O Cachimbo de Magritte: Umbigos e cegonhas

30-05-2010
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A propósito das minhas críticas à existência de uma disciplina de educação sexual, o João Galamba escreveu este post. Não gosto muito que me chamem histérico por temer "a ditadura da maioria", mas o adjectivo repõe a ordem natural das coisas. Os acontecimentos dos últimos dias ameaçavam mergulhar-me numa crise de identidade da qual acabo de ser salvo. Curiosamente, a razão pela qual não quero o Estado a regular a intimidade dos meus concidadãos é a mesmíssima pela qual não quero os meus concidadãos a regular a intimidade do Primeiro-Ministro. O João Galamba não percebe porquê e eu não percebo que ele não perceba. Ou talvez eu perceba porque não é só isto que ele não percebe. Ele também não percebe (ou "não aceita", o que me soa um pouco ditatorial, mas é melhor estar calado) "que exista um fronteira, clara e precisa, entre a história, o português ou a matemática de um lado e a educação sexual do outro".Ora bem. Vamos reler esta frase.Já está?O João Galamba não aceita a fronteira entre a história, o português ou a matemática de um lado e a educação sexual do outro.Isto, devo dizer, só abona a seu favor. É que que a fronteira passa pelo umbigo de todos nós e, portanto, também pelo umbigo do João Galamba. Para cima do umbigo é história, português ou matemática. Para baixo, é educação sexual. A não ser, claro, que o João ainda acredite que as criancinhas vêm de Paris. Se for esse o caso, a cegonha ultrapassa todas as fronteiras. Até a do umbigo. Uma hipótese plausível, tendo em conta que na nossa juventude o Estado confiava aos pais a arcaica liberdade de explicar essas coisas de umbigos e cegonhas.


A propósito das minhas críticas à existência de uma disciplina de educação sexual, o João Galamba escreveu este post. Não gosto muito que me chamem histérico por temer "a ditadura da maioria", mas o adjectivo repõe a ordem natural das coisas. Os acontecimentos dos últimos dias ameaçavam mergulhar-me numa crise de identidade da qual acabo de ser salvo. Curiosamente, a razão pela qual não quero o Estado a regular a intimidade dos meus concidadãos é a mesmíssima pela qual não quero os meus concidadãos a regular a intimidade do Primeiro-Ministro. O João Galamba não percebe porquê e eu não percebo que ele não perceba. Ou talvez eu perceba porque não é só isto que ele não percebe. Ele também não percebe (ou "não aceita", o que me soa um pouco ditatorial, mas é melhor estar calado) "que exista um fronteira, clara e precisa, entre a história, o português ou a matemática de um lado e a educação sexual do outro".Ora bem. Vamos reler esta frase.Já está?O João Galamba não aceita a fronteira entre a história, o português ou a matemática de um lado e a educação sexual do outro.Isto, devo dizer, só abona a seu favor. É que que a fronteira passa pelo umbigo de todos nós e, portanto, também pelo umbigo do João Galamba. Para cima do umbigo é história, português ou matemática. Para baixo, é educação sexual. A não ser, claro, que o João ainda acredite que as criancinhas vêm de Paris. Se for esse o caso, a cegonha ultrapassa todas as fronteiras. Até a do umbigo. Uma hipótese plausível, tendo em conta que na nossa juventude o Estado confiava aos pais a arcaica liberdade de explicar essas coisas de umbigos e cegonhas.

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