Cravo de Abril: TRAFULHICES

29-05-2010
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«O Futuro da Europa» foi o tema de um «colóquio internacional» ontem realizado por iniciativa das fundações Respública (do PS), Mário Soares (do próprio) e Friedrich Ebert (do SPD alemão).Soares foi um dos oradores e, como era inevitável foi a estrela da noite: falou, falou, falou...Entre outras coisas - aparentemente de esquerda mas, de facto, visando a superação da crise que assola o sistema capitalista - apontou o «Tratado de Lisboa» como caminho dos caminhos...Soares foi, como é seu hábito, extremamente pragmático...Disse ele que, perante o «não» dos irlandeses, os dirigentes europeus devem... fazer tudo o que for necessário para que o Tratado seja urgentemente aprovado.Com isto, Soares queria dizer: as trafulhices já feitas foram positivas mas não chegam; por isso é preciso trafulhar mais...Porque, declamou, os que «querem» o Tratado, não devem deixar-se travar pelos que o «não querem».Querer ou não querer, eis a questão: há os que «querem» (os «bons») e há os que «não querem» (os «maus») - e Soares, como sempre, está do lado dos «bons».E quem são uns e outros? Quem são os que «querem» e os que «não querem»?Soares foi claro: os que «querem» são os governantes ao serviço do «querer» do grande capital - e estes, de tal forma e com tal força querem, que - temendo o «não» dos povos dos seus países - se decidiram pela trafulhice de proibir os referendos;e os que «não querem» são os povos aos quais, pela trafulhice, foi roubado o direito de terem opinião - e e o povo irlandês que, vendo reconhecido esse direito, se pronunciou clara e inequivocamente pelo «não».Há que reconhecer que estes democratas-tipo-soares são possuidores de inesgotável criatividade na expressão do seu amor à democracia...Um dia, ouvimo-los gritar, com tremidos de voz, que «o sufrágio universal é um pilar básico da democracia».No dia seguinte - porque o voto popular indicia ir contra os seus planos - vemo-los mandar o sufrágio universal às urtigas e substituirem-se, eles próprios, à vontade democrática dos eleitores.Nos dois dias, vemo-los confirmando que, para eles, a democracia não passa de um utensílio que utilizam sem princípios para a perpetuação do sistema capitalista.Aliás, como estamos recordados, foi na base desse conceito utilitário de democracia que Soares encabeçou a contra-revolução de Abril - entregando, de novo, o poder ao grande capital e depositando a independência e a soberania nacional nas garras do imperialismo norte-americano e da sua filial na Europa, que dá pelo nome de União Europeia.Ora, mostra a História, que por muito, muito menos do que isso foi o Miguel de Vasconcelos atirado pela janela, no 1º de Dezembro de 1640...E ao Miguel de Vasconcelos não foi permitido ter fundações, nem participar em colóquios internacionais. E muito menos ser apontado como democrata exemplar...


«O Futuro da Europa» foi o tema de um «colóquio internacional» ontem realizado por iniciativa das fundações Respública (do PS), Mário Soares (do próprio) e Friedrich Ebert (do SPD alemão).Soares foi um dos oradores e, como era inevitável foi a estrela da noite: falou, falou, falou...Entre outras coisas - aparentemente de esquerda mas, de facto, visando a superação da crise que assola o sistema capitalista - apontou o «Tratado de Lisboa» como caminho dos caminhos...Soares foi, como é seu hábito, extremamente pragmático...Disse ele que, perante o «não» dos irlandeses, os dirigentes europeus devem... fazer tudo o que for necessário para que o Tratado seja urgentemente aprovado.Com isto, Soares queria dizer: as trafulhices já feitas foram positivas mas não chegam; por isso é preciso trafulhar mais...Porque, declamou, os que «querem» o Tratado, não devem deixar-se travar pelos que o «não querem».Querer ou não querer, eis a questão: há os que «querem» (os «bons») e há os que «não querem» (os «maus») - e Soares, como sempre, está do lado dos «bons».E quem são uns e outros? Quem são os que «querem» e os que «não querem»?Soares foi claro: os que «querem» são os governantes ao serviço do «querer» do grande capital - e estes, de tal forma e com tal força querem, que - temendo o «não» dos povos dos seus países - se decidiram pela trafulhice de proibir os referendos;e os que «não querem» são os povos aos quais, pela trafulhice, foi roubado o direito de terem opinião - e e o povo irlandês que, vendo reconhecido esse direito, se pronunciou clara e inequivocamente pelo «não».Há que reconhecer que estes democratas-tipo-soares são possuidores de inesgotável criatividade na expressão do seu amor à democracia...Um dia, ouvimo-los gritar, com tremidos de voz, que «o sufrágio universal é um pilar básico da democracia».No dia seguinte - porque o voto popular indicia ir contra os seus planos - vemo-los mandar o sufrágio universal às urtigas e substituirem-se, eles próprios, à vontade democrática dos eleitores.Nos dois dias, vemo-los confirmando que, para eles, a democracia não passa de um utensílio que utilizam sem princípios para a perpetuação do sistema capitalista.Aliás, como estamos recordados, foi na base desse conceito utilitário de democracia que Soares encabeçou a contra-revolução de Abril - entregando, de novo, o poder ao grande capital e depositando a independência e a soberania nacional nas garras do imperialismo norte-americano e da sua filial na Europa, que dá pelo nome de União Europeia.Ora, mostra a História, que por muito, muito menos do que isso foi o Miguel de Vasconcelos atirado pela janela, no 1º de Dezembro de 1640...E ao Miguel de Vasconcelos não foi permitido ter fundações, nem participar em colóquios internacionais. E muito menos ser apontado como democrata exemplar...

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