Cravo de Abril: POEMA

24-01-2011
marcar artigo


LIBERDADEDisseram-nos a tiros: cruz, mais nada.Na cruz estamos. Apenas. Censurados.Uma nova prisão. Ponto na boca.Se manténs a conduta conveniente,poderás dizer palavras permitidas:Inverno, luz, hispanidade, chapéu.(Se a língua te entristece de vergonhaarranja um cartaz que diga «MUDO»,estende a mão e juntas alguns cobres)Se calças os sapatos pela normapodes também andar no outro passeioà procura do sol ou de um tecto que abrigue.Pagando os teus impostos pontualmentepodes ir à oficina ou ao escritório,para queimar as pestanas ou as unhas,partir o peito ou alcançar a glória.Também terás honestas diversões.O passar de um enterro, um filmedos que são devidamente autorizados,futebol do melhor, um copo de cerveja,instrutivos programas pela rádioe missa à tarde todos os domingos.Mas não penses «liberdade», não pronuncies,não escrevas «liberdade», não consintasque ao branco dos olhos ela surja,ou que o odor se exale pelas roupasou apareça no risco do cabelo.E sobretudo, amigo, ao deitar-te,não escondas «liberdade» na almofadapara tentar sonhar com melhores dias.Não aconteça seres sonâmbulo e uma noite,com ela atravessada no teu corpo,gritares o seu anúncio pelas ruasdescerrando as portas e as janelas,matando os guardas-nocturnos e os gatos,quebrando os lampiões, os chafarizese o sono dos justos - porque entãoponto final, irmão, e Deus te ajude.Maria Figuera Aymerich


LIBERDADEDisseram-nos a tiros: cruz, mais nada.Na cruz estamos. Apenas. Censurados.Uma nova prisão. Ponto na boca.Se manténs a conduta conveniente,poderás dizer palavras permitidas:Inverno, luz, hispanidade, chapéu.(Se a língua te entristece de vergonhaarranja um cartaz que diga «MUDO»,estende a mão e juntas alguns cobres)Se calças os sapatos pela normapodes também andar no outro passeioà procura do sol ou de um tecto que abrigue.Pagando os teus impostos pontualmentepodes ir à oficina ou ao escritório,para queimar as pestanas ou as unhas,partir o peito ou alcançar a glória.Também terás honestas diversões.O passar de um enterro, um filmedos que são devidamente autorizados,futebol do melhor, um copo de cerveja,instrutivos programas pela rádioe missa à tarde todos os domingos.Mas não penses «liberdade», não pronuncies,não escrevas «liberdade», não consintasque ao branco dos olhos ela surja,ou que o odor se exale pelas roupasou apareça no risco do cabelo.E sobretudo, amigo, ao deitar-te,não escondas «liberdade» na almofadapara tentar sonhar com melhores dias.Não aconteça seres sonâmbulo e uma noite,com ela atravessada no teu corpo,gritares o seu anúncio pelas ruasdescerrando as portas e as janelas,matando os guardas-nocturnos e os gatos,quebrando os lampiões, os chafarizese o sono dos justos - porque entãoponto final, irmão, e Deus te ajude.Maria Figuera Aymerich

marcar artigo