Cravo de Abril: POEMA

29-05-2010
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TALVEZ A MINHA ÚLTIMA CARTA A MÉMETPor um ladoos carrascos entre nóscomo uma parede a separar-nos.E por outro ladoeste coração mal comportadoque me armou uma partida reles.Meu pequenino, meu Mémeto destino vai talvez impedir-mede voltar a ver-te.Sei-oserás um rapaz parecidocom uma espiga de trigoEu próprio era assim ao tempo da minha juventudelouro, esbelto e de boa estatura;Os teus olhos serão vastos como os da tua mãepor vezes com traços de amargurade tristeza,a fronte será clara até ao infinito.Terás também uma bela voza minha era horrível.As canções que cantarespartirão coraçõese serás um conversador brilhante.Eu também era mestre em tal matériaquando não me punham com os nervos em franja.O mel fluirá da tua bocaAh Mémetque devastador de coraçõestu vais ser!É difícil criar um filho sem a presença do paiNão magoes a tua mãese eu não pude dar-lhe alegriasdá-lhas tu.A tua mãeforte e branda como a seda.A tua mãeainda será bela quando tiver idade para ser avó.Como no primeiro dia em que a vina margem do Bósforotinha ela dezassete anos.Ela era o luare a luz do diaFazia lembrar uma rainha-cláudia.A tua mãe,uma manhã como de costumeseparou-se de mim: Até logo!Nunca mais nos vimos.A tua mãena sua bondade a melhor das mãesque viva cem anose que Deus a proteja.Eu, meu filho, não tenho medo de morrer.Mas não obstantepor vezes quando estou a trabalharde repenteestremeçoou então na solidão que precede o sono.É difícil contar os diasNão podemos saciar-nos do mundoMémetnão podemos saciar-nos.Não vivas na terraà maneira de um locatárioou em vilegiaturana naturezaVive neste mundocomo se ele fosse a casa do teu paiacredita nas sementesna terra, no mar,mas em primeiro lugar no homem.Ama a nuvem, a máquina e o livro,mas em primeiro lugar ama o homem.Sente a tristezada árvore que secado planeta que se extinguedo animal enfermo,mas em primeiro lugar a tristeza do homem.Que todos os bens terrestreste dêem alegria em profusão,Que a sombra e a claridadete dêem alegria em profusãoQue as quatro estaçõeste dêem alegria em profusão,mas em primeiro lugar que o homemte dê alegria em profusão.A nossa pátria, a Turquiaé um belo paísentre os demais paísese os seus homensaqueles que não se turvaramsão trabalhadoresmeditativos e corajososmas horrivelmente miseráveis.Já sofremos e havemos de sofrer maismas no fim a conclusão será esplêndida.Tu, neste país, com o teu povo,construirás o comunismovê-lo-ás com os olhostocá-lo-ás com as mãos.Mémet, morrerei talvezlonge da minha língualonge das minhas cançõeslonge do meu sal e do meu pão,com a nostalgia da tua mãe e de tido meu povo e dos meus camaradas.Mas não no exílionão no estrangeiroMorrerei no país dos meus sonhosna cidade branca dos meus melhores dias,Mémet, meu pequeno,confio-te ao Partido comunista turcoVou-me embora mas estou calmoa vida que em mim se apagacontinuará em ti por muito tempoE no meu povo, eternamente.Nazim Hikmet


TALVEZ A MINHA ÚLTIMA CARTA A MÉMETPor um ladoos carrascos entre nóscomo uma parede a separar-nos.E por outro ladoeste coração mal comportadoque me armou uma partida reles.Meu pequenino, meu Mémeto destino vai talvez impedir-mede voltar a ver-te.Sei-oserás um rapaz parecidocom uma espiga de trigoEu próprio era assim ao tempo da minha juventudelouro, esbelto e de boa estatura;Os teus olhos serão vastos como os da tua mãepor vezes com traços de amargurade tristeza,a fronte será clara até ao infinito.Terás também uma bela voza minha era horrível.As canções que cantarespartirão coraçõese serás um conversador brilhante.Eu também era mestre em tal matériaquando não me punham com os nervos em franja.O mel fluirá da tua bocaAh Mémetque devastador de coraçõestu vais ser!É difícil criar um filho sem a presença do paiNão magoes a tua mãese eu não pude dar-lhe alegriasdá-lhas tu.A tua mãeforte e branda como a seda.A tua mãeainda será bela quando tiver idade para ser avó.Como no primeiro dia em que a vina margem do Bósforotinha ela dezassete anos.Ela era o luare a luz do diaFazia lembrar uma rainha-cláudia.A tua mãe,uma manhã como de costumeseparou-se de mim: Até logo!Nunca mais nos vimos.A tua mãena sua bondade a melhor das mãesque viva cem anose que Deus a proteja.Eu, meu filho, não tenho medo de morrer.Mas não obstantepor vezes quando estou a trabalharde repenteestremeçoou então na solidão que precede o sono.É difícil contar os diasNão podemos saciar-nos do mundoMémetnão podemos saciar-nos.Não vivas na terraà maneira de um locatárioou em vilegiaturana naturezaVive neste mundocomo se ele fosse a casa do teu paiacredita nas sementesna terra, no mar,mas em primeiro lugar no homem.Ama a nuvem, a máquina e o livro,mas em primeiro lugar ama o homem.Sente a tristezada árvore que secado planeta que se extinguedo animal enfermo,mas em primeiro lugar a tristeza do homem.Que todos os bens terrestreste dêem alegria em profusão,Que a sombra e a claridadete dêem alegria em profusãoQue as quatro estaçõeste dêem alegria em profusão,mas em primeiro lugar que o homemte dê alegria em profusão.A nossa pátria, a Turquiaé um belo paísentre os demais paísese os seus homensaqueles que não se turvaramsão trabalhadoresmeditativos e corajososmas horrivelmente miseráveis.Já sofremos e havemos de sofrer maismas no fim a conclusão será esplêndida.Tu, neste país, com o teu povo,construirás o comunismovê-lo-ás com os olhostocá-lo-ás com as mãos.Mémet, morrerei talvezlonge da minha língualonge das minhas cançõeslonge do meu sal e do meu pão,com a nostalgia da tua mãe e de tido meu povo e dos meus camaradas.Mas não no exílionão no estrangeiroMorrerei no país dos meus sonhosna cidade branca dos meus melhores dias,Mémet, meu pequeno,confio-te ao Partido comunista turcoVou-me embora mas estou calmoa vida que em mim se apagacontinuará em ti por muito tempoE no meu povo, eternamente.Nazim Hikmet

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