Cravo de Abril: OU TALVEZ NÃO

24-05-2011
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Estas tragédias, ditas naturais, que de de vez em quando flagelam a humanidade, tendem a despertar os bons sentimentos dos cidadãos - mesmo dos cidadãos que só nessas ocasiões revelam ter sentimentos...No caso do Haiti, vimos como de imediato se desenvolveu em todo o planeta um movimento de solidariedade para com aquele martirizado povo - solidariedade que, em termos concretos, tem demorado a chegar onde devia, atrasada com demoras à primeira vista inexplicáveis.Vimos também como artistas famosos de todo o mundo se mostraram solidários, contribuindo, nuns casos, com dinheiro contado, noutros casos oferecendo o lucro de um CD que lançaram ou irão lançar...A meu ver, todos estes contributos são importantes (desde que cheguem onde devem chegar, insisto) - e mesmo que, como por vezes acontece, por detrás destes contributos haja a intenção, mais ou menos calculada, de a benemérita acção passar a fazer parte dos «currículos humanitários», digamos assim, desses artistas...Vem isto a propósito de uma notícia publicada no Correio da Manhã na sua rubrica «Vidas de domingo».A notícia, com chamada de primeira página e quase uma página interior, relata-nos a realização de uma «quermesse de solidariedade e apoio às vítimas do Haiti», organizada por «cerca de 40 figuras da TV».As «figuras da TV» ofereceram roupas que já não usavam ou que apenas usavam em situações especiais - como é o caso de duas camisolas que ali foram leiloadas: uma do FCPorto, «assinada pelos jogadores», que rendeu 180 euros; outra do Sporting, esta não assinada, que rendeu 510 euros.Muito disputado foi também «o colete que o presidente da AMI, Fernando Nobre, usou no Haiti», que acabaria por ser arrematado (o colete, obviamente) por 300 euros.E assim, com estas e outras, a quermesse rendeu 10 mil euros - o que não é nada mau, mas também não é nada por aí além, tratando-se de «figuras da TV»...Mas não é isso que está em causa.O que me impressionou foi a forma como tudo aquilo nos foi contado... a sensação que tive de que, em todo aquele relato, a preocupação maior tinha a ver, não com o terrível drama do povo haitiano, mas com a promoção das «figuras da TV»...Talvez esteja a ser injusto.Ou talvez não.


Estas tragédias, ditas naturais, que de de vez em quando flagelam a humanidade, tendem a despertar os bons sentimentos dos cidadãos - mesmo dos cidadãos que só nessas ocasiões revelam ter sentimentos...No caso do Haiti, vimos como de imediato se desenvolveu em todo o planeta um movimento de solidariedade para com aquele martirizado povo - solidariedade que, em termos concretos, tem demorado a chegar onde devia, atrasada com demoras à primeira vista inexplicáveis.Vimos também como artistas famosos de todo o mundo se mostraram solidários, contribuindo, nuns casos, com dinheiro contado, noutros casos oferecendo o lucro de um CD que lançaram ou irão lançar...A meu ver, todos estes contributos são importantes (desde que cheguem onde devem chegar, insisto) - e mesmo que, como por vezes acontece, por detrás destes contributos haja a intenção, mais ou menos calculada, de a benemérita acção passar a fazer parte dos «currículos humanitários», digamos assim, desses artistas...Vem isto a propósito de uma notícia publicada no Correio da Manhã na sua rubrica «Vidas de domingo».A notícia, com chamada de primeira página e quase uma página interior, relata-nos a realização de uma «quermesse de solidariedade e apoio às vítimas do Haiti», organizada por «cerca de 40 figuras da TV».As «figuras da TV» ofereceram roupas que já não usavam ou que apenas usavam em situações especiais - como é o caso de duas camisolas que ali foram leiloadas: uma do FCPorto, «assinada pelos jogadores», que rendeu 180 euros; outra do Sporting, esta não assinada, que rendeu 510 euros.Muito disputado foi também «o colete que o presidente da AMI, Fernando Nobre, usou no Haiti», que acabaria por ser arrematado (o colete, obviamente) por 300 euros.E assim, com estas e outras, a quermesse rendeu 10 mil euros - o que não é nada mau, mas também não é nada por aí além, tratando-se de «figuras da TV»...Mas não é isso que está em causa.O que me impressionou foi a forma como tudo aquilo nos foi contado... a sensação que tive de que, em todo aquele relato, a preocupação maior tinha a ver, não com o terrível drama do povo haitiano, mas com a promoção das «figuras da TV»...Talvez esteja a ser injusto.Ou talvez não.

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