o tempo das cerejas*: Marcelo e a PIDE (epílogo triste)

28-05-2010
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Finalmente, Marcelo faloumas não disse nada Sob o título «Marcelo Rebelo de Sousa esclarece», o Público dá hoje à estampa uma carta do Professor universitário e comentador que constitui uma resposta (apenas ímplicita) à minha anterior carta e à carta de Joana Lopes. Sendo óbvio que a sua avaliação pelos leitores pressupõe uma atenta revisitação aqui quer daquilo que o Público divulgou em 16/3 quer dos meus posteriores argumentos e perguntas, é o seguinte o teor do «esclarecimento» de Marcelo Rebelo de Sousa:«Três palavras. Uma, para cumprimentar Clara Viana pela sua prosa sobre a PIDE/DGS, há trinta anos. Outra, para confirmar que corresponde à verdade a sua documentação acerca de actividades minhas, na universidade, de afixação e distribuição do que chamava «propaganda subversiva», tal como foi verdadeira a sua proibição, já em 1971, de associação ADOC. por informação sua de ser «subversiva». Terceira, para sublinhar que estes e outros factos só revelam o fechamento da ditadura em relação a correntes moderadas, que se intitulavam de sociais-democratas ou sociais-cristãs, e não têm paralelo com actividades de partidos ou movimentos oposicionistas sujeitos a repressão bem mais intensa do que o controlo da censura ou o acompanhamento de actividades estudantis e de grupo que sobre mim incidiu. Por isso, sempre achei deslocado aludir à matéria. Aliás, só agora, ao acede ao arquivo da PIDE/DGS, descobri a extensão desse acompanhamento, a partir de 1966, era eu um primeiroanista de Direito com 17 anos...». [os sublinhados são meus,VD].Aqui chegados, é tempo de dizer que confio plenamente que quem ler o que saíu no Público de 16/3 e tenha lido o meu «post» e carta ao jornal bem como o «post» e carta similar de Joana Lopes e ler agora este «esclarecimento» de Marcelo Rebelo de Sousa rapidamente concluirá que ele não esclarece nada e mantém intactas todas as perguntas, estranhezas e perplexidades que alguns resolvemos manifestar.Com efeito, M.R.S. afirma que «corresponde à verdade» a «documentação» da PIDE acerca da sua actividade de afixação e distribuição de propaganda que a PIDE considerava «subversiva». Mas não é capaz de responder ao meu desafio para explicitar que «cartazes» eram esses e que «propaganda» (vista como «subversiva» pela PIDE») era essa.Acresce que, desta vez, situa essas suas actividades «na universidade» mas cabe aqui lembrar que, na universidade, cartazes ou propaganda que pudessem ser considerados (e às vezes eram mesmo) «subversivos» só se encontravam nas instalações das Associações de Estudantes ( desde cartazes a denunciar a prisão de estudantes até outros mais ligeiros, como aquele que, na AAFDL, publicitou uma excursão a uma conhecida vila piscatória sob o slogan «Vai a Peniche antes que acabe !») ou em distribuição exterior por iniciativa delas, ou seja num âmbito ao qual M.R.S nunca teve qualquer ligação ou integração.Finalmente, creio ser de registar que Marcelo Rebelo de Sousa resolveu passar ao lado da sua perscutante previsão de Janeiro de 1973 sobre um próximo e inevitável acto de força dos militares, quando até podia ter resolvido o problema esclarecendo que, quando o disse, não estava a pensar em cenários de MFA, mas sim nas raivas a Marcelo Caetano e planos conspiratórios de Kaulza de Arriaga & Cª.Para falar com franqueza, acho que o Professor Marcelo não sai nada bem desta história e palpita-me que, para a próxima, ele e outros serão mais prudentes e avisados.[A este respeito, ver também aqui comentário sintético de Joana Lopes]


Finalmente, Marcelo faloumas não disse nada Sob o título «Marcelo Rebelo de Sousa esclarece», o Público dá hoje à estampa uma carta do Professor universitário e comentador que constitui uma resposta (apenas ímplicita) à minha anterior carta e à carta de Joana Lopes. Sendo óbvio que a sua avaliação pelos leitores pressupõe uma atenta revisitação aqui quer daquilo que o Público divulgou em 16/3 quer dos meus posteriores argumentos e perguntas, é o seguinte o teor do «esclarecimento» de Marcelo Rebelo de Sousa:«Três palavras. Uma, para cumprimentar Clara Viana pela sua prosa sobre a PIDE/DGS, há trinta anos. Outra, para confirmar que corresponde à verdade a sua documentação acerca de actividades minhas, na universidade, de afixação e distribuição do que chamava «propaganda subversiva», tal como foi verdadeira a sua proibição, já em 1971, de associação ADOC. por informação sua de ser «subversiva». Terceira, para sublinhar que estes e outros factos só revelam o fechamento da ditadura em relação a correntes moderadas, que se intitulavam de sociais-democratas ou sociais-cristãs, e não têm paralelo com actividades de partidos ou movimentos oposicionistas sujeitos a repressão bem mais intensa do que o controlo da censura ou o acompanhamento de actividades estudantis e de grupo que sobre mim incidiu. Por isso, sempre achei deslocado aludir à matéria. Aliás, só agora, ao acede ao arquivo da PIDE/DGS, descobri a extensão desse acompanhamento, a partir de 1966, era eu um primeiroanista de Direito com 17 anos...». [os sublinhados são meus,VD].Aqui chegados, é tempo de dizer que confio plenamente que quem ler o que saíu no Público de 16/3 e tenha lido o meu «post» e carta ao jornal bem como o «post» e carta similar de Joana Lopes e ler agora este «esclarecimento» de Marcelo Rebelo de Sousa rapidamente concluirá que ele não esclarece nada e mantém intactas todas as perguntas, estranhezas e perplexidades que alguns resolvemos manifestar.Com efeito, M.R.S. afirma que «corresponde à verdade» a «documentação» da PIDE acerca da sua actividade de afixação e distribuição de propaganda que a PIDE considerava «subversiva». Mas não é capaz de responder ao meu desafio para explicitar que «cartazes» eram esses e que «propaganda» (vista como «subversiva» pela PIDE») era essa.Acresce que, desta vez, situa essas suas actividades «na universidade» mas cabe aqui lembrar que, na universidade, cartazes ou propaganda que pudessem ser considerados (e às vezes eram mesmo) «subversivos» só se encontravam nas instalações das Associações de Estudantes ( desde cartazes a denunciar a prisão de estudantes até outros mais ligeiros, como aquele que, na AAFDL, publicitou uma excursão a uma conhecida vila piscatória sob o slogan «Vai a Peniche antes que acabe !») ou em distribuição exterior por iniciativa delas, ou seja num âmbito ao qual M.R.S nunca teve qualquer ligação ou integração.Finalmente, creio ser de registar que Marcelo Rebelo de Sousa resolveu passar ao lado da sua perscutante previsão de Janeiro de 1973 sobre um próximo e inevitável acto de força dos militares, quando até podia ter resolvido o problema esclarecendo que, quando o disse, não estava a pensar em cenários de MFA, mas sim nas raivas a Marcelo Caetano e planos conspiratórios de Kaulza de Arriaga & Cª.Para falar com franqueza, acho que o Professor Marcelo não sai nada bem desta história e palpita-me que, para a próxima, ele e outros serão mais prudentes e avisados.[A este respeito, ver também aqui comentário sintético de Joana Lopes]

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