Cravo de Abril: AS AMBIGUIDADES DE SAMPAIO

24-01-2011
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SOL NA EIRA E CHUVA NO NABALJorge Sampaio, em entrevista publicada no Sexta (que, nesta semana pascal, saíu à Quinta), perguntado sobre se desejaria «ver o Governo governar mais à esquerda», respondeu deste jeito:«No nosso século XXI, esquerda e direita tornaram-se conceitos ambíguos. Por isso, sempre que ouço esse género de comentários, interrogo-me «mas o que significa mais à esquerda ou mais à direita em termos de políticas concretas e sustentáveis?». A meu ver não podemos ficar reféns de debates ideológicos, cujo conteúdo deixou de ser claro. Importa, sim, contribuir para a renovação da prática governativa e para lhe dar conteúdos».Traduza-se desde já: este paleio velho de Sampaio significa, em primeiro lugar e acima de tudo, total apoio à política de direita do Governo do seu colega Sócrates.E, por arrasto, evidencia um profunda desonestidade intelectual e política - a par de uma incomensurável cobardia e de um escabroso oportunismo.Com efeito, a «ambiguidade» detectada por Sampaio nos conceitos de esquerda e direita não passa de uma fuga invertebrada à assumpção frontal da sua verdadeira posição na matéria: a defesa da política de direita e a rejeição de uma política de esquerda.Como é sabido, uma das linhas essenciais da actual ofensiva da ideologia capitalista dominante, consiste em proclamar «o fim das ideologias» e, portanto, entre muitas outras coisas, «o fim da ideia de esquerda e direita».Assim ideologizando, os ideólogos do capitalismo decretaram «o fim da esquerda» e proclamaram a ideologia única da direita, disfarçada de não-ideologia.Com isto, justificam as políticas de direita - exclusivamente ao serviço do grande capital - praticadas por governos de partidos socialistas por esse mundo fora - e, no que nos diz respeito, neste nosso pequeno mundo chamado Portugal.Daí a «ambiguidade» papagueada por Sampaio, em ar de quem acaba de descobrir e desvendar a sensacional descoberta da pólvora.A patranha é por demais primária, mas a sua profusa difusão tende a transformá-la em verdade absoluta para milhões de distraídos e em verdade utilitária para muitos sabidões - como é o caso de Jorge Sampaio que, sabendo que o conceito de esquerda é coisa bem concreta, bem viva, bem actual e, por isso, rentável... dele não quer abrir mão, para o que recorre á «ambiguidade»...Sampaio não tem coragem de se assumir ideológicamente: posicionado, de facto, à direita, no apoio e no aplauso à política de direita do Governo de Sócrates, quer, ao mesmo tempo, manter uma certa imagem de esquerda...Como a galinha que segue, cega, o risco de giz traçado no chão - o destino de Sampaio é seguir, cego, a linha traçada pela ideologia dominante - mas, ao mesmo tempo, fingindo-se de esquerda...Sampaio quer o sol na eira e a chuva no nabal.Não pode!Ou é de esquerda - e pratica - ou continua a praticar direita.Mas o mais importante é que, seja qual for a sua opção definitiva, a assuma frontalmente.Sem ambiguidades.


SOL NA EIRA E CHUVA NO NABALJorge Sampaio, em entrevista publicada no Sexta (que, nesta semana pascal, saíu à Quinta), perguntado sobre se desejaria «ver o Governo governar mais à esquerda», respondeu deste jeito:«No nosso século XXI, esquerda e direita tornaram-se conceitos ambíguos. Por isso, sempre que ouço esse género de comentários, interrogo-me «mas o que significa mais à esquerda ou mais à direita em termos de políticas concretas e sustentáveis?». A meu ver não podemos ficar reféns de debates ideológicos, cujo conteúdo deixou de ser claro. Importa, sim, contribuir para a renovação da prática governativa e para lhe dar conteúdos».Traduza-se desde já: este paleio velho de Sampaio significa, em primeiro lugar e acima de tudo, total apoio à política de direita do Governo do seu colega Sócrates.E, por arrasto, evidencia um profunda desonestidade intelectual e política - a par de uma incomensurável cobardia e de um escabroso oportunismo.Com efeito, a «ambiguidade» detectada por Sampaio nos conceitos de esquerda e direita não passa de uma fuga invertebrada à assumpção frontal da sua verdadeira posição na matéria: a defesa da política de direita e a rejeição de uma política de esquerda.Como é sabido, uma das linhas essenciais da actual ofensiva da ideologia capitalista dominante, consiste em proclamar «o fim das ideologias» e, portanto, entre muitas outras coisas, «o fim da ideia de esquerda e direita».Assim ideologizando, os ideólogos do capitalismo decretaram «o fim da esquerda» e proclamaram a ideologia única da direita, disfarçada de não-ideologia.Com isto, justificam as políticas de direita - exclusivamente ao serviço do grande capital - praticadas por governos de partidos socialistas por esse mundo fora - e, no que nos diz respeito, neste nosso pequeno mundo chamado Portugal.Daí a «ambiguidade» papagueada por Sampaio, em ar de quem acaba de descobrir e desvendar a sensacional descoberta da pólvora.A patranha é por demais primária, mas a sua profusa difusão tende a transformá-la em verdade absoluta para milhões de distraídos e em verdade utilitária para muitos sabidões - como é o caso de Jorge Sampaio que, sabendo que o conceito de esquerda é coisa bem concreta, bem viva, bem actual e, por isso, rentável... dele não quer abrir mão, para o que recorre á «ambiguidade»...Sampaio não tem coragem de se assumir ideológicamente: posicionado, de facto, à direita, no apoio e no aplauso à política de direita do Governo de Sócrates, quer, ao mesmo tempo, manter uma certa imagem de esquerda...Como a galinha que segue, cega, o risco de giz traçado no chão - o destino de Sampaio é seguir, cego, a linha traçada pela ideologia dominante - mas, ao mesmo tempo, fingindo-se de esquerda...Sampaio quer o sol na eira e a chuva no nabal.Não pode!Ou é de esquerda - e pratica - ou continua a praticar direita.Mas o mais importante é que, seja qual for a sua opção definitiva, a assuma frontalmente.Sem ambiguidades.

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