O maravilhoso mundo da cabeça do João Galamba

28-12-2009
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No Jugular, o João Galamba recorre à arma argumentativa que há anos anda a passear pela blogosfera para demolir o meu post de ontem: enche o texto de referências eruditas e concepções metafísicas para que, ao transmitir a ilusão de inteligência, consiga desviar os leitores da minha argumentação e da total ausência de argumentos contra o que efectivamente escrevi.

Há uma crítica que o João me faz e que eu aceito plenamente: fui demasiado simplista ao “explicar” a crise. É, admito, o preço da minha ignorância em relação a tais assuntos. No entanto, apesar de simplista, não me parece que a minha “explicação” seja falsa, nem sequer que o simplismo dela seja suficiente para invalidar o argumento geral do texto. E em lado algum do texto digo que a “culpa” é só do Estado, nem que a “solução” é o mercado: não há “solução” para as “crises”, elas continuarão a existir sempre, e o que procurei saber foi qual a melhor forma de lidar com o facto de que, da acção do Estado ou do “mercado”, sairá, muitas vezes, asneira da grossa.

O João diz ainda que o meu argumento é “uma versão do argumento epistemológico de Hayek em favor dos mercados”. Parece que sim. Não sou grande leitor de Hayek (eu é mais Dunst, tendência Kirsten), mas das vagas ideias que tenho da coisa, é mais ou o menos o mesmo, é. Diz depois o João que a minha “versão” do argumento de Hayek até “parece aceitável”, “estatísticamente”. No entanto, diz o João, tudo assenta numa “falácia”. E aqui o João começa a falar de uma série de coisas que nunca me passaram pela cabeça: fala de “liberdade”, “positiva” e “negativa”, e de como eu penso, erradamente (claro), que o Estado, ao agir, tira forçosamente liberdade aos indivíduos (por acaso, o que eu penso, embora nada tenha a ver com o texto em questão, é que certas acções do Estado tirem alguma liberdade, outras dão, embora para darem tenham que tirar alguma), e finalmente, espirra o cânone comunitarista, para destruir de uma só assoadela todo o meu “liberalismo”.

Primeiro, o João comete o erro de pensar, só porque eu escrevo no Insurgente, que só um “liberal” (não sou). E segundo, usa a argumentação comunitarista de crítica ao liberalismo como teoria política assente em “direitos” (se eu fosse como o João, punha aqui uma palavra em alemão) para criticar um post em que não falo, nem sequer penso, em “direitos”. A ideia de que o indivíduo não é pré-existente ao Estado seria relevante, e contrária ao meu argumento, se eu estivesse a falar de “fronteiras” que, por “direito”, o Estado não deve ultrapassar na sua relação com os cidadãos (não digo “indivíduos” para o João não dizer que eles não existem). No entanto, o meu argumento não passa por qualquer consideração “atomista” acerca da natureza do ser (agora até parecia o João, embora em alemão isto ficasse mais bonito). Passava, apenas e só, pela avaliação, meramente probabilística, da forma como as decisões são tomadas, do impacto que elas poderão ter, e a melhor forma de lidar com esse problema.

O meu argumento, que “estatiscamente” até “parece aceitável”, assentava apenas e só no seguinte: 1) vivemos num mundo de imprevisibilidade, no qual as decisões humanas podem ter um impacto significativo da vidas de todos e cada um; 2) precisamente por essa imprevisibilidade e por esse potencial impacto das decisões que todos nós tomamos, todas elas têm um elevado grau de risco; 3) se os riscos são elevados, será apenas e só de bom senso que as “apostas” sejam o menos elevadas possíveis, que eu aposte um bocadinho aqui e outro bocadinho ali; ou seja, tendo em conta que vivemos nesse mundo de imprevisibilidade e risco elevado, os nossos arranjos políticos devem aligeirar os riscos que corremos, disseminando as “apostas” (o que, ao contrário do que o João Galamba diz, não significa apenas mercado livre, mas também descentralização política e “subsidariedade”, em vez de “grandes soluções” como as que os líderes europeus e americanos tanto gostam, e, acima de tudo, prudência na regulação das actividades humanas).

O João pode ou não concordar com este raciocínio, e se não concordar, até gostaria de perceber porquê, para poder corrigir os meus eventuais (e prováveis) erros. Mas escusa de tentar enganar os leitores, procurando fazer-lhes crer que, para discutir uma questão meramente probabilística (qual a melhor forma de lidar com a imprevisibilidade e o risco?), eu preciso de partir de concepções metafísicas acerca da natureza do Estado e do “Sujeito” (o meu argumento é aceitável ou criticável independentemente da minha concepção acerca da natureza do Estado e do “Sujeito”, e se eu tiver que usar esta palavra mais alguma vez, vou ficar enjoado). Até porque com tanto esforço dispendido a enumerar os autores que, com os cantos da folha ainda por desgastar, tem lá na sua estante, o João se esqueceu de comentar o texto que eu realmente escrevi. O que até nem deve ser culpa minha, porque, ao contrário do que é habitual nos textos do João, o meu até parece ser relativamente legível.

No Jugular, o João Galamba recorre à arma argumentativa que há anos anda a passear pela blogosfera para demolir o meu post de ontem: enche o texto de referências eruditas e concepções metafísicas para que, ao transmitir a ilusão de inteligência, consiga desviar os leitores da minha argumentação e da total ausência de argumentos contra o que efectivamente escrevi.

Há uma crítica que o João me faz e que eu aceito plenamente: fui demasiado simplista ao “explicar” a crise. É, admito, o preço da minha ignorância em relação a tais assuntos. No entanto, apesar de simplista, não me parece que a minha “explicação” seja falsa, nem sequer que o simplismo dela seja suficiente para invalidar o argumento geral do texto. E em lado algum do texto digo que a “culpa” é só do Estado, nem que a “solução” é o mercado: não há “solução” para as “crises”, elas continuarão a existir sempre, e o que procurei saber foi qual a melhor forma de lidar com o facto de que, da acção do Estado ou do “mercado”, sairá, muitas vezes, asneira da grossa.

O João diz ainda que o meu argumento é “uma versão do argumento epistemológico de Hayek em favor dos mercados”. Parece que sim. Não sou grande leitor de Hayek (eu é mais Dunst, tendência Kirsten), mas das vagas ideias que tenho da coisa, é mais ou o menos o mesmo, é. Diz depois o João que a minha “versão” do argumento de Hayek até “parece aceitável”, “estatísticamente”. No entanto, diz o João, tudo assenta numa “falácia”. E aqui o João começa a falar de uma série de coisas que nunca me passaram pela cabeça: fala de “liberdade”, “positiva” e “negativa”, e de como eu penso, erradamente (claro), que o Estado, ao agir, tira forçosamente liberdade aos indivíduos (por acaso, o que eu penso, embora nada tenha a ver com o texto em questão, é que certas acções do Estado tirem alguma liberdade, outras dão, embora para darem tenham que tirar alguma), e finalmente, espirra o cânone comunitarista, para destruir de uma só assoadela todo o meu “liberalismo”.

Primeiro, o João comete o erro de pensar, só porque eu escrevo no Insurgente, que só um “liberal” (não sou). E segundo, usa a argumentação comunitarista de crítica ao liberalismo como teoria política assente em “direitos” (se eu fosse como o João, punha aqui uma palavra em alemão) para criticar um post em que não falo, nem sequer penso, em “direitos”. A ideia de que o indivíduo não é pré-existente ao Estado seria relevante, e contrária ao meu argumento, se eu estivesse a falar de “fronteiras” que, por “direito”, o Estado não deve ultrapassar na sua relação com os cidadãos (não digo “indivíduos” para o João não dizer que eles não existem). No entanto, o meu argumento não passa por qualquer consideração “atomista” acerca da natureza do ser (agora até parecia o João, embora em alemão isto ficasse mais bonito). Passava, apenas e só, pela avaliação, meramente probabilística, da forma como as decisões são tomadas, do impacto que elas poderão ter, e a melhor forma de lidar com esse problema.

O meu argumento, que “estatiscamente” até “parece aceitável”, assentava apenas e só no seguinte: 1) vivemos num mundo de imprevisibilidade, no qual as decisões humanas podem ter um impacto significativo da vidas de todos e cada um; 2) precisamente por essa imprevisibilidade e por esse potencial impacto das decisões que todos nós tomamos, todas elas têm um elevado grau de risco; 3) se os riscos são elevados, será apenas e só de bom senso que as “apostas” sejam o menos elevadas possíveis, que eu aposte um bocadinho aqui e outro bocadinho ali; ou seja, tendo em conta que vivemos nesse mundo de imprevisibilidade e risco elevado, os nossos arranjos políticos devem aligeirar os riscos que corremos, disseminando as “apostas” (o que, ao contrário do que o João Galamba diz, não significa apenas mercado livre, mas também descentralização política e “subsidariedade”, em vez de “grandes soluções” como as que os líderes europeus e americanos tanto gostam, e, acima de tudo, prudência na regulação das actividades humanas).

O João pode ou não concordar com este raciocínio, e se não concordar, até gostaria de perceber porquê, para poder corrigir os meus eventuais (e prováveis) erros. Mas escusa de tentar enganar os leitores, procurando fazer-lhes crer que, para discutir uma questão meramente probabilística (qual a melhor forma de lidar com a imprevisibilidade e o risco?), eu preciso de partir de concepções metafísicas acerca da natureza do Estado e do “Sujeito” (o meu argumento é aceitável ou criticável independentemente da minha concepção acerca da natureza do Estado e do “Sujeito”, e se eu tiver que usar esta palavra mais alguma vez, vou ficar enjoado). Até porque com tanto esforço dispendido a enumerar os autores que, com os cantos da folha ainda por desgastar, tem lá na sua estante, o João se esqueceu de comentar o texto que eu realmente escrevi. O que até nem deve ser culpa minha, porque, ao contrário do que é habitual nos textos do João, o meu até parece ser relativamente legível.

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