O Cachimbo de Magritte: O 'propagandês'

30-05-2010
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Já conhecíamos o ‘politiquês’ como caricatura do discurso político. Com este Governo ficámos a conhecer o ‘propagandês’, um novo estilo que consiste em governar em função da mensagem que se quer passar à opinião pública.Veja-se a Educação. Sendo uma das áreas de maior fragilidade do Governo, com a contestação generalizada de pais e professores, foi natural escolher das escolas como palco privilegiado de propaganda. Com o pretexto do arranque do ano lectivo, montaram-se várias acções de campanha em escolas públicas, com a presença em peso do Governo a distribuir computadores, incluindo o inevitável ‘Magalhães’.Quando se anunciou que a taxa de retenções (ou “chumbos”) no ensino básico e secundário foi a mais baixa da última década, uma estranha suspeita pairava no ar. Ainda se ouviam as acusações das Sociedade Portuguesa de Matemática (e da de química, entre outras) sobre a diminuição do nível de exigência nas provas nacionais do ano passado. Mas como uma das promessas eleitorais tinha sido reduzir para metade o insucesso escolar, não se hesitou em nivelar por baixo para embelezar as estatísticas.Uma das características do ‘propagandês’ é a utilização do Estado como instrumento político. Aproveita recursos públicos para fins partidários. Não se inibe sequer de utilizar quem não pode responder à letra, como as crianças do ensino básico. Neste caso foi o ministério da educação, mas outros exemplos podem ser apontados, como as operações policiais montadas para os directos televisivos ou as recentes campanhas do ministério da economia de apoio às PME. É estranho que só tenham sido publicitadas (TV, rádios e jornais) depois do discurso de reentré da líder do PSD que propôs a aposta nas PME’s para recuperar a economia.Outro ponto é a manipulação dos números. Lembram-se da promessa dos 150.000 novos empregos? O primeiro-ministro veio agora dizer que falava de “emprego líquido”, ou seja, “descontados os empregos que se perderam”. Segundo as novas “contas” o saldo seria (afinal) 133 mil postos de trabalho. Soube-se logo depois que 27% (36.000) destes "novos empregos" de que falava o líder do governo foi criado no estrangeiro, onde duplicou, em três anos, o número portugueses a trabalhar. Tudo isto quer dizer que a meta dos 150 mil empregos está ainda longe. Chega a ser de mau gosto apresentar estes números quando o desemprego atinge 7,3% da população.O estilo ‘propagandês’ assenta numa gestão centralizada e rígida da informação. Com o apoio de agências de comunicação especializadas, as mesmas que prestam serviços às empresas do sector público, montou-se uma poderosa máquina comunicacional para gerir a agenda e “influenciar" a comunicação social.Estão agora acessíveis partes do processo da ERC sobre as alegadas pressões do primeiro-ministro para travar as notícias sobre a sua licenciatura. Há relatos de telefonemas feitos a jornalistas pelo próprio José Sócrates e por pessoas do seu gabinete. A confirmarem-se são muito graves e indignas de um primeiro-ministro. Não se compreende a omissão da ERC e o (quase) silêncio que se abateu sobre este tema, de enorme gravidade numa sociedade que se pretende de homens livres.[Texto publicado no Diário Económico]


Já conhecíamos o ‘politiquês’ como caricatura do discurso político. Com este Governo ficámos a conhecer o ‘propagandês’, um novo estilo que consiste em governar em função da mensagem que se quer passar à opinião pública.Veja-se a Educação. Sendo uma das áreas de maior fragilidade do Governo, com a contestação generalizada de pais e professores, foi natural escolher das escolas como palco privilegiado de propaganda. Com o pretexto do arranque do ano lectivo, montaram-se várias acções de campanha em escolas públicas, com a presença em peso do Governo a distribuir computadores, incluindo o inevitável ‘Magalhães’.Quando se anunciou que a taxa de retenções (ou “chumbos”) no ensino básico e secundário foi a mais baixa da última década, uma estranha suspeita pairava no ar. Ainda se ouviam as acusações das Sociedade Portuguesa de Matemática (e da de química, entre outras) sobre a diminuição do nível de exigência nas provas nacionais do ano passado. Mas como uma das promessas eleitorais tinha sido reduzir para metade o insucesso escolar, não se hesitou em nivelar por baixo para embelezar as estatísticas.Uma das características do ‘propagandês’ é a utilização do Estado como instrumento político. Aproveita recursos públicos para fins partidários. Não se inibe sequer de utilizar quem não pode responder à letra, como as crianças do ensino básico. Neste caso foi o ministério da educação, mas outros exemplos podem ser apontados, como as operações policiais montadas para os directos televisivos ou as recentes campanhas do ministério da economia de apoio às PME. É estranho que só tenham sido publicitadas (TV, rádios e jornais) depois do discurso de reentré da líder do PSD que propôs a aposta nas PME’s para recuperar a economia.Outro ponto é a manipulação dos números. Lembram-se da promessa dos 150.000 novos empregos? O primeiro-ministro veio agora dizer que falava de “emprego líquido”, ou seja, “descontados os empregos que se perderam”. Segundo as novas “contas” o saldo seria (afinal) 133 mil postos de trabalho. Soube-se logo depois que 27% (36.000) destes "novos empregos" de que falava o líder do governo foi criado no estrangeiro, onde duplicou, em três anos, o número portugueses a trabalhar. Tudo isto quer dizer que a meta dos 150 mil empregos está ainda longe. Chega a ser de mau gosto apresentar estes números quando o desemprego atinge 7,3% da população.O estilo ‘propagandês’ assenta numa gestão centralizada e rígida da informação. Com o apoio de agências de comunicação especializadas, as mesmas que prestam serviços às empresas do sector público, montou-se uma poderosa máquina comunicacional para gerir a agenda e “influenciar" a comunicação social.Estão agora acessíveis partes do processo da ERC sobre as alegadas pressões do primeiro-ministro para travar as notícias sobre a sua licenciatura. Há relatos de telefonemas feitos a jornalistas pelo próprio José Sócrates e por pessoas do seu gabinete. A confirmarem-se são muito graves e indignas de um primeiro-ministro. Não se compreende a omissão da ERC e o (quase) silêncio que se abateu sobre este tema, de enorme gravidade numa sociedade que se pretende de homens livres.[Texto publicado no Diário Económico]

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