do Povo Livre que a líder expõe quinzenalmente o seu pensamento. Durante a travessia do silêncio Ferreira Leite só interrompia a sabática para escrever para o Povo Livre. O tema desta semana deve ser o Orçamento do Estado para 2009. Aposto que se arruma o assunto em 25 linhas no canto inferior direito da primeira página do suplemento. Ainda por cima esta semana o Povo Livre oferece um DVD.»Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

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