O Cachimbo de Magritte: O humanista da playstation

27-01-2011
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Não percam este texto. Não é todos os dias que se pode ler um ensaio a respeito da Educação escrito por um humanista. Não brinco. O autor, que se intitula tranquilamente "escritor", define-se: 'sou um humanista' [sic]. Alguém que, por entre a irritante e secundária 'discussão de reformas, sistemas e até computadores Magalhães', consegue aperceber-se do que está 'na base'. Na base. Segundo o autor deste texto básico, o que está então na base? Qual a repugnante entidade que polui toda a bondade intrínseca do edifício educacional, que constantemente atravanca todos os esforços de todos os responsáveis políticos que já por lá passaram? Pondo a coisa nos termos postos pelo autor, de quem é a 'culpa'?Os culpados são aqueles a quem 'ninguém tem coragem de apontar o dedo'. Ninguém, tal é a força do bicho. Mas este autor "humanista" aponta o dedo – como uma farpa heróica. E crava-a. Os culpados são umas criaturas sem nome que infestam as nossas escolas e que, teimosas e cegas, insistem em não perceber que o mundo mudou. É gente que ignora que a atenção de uma criança tem que ser 'disputada com uma playstation', acusa o "humanista" fulminante. Gente que perde tempo em 'guerras e guerrinhas' e se esquece dos alunos e do 'seu direito a um ensino de qualidade'. Presume-se que, para o "humanista", esse ensino de qualidade passa pela atenção às playstations e nem remotamente passa pela sua cabeça que, muitas vezes, as tais guerrinhas são travadas precisamente para que não soçobre o que ainda vai restando de um ensino digno desse nome. E, ainda mais longínquo para o seu "pensamento", pode muito bem acontecer que, pasme-se, haja uma coincidência entre interesses dessa classe desprezível e direitos dos alunos. Mas não, porque esse bando corporativo continua com os 'mesmos métodos e ferramentas que já estavam ultrapassadas no tempo do João de Deus', esse barbudo das Cartilhas e dumas coisas didácticas com que se entretinha, coitado. Seja como for, está aqui uma marca humanista: o autor faz referência a um autor do séc. XIX, perdão, do séc. 19 – nada mau. É verdade que se lhe refere com uma certa condescendência (para não dizer desprezo), mas, nos tempos que correm, a ignorância montada no desprezo por aquilo que precisamente se não entende fica sempre bem a qualquer "humanista" que se preze. Na verdade, o que estes "humanistas" preconizam idealmente, é que, nas escolas, as mesas e as carteiras sejam substituídas por manjedouras - o nome da forragem pode variar, desde que propiciadora daquele saudável e "igualitário" olhar bovino. E nem sequer se trata já da lezíria. É o sucesso do estábulo. O post do estreito "humanista", pelo modo simplista como ataca e pelo alvo do ataque, não passa de uma apologia da ignorância, da Escola da ignorância. O texto, tal é a sua vacuidade rancorosa, poderia muito bem ter sido garatujado por qualquer assessorzinho da presente ministra da Educação. E esta escolha tão humanista da playstation como critério da Escola seria recebida de braços abertos pela info-parolice "socrática".O autor "humanista" é bem mais sério no seu blog quando está a gracejar, do que ao pôr-se com estas coisas deprimentes e decepcionantes.


Não percam este texto. Não é todos os dias que se pode ler um ensaio a respeito da Educação escrito por um humanista. Não brinco. O autor, que se intitula tranquilamente "escritor", define-se: 'sou um humanista' [sic]. Alguém que, por entre a irritante e secundária 'discussão de reformas, sistemas e até computadores Magalhães', consegue aperceber-se do que está 'na base'. Na base. Segundo o autor deste texto básico, o que está então na base? Qual a repugnante entidade que polui toda a bondade intrínseca do edifício educacional, que constantemente atravanca todos os esforços de todos os responsáveis políticos que já por lá passaram? Pondo a coisa nos termos postos pelo autor, de quem é a 'culpa'?Os culpados são aqueles a quem 'ninguém tem coragem de apontar o dedo'. Ninguém, tal é a força do bicho. Mas este autor "humanista" aponta o dedo – como uma farpa heróica. E crava-a. Os culpados são umas criaturas sem nome que infestam as nossas escolas e que, teimosas e cegas, insistem em não perceber que o mundo mudou. É gente que ignora que a atenção de uma criança tem que ser 'disputada com uma playstation', acusa o "humanista" fulminante. Gente que perde tempo em 'guerras e guerrinhas' e se esquece dos alunos e do 'seu direito a um ensino de qualidade'. Presume-se que, para o "humanista", esse ensino de qualidade passa pela atenção às playstations e nem remotamente passa pela sua cabeça que, muitas vezes, as tais guerrinhas são travadas precisamente para que não soçobre o que ainda vai restando de um ensino digno desse nome. E, ainda mais longínquo para o seu "pensamento", pode muito bem acontecer que, pasme-se, haja uma coincidência entre interesses dessa classe desprezível e direitos dos alunos. Mas não, porque esse bando corporativo continua com os 'mesmos métodos e ferramentas que já estavam ultrapassadas no tempo do João de Deus', esse barbudo das Cartilhas e dumas coisas didácticas com que se entretinha, coitado. Seja como for, está aqui uma marca humanista: o autor faz referência a um autor do séc. XIX, perdão, do séc. 19 – nada mau. É verdade que se lhe refere com uma certa condescendência (para não dizer desprezo), mas, nos tempos que correm, a ignorância montada no desprezo por aquilo que precisamente se não entende fica sempre bem a qualquer "humanista" que se preze. Na verdade, o que estes "humanistas" preconizam idealmente, é que, nas escolas, as mesas e as carteiras sejam substituídas por manjedouras - o nome da forragem pode variar, desde que propiciadora daquele saudável e "igualitário" olhar bovino. E nem sequer se trata já da lezíria. É o sucesso do estábulo. O post do estreito "humanista", pelo modo simplista como ataca e pelo alvo do ataque, não passa de uma apologia da ignorância, da Escola da ignorância. O texto, tal é a sua vacuidade rancorosa, poderia muito bem ter sido garatujado por qualquer assessorzinho da presente ministra da Educação. E esta escolha tão humanista da playstation como critério da Escola seria recebida de braços abertos pela info-parolice "socrática".O autor "humanista" é bem mais sério no seu blog quando está a gracejar, do que ao pôr-se com estas coisas deprimentes e decepcionantes.

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