metablog: Politicamente Correcto

18-12-2009
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Muitas das críticas ao politicamente correcto não passam de uma forma de vitimização desonesta. Quem vocifera contra a conspiração (esquerdista, claro!) do politicamente correcto, esquece-se que este (em abstracto) sempre existiu e continuará a existir - os animais dos pretos passaram a pessoas, os paneleiros desviados filhos do demo para lá caminham (espera-se) e etcs. O que existe são formas de inclusão-exclusão que vão caracterizando sucessivas ordens públicas particulares. Não existe nenhuma ordem pública sem exclusões, e o tal politicamente correcto não é mais do que uma tentativa de impor um discurso hegemónico face a outras tentativas semelhantes. Podemos dizer que a essência da política (a existir alguma) é isso mesmo: a luta contra ou a favor de determinada ordem hegemónica. Gramsci deu o mote e pós-estruturalistas como Laclau e Mouffe ontologizaram a coisa, universalizando-a. Laclau defende que esta luta constante por um determinado mundo público de significados (a possibilidade de existir política depende da existência de uma contestabilidade permanente) pressupôe que não exista uma Verdade por detrás das aparências (das diferentes lutas particulares que vão animando a história) e que, à esquerda e à direita, é isto, e só isto, que existe. A Verdade politica não se descobre teoricamente, como pensava Marx, mas corresponde sempre a um combate particular e historicamente localizado. Se não existe nada para além de particularidades, a busca por universais puros como A Liberdade, A Tolerância ou A Emancipação é vazio, ou então é um particular mascarado de um universal. O Totalitarismo não é mais do que a ilusão de que, para determinada ordem particular, isto não sucede. Por outras palavras: o totalitarismo é a utopia. Um exemplo à direita é a imposição de uma determinada linguagem para falar do "mercado" ou do "liberalismo". Parece-me evidente que existe um determinado discurso com tendência hegemónica, suportado por certas práticas e instituições, que se tende a impôr aos demais. Aqui também existe "politicamente correcto" e não me lembro virem a público dizer que se está a silenciar a teoria do valor de Marx, ou coisas do género. Ou melhor, há; mas apenas à esquerda.Esta lengalenga serve basicamente para dizer uma coisa: deixem-se de abstracções espectrais (A Conspiração da Esquerda Censória) e centrem-se no que interessa. Se acham que a palavra "paneleiro" ou outra coisa qualquer devem continuar a ser usadas sem censura social, não se refugiem no Politicamente Correcto ou na Tolerância. É que isto é sempre feito de forma selectiva e de acordo com as afinidades de cada um. A esquerda tenta contestar a hegemonia do neoliberalismo e a direita faz algo semelhante noutra coisa qualquer. O que não podemos é pegar no nosso particularismo, mascará-lo de universal e gritar Censura! Isso é batota.

Muitas das críticas ao politicamente correcto não passam de uma forma de vitimização desonesta. Quem vocifera contra a conspiração (esquerdista, claro!) do politicamente correcto, esquece-se que este (em abstracto) sempre existiu e continuará a existir - os animais dos pretos passaram a pessoas, os paneleiros desviados filhos do demo para lá caminham (espera-se) e etcs. O que existe são formas de inclusão-exclusão que vão caracterizando sucessivas ordens públicas particulares. Não existe nenhuma ordem pública sem exclusões, e o tal politicamente correcto não é mais do que uma tentativa de impor um discurso hegemónico face a outras tentativas semelhantes. Podemos dizer que a essência da política (a existir alguma) é isso mesmo: a luta contra ou a favor de determinada ordem hegemónica. Gramsci deu o mote e pós-estruturalistas como Laclau e Mouffe ontologizaram a coisa, universalizando-a. Laclau defende que esta luta constante por um determinado mundo público de significados (a possibilidade de existir política depende da existência de uma contestabilidade permanente) pressupôe que não exista uma Verdade por detrás das aparências (das diferentes lutas particulares que vão animando a história) e que, à esquerda e à direita, é isto, e só isto, que existe. A Verdade politica não se descobre teoricamente, como pensava Marx, mas corresponde sempre a um combate particular e historicamente localizado. Se não existe nada para além de particularidades, a busca por universais puros como A Liberdade, A Tolerância ou A Emancipação é vazio, ou então é um particular mascarado de um universal. O Totalitarismo não é mais do que a ilusão de que, para determinada ordem particular, isto não sucede. Por outras palavras: o totalitarismo é a utopia. Um exemplo à direita é a imposição de uma determinada linguagem para falar do "mercado" ou do "liberalismo". Parece-me evidente que existe um determinado discurso com tendência hegemónica, suportado por certas práticas e instituições, que se tende a impôr aos demais. Aqui também existe "politicamente correcto" e não me lembro virem a público dizer que se está a silenciar a teoria do valor de Marx, ou coisas do género. Ou melhor, há; mas apenas à esquerda.Esta lengalenga serve basicamente para dizer uma coisa: deixem-se de abstracções espectrais (A Conspiração da Esquerda Censória) e centrem-se no que interessa. Se acham que a palavra "paneleiro" ou outra coisa qualquer devem continuar a ser usadas sem censura social, não se refugiem no Politicamente Correcto ou na Tolerância. É que isto é sempre feito de forma selectiva e de acordo com as afinidades de cada um. A esquerda tenta contestar a hegemonia do neoliberalismo e a direita faz algo semelhante noutra coisa qualquer. O que não podemos é pegar no nosso particularismo, mascará-lo de universal e gritar Censura! Isso é batota.

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