O Banheirense

25-01-2011
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Sicko 2: A destruição do Serviço Nacional de Saúde britânico por John Pilger Deitado numa cama de hospital, cumpridos e bem todos os procedimentos, com uma chávena de chá a acompanhar agradavelmente a última dose de morfina, assistimos ao que há de melhor. Por melhor, quero dizer um vislumbre de uma sociedade sem os dogmáticos histriões dos media e da política determinados a mudar a forma como pensamos. Isso é o que há de pior. Por melhor, recordo a inesquecível manifestação dos mineiros de Murton, County Durham, surgindo em meio ao nevoeiro numa fria manhã de Março, com as mulheres a desfilarem à frente, a voltarem para o fosso da mina. Não importa que tenham sido derrotados por forças superiores, eles eram os melhores. Numa cama de hospital, provavelmente o melhor é mais corriqueiro, com pessoas a trabalhar rotineiramente, escutando, respondendo, tranquilizando. O vocabulário dessas pessoas não é o da linguagem empresarial. A sua 'produtividade' não é um artifício para o lucro. O seu empenhamento não tem uma meta a cumprir e a sua camaradagem é como uma presença, e nós passamos a fazer parte dela. O denominador comum é a humanidade e a preocupação. Que exótico que isto soa. Ligamos a televisão do hospital e deparamos com um outro mundo bizarro de "notícias", com idiotas famosos a tecerem a destruição final da sociedade. Lá está o louco do Blair a apelar para um ataque ao Irão e o secretário da educação, Ed Balls, a vender os seus diplomas falsos, e o primeiro-ministro Gordon Brown, que acabou de receber Rupert Murdoch e Alan Greenspan, a anunciar o seu "regresso à liberdade" juntamente com as suas últimas "reformas" que são uma safadeza para com a instituição que personifica a liberdade na Grã-Bretanha: o Serviço Nacional de Saúde. Nenhum deles tem a mais pequena ligação com as pessoas que mantêm o meu hospital a funcionar. O divisor de águas na Grã-Bretanha de hoje está entre uma sociedade representada por aqueles que mantêm o Serviço de Saúde a funcionar, e a sua mutação sintetizada pelo governo trabalhista de Blair e de Brown. No filme Sicko, de Moore, o socialista Tony Benn profetiza uma revolução na Grã-Bretanha se o SNS for abolido. Mas o Serviço de Saúde da Grã-Bretanha está a ser destruído por desgaste, e se as últimas "reformas" não forem impedidas, será tarde demais para erguer barricadas. A 5 de Outubro, o secretário da Saúde, Alan Johnson, aprovou uma lista de catorze empresas que serão consultoras e assumirão a "delegação de poderes" dos serviços do SNS. Ser-lhes-á dada a possibilidade de escolha, se não o próprio controlo, sobre quais os tratamentos que os doentes devem receber e quem é que os irá proporcionar. Elas têm garantidos lucros de muitos milhões. Essas empresas incluem as americanas UnitedHealth, Aetna e Humana. Estas organizações totalitárias têm sido multadas muitas vezes pelo seu conhecido papel no sistema de serviços de saúde americanos. No ano passado, o director geral da UnitedHealth, William McGuire, que ganhava 125 mil de dólares por ano, demitiu-se na sequência de um escândalo de direito de opção. Em Setembro, a companhia aceitou pagar 20 mil dólares de multa "por não atender a reclamações e não responder às queixas dos doentes". A Aetna teve que pagar 120 mil dólares de indemnização depois de um júri na Califórnia a ter condenado por "má-fé, opressão e fraude". No filme Sicko, mostra-se uma analista médica da Humana a testemunhar no Congresso que provocou a morte de um homem por lhe recusar assistência para poupar o dinheiro da empresa. Todos os anos morrem cerca de 18 mil americanos porque não têm acesso aos cuidados de saúde ou porque não os podem pagar. Estas empresas são as amigas do governo trabalhista. Simon Stevens, antigo conselheiro da política de saúde de Blair, é hoje director executivo da UnitedHealth. Julian Le Grand, que escreve no Guardian como um distinto professor, dá a sua aprovação esclarecida às "reformas" – também ele foi conselheiro de Blair. Em Manchester, há outras "reformas" em vias de destruir os serviços do SNS para os doentes mentais. William Scott suicidou-se depois de deixar de ter o apoio de um trabalhador do SNS que tratou dele durante oito anos. O que tudo isto significa é que o SNS está a passar sub-repticiamente para a privatização. É esta a política não confessada do governo de Brown, cujas acções predadoras no exterior estão a ser copiadas internamente. Foi Brown, enquanto tesoureiro, que promoveu a desastrosa "iniciativa financeira privada" como uma artimanha para construir novos hospitais, enquanto entregava enormes lucros a companhias suas protegidas. Em consequência disso, o SNS está a ser sangrado em 700 mil libras por ano. Isto provocou uma desnecessária "crise financeira" que é o argumento do 'Ardil 22' [NT1] para permitir que apareçam mais oportunistas para se apoderem do que foi outrora a maior proeza do antigo governo trabalhista. Vamos permitir que eles se safem com isto? 01/Novembro/2007 [NT1] Na novela Catch 22, de Joseph Heller, a expressão 'Ardil 22' adquiriu um uso idiomático com o sentido de 'beco sem saída'. Ver também: Porque eles temem Michael Moore , de John Pilger. O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=461


Sicko 2: A destruição do Serviço Nacional de Saúde britânico por John Pilger Deitado numa cama de hospital, cumpridos e bem todos os procedimentos, com uma chávena de chá a acompanhar agradavelmente a última dose de morfina, assistimos ao que há de melhor. Por melhor, quero dizer um vislumbre de uma sociedade sem os dogmáticos histriões dos media e da política determinados a mudar a forma como pensamos. Isso é o que há de pior. Por melhor, recordo a inesquecível manifestação dos mineiros de Murton, County Durham, surgindo em meio ao nevoeiro numa fria manhã de Março, com as mulheres a desfilarem à frente, a voltarem para o fosso da mina. Não importa que tenham sido derrotados por forças superiores, eles eram os melhores. Numa cama de hospital, provavelmente o melhor é mais corriqueiro, com pessoas a trabalhar rotineiramente, escutando, respondendo, tranquilizando. O vocabulário dessas pessoas não é o da linguagem empresarial. A sua 'produtividade' não é um artifício para o lucro. O seu empenhamento não tem uma meta a cumprir e a sua camaradagem é como uma presença, e nós passamos a fazer parte dela. O denominador comum é a humanidade e a preocupação. Que exótico que isto soa. Ligamos a televisão do hospital e deparamos com um outro mundo bizarro de "notícias", com idiotas famosos a tecerem a destruição final da sociedade. Lá está o louco do Blair a apelar para um ataque ao Irão e o secretário da educação, Ed Balls, a vender os seus diplomas falsos, e o primeiro-ministro Gordon Brown, que acabou de receber Rupert Murdoch e Alan Greenspan, a anunciar o seu "regresso à liberdade" juntamente com as suas últimas "reformas" que são uma safadeza para com a instituição que personifica a liberdade na Grã-Bretanha: o Serviço Nacional de Saúde. Nenhum deles tem a mais pequena ligação com as pessoas que mantêm o meu hospital a funcionar. O divisor de águas na Grã-Bretanha de hoje está entre uma sociedade representada por aqueles que mantêm o Serviço de Saúde a funcionar, e a sua mutação sintetizada pelo governo trabalhista de Blair e de Brown. No filme Sicko, de Moore, o socialista Tony Benn profetiza uma revolução na Grã-Bretanha se o SNS for abolido. Mas o Serviço de Saúde da Grã-Bretanha está a ser destruído por desgaste, e se as últimas "reformas" não forem impedidas, será tarde demais para erguer barricadas. A 5 de Outubro, o secretário da Saúde, Alan Johnson, aprovou uma lista de catorze empresas que serão consultoras e assumirão a "delegação de poderes" dos serviços do SNS. Ser-lhes-á dada a possibilidade de escolha, se não o próprio controlo, sobre quais os tratamentos que os doentes devem receber e quem é que os irá proporcionar. Elas têm garantidos lucros de muitos milhões. Essas empresas incluem as americanas UnitedHealth, Aetna e Humana. Estas organizações totalitárias têm sido multadas muitas vezes pelo seu conhecido papel no sistema de serviços de saúde americanos. No ano passado, o director geral da UnitedHealth, William McGuire, que ganhava 125 mil de dólares por ano, demitiu-se na sequência de um escândalo de direito de opção. Em Setembro, a companhia aceitou pagar 20 mil dólares de multa "por não atender a reclamações e não responder às queixas dos doentes". A Aetna teve que pagar 120 mil dólares de indemnização depois de um júri na Califórnia a ter condenado por "má-fé, opressão e fraude". No filme Sicko, mostra-se uma analista médica da Humana a testemunhar no Congresso que provocou a morte de um homem por lhe recusar assistência para poupar o dinheiro da empresa. Todos os anos morrem cerca de 18 mil americanos porque não têm acesso aos cuidados de saúde ou porque não os podem pagar. Estas empresas são as amigas do governo trabalhista. Simon Stevens, antigo conselheiro da política de saúde de Blair, é hoje director executivo da UnitedHealth. Julian Le Grand, que escreve no Guardian como um distinto professor, dá a sua aprovação esclarecida às "reformas" – também ele foi conselheiro de Blair. Em Manchester, há outras "reformas" em vias de destruir os serviços do SNS para os doentes mentais. William Scott suicidou-se depois de deixar de ter o apoio de um trabalhador do SNS que tratou dele durante oito anos. O que tudo isto significa é que o SNS está a passar sub-repticiamente para a privatização. É esta a política não confessada do governo de Brown, cujas acções predadoras no exterior estão a ser copiadas internamente. Foi Brown, enquanto tesoureiro, que promoveu a desastrosa "iniciativa financeira privada" como uma artimanha para construir novos hospitais, enquanto entregava enormes lucros a companhias suas protegidas. Em consequência disso, o SNS está a ser sangrado em 700 mil libras por ano. Isto provocou uma desnecessária "crise financeira" que é o argumento do 'Ardil 22' [NT1] para permitir que apareçam mais oportunistas para se apoderem do que foi outrora a maior proeza do antigo governo trabalhista. Vamos permitir que eles se safem com isto? 01/Novembro/2007 [NT1] Na novela Catch 22, de Joseph Heller, a expressão 'Ardil 22' adquiriu um uso idiomático com o sentido de 'beco sem saída'. Ver também: Porque eles temem Michael Moore , de John Pilger. O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=461

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