Fiel Inimigo: Guerrrra

19-12-2009
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O leitor menos dado à exegese bloquista não terá ainda reparado, mas fica agora a saber que os dirigentes máximos do BE têm uma fonética própria que parece funcionar como sinal iniciático, mais ou menos do mesmo modo que a exibição do sudário de Che Guevara define a pertença a um certo e determinado grupo, pouco dado ao uso da parte nobre do cérebro.Admito que não costumo dar às homilias do Dr. Louçã a importância que inegavelmente merecem no capítulo do entretenimento, mau hábito que me tem feito perder alguns dos mais significativos contributos para a causa do humor nacional.Mas quando o Dr. Louçã fala de guerra, as minhas orelhas reagem de uma forma já minuciosamente explicada pelo Dr. Pavlov.Não porque a contribuição do Dr. Louçã para o avanço desta área do conhecimento seja extraordinária, pese embora ser filho de um almirante do Estado Novo, mas pela poderosa vibração linguo-palatal que imprime ao vocábulo, arrastando os vibrantes “rrrrrr”, numa indignadíssima “guerrrrrrra”.Ora isto é novo.Quando o Dr. Louçã fala pacatamente da questãozinha do Darfur, a guerra não vibra por aí além.Mas quando se refere por exemplo à “Cimeira da Guerrrra”, a “guerrrrra” reverbera numa prolongada vibração que comunica aos embasbacados fiéis o quanto o Dr. Louçã se indigna com tão horrífico assunto.Ao notar o fenómeno, pensei que fosse apenas um sotaque regional, como os “bbb” do Norte ou os “xxx” da Beira Alta.Mas depois reparei que a vibração linguo-palatal só era usada em certas circunstâncias, de especial gravidade, e percebi que havia ali algo de profundo e inovador, talvez até uma verdadeira fonética da indignação, susceptível de inflamar os fiéis e os fazer comungar nos êxtases colérico-místicos do Dr. Louçã.Há dias ouvi uma homilia do Dr. Pureza, (fui apanhado no carro de um amigo e não quis parecer mal-educado mudando de estação) e eis senão quando, a propósito de já não sei que importantíssimo assunto, o Dr. Pureza, arremeteu com uma formidável “guerrrrra” que, na minha opinião de entendido, está perfeitamente à altura das “guerrrras” do Dr. Louçã, chegando mesmo a superá-las em momentos de virtuosa execução.Há assunto para uma tese.Os dirigentes do BE parecem usar a vibração linguo-palatal em assuntos “guerrrrreiros”, da mesma forma que o Operário Jerónimo imita as mudanças de tom características do saudoso Dr. Cunhal.Trata-se portanto, não só de uma mera fonética da indignação, como erradamente pensei a princípio, mas também da marca inconfundível dos líderes. Eu, se fosse o Dr. Louçã, mantinha o Dr. Pureza em rédea curta e sempre debaixo de olho.Pelo menos até à próxima purga.


O leitor menos dado à exegese bloquista não terá ainda reparado, mas fica agora a saber que os dirigentes máximos do BE têm uma fonética própria que parece funcionar como sinal iniciático, mais ou menos do mesmo modo que a exibição do sudário de Che Guevara define a pertença a um certo e determinado grupo, pouco dado ao uso da parte nobre do cérebro.Admito que não costumo dar às homilias do Dr. Louçã a importância que inegavelmente merecem no capítulo do entretenimento, mau hábito que me tem feito perder alguns dos mais significativos contributos para a causa do humor nacional.Mas quando o Dr. Louçã fala de guerra, as minhas orelhas reagem de uma forma já minuciosamente explicada pelo Dr. Pavlov.Não porque a contribuição do Dr. Louçã para o avanço desta área do conhecimento seja extraordinária, pese embora ser filho de um almirante do Estado Novo, mas pela poderosa vibração linguo-palatal que imprime ao vocábulo, arrastando os vibrantes “rrrrrr”, numa indignadíssima “guerrrrrrra”.Ora isto é novo.Quando o Dr. Louçã fala pacatamente da questãozinha do Darfur, a guerra não vibra por aí além.Mas quando se refere por exemplo à “Cimeira da Guerrrra”, a “guerrrrra” reverbera numa prolongada vibração que comunica aos embasbacados fiéis o quanto o Dr. Louçã se indigna com tão horrífico assunto.Ao notar o fenómeno, pensei que fosse apenas um sotaque regional, como os “bbb” do Norte ou os “xxx” da Beira Alta.Mas depois reparei que a vibração linguo-palatal só era usada em certas circunstâncias, de especial gravidade, e percebi que havia ali algo de profundo e inovador, talvez até uma verdadeira fonética da indignação, susceptível de inflamar os fiéis e os fazer comungar nos êxtases colérico-místicos do Dr. Louçã.Há dias ouvi uma homilia do Dr. Pureza, (fui apanhado no carro de um amigo e não quis parecer mal-educado mudando de estação) e eis senão quando, a propósito de já não sei que importantíssimo assunto, o Dr. Pureza, arremeteu com uma formidável “guerrrrra” que, na minha opinião de entendido, está perfeitamente à altura das “guerrrras” do Dr. Louçã, chegando mesmo a superá-las em momentos de virtuosa execução.Há assunto para uma tese.Os dirigentes do BE parecem usar a vibração linguo-palatal em assuntos “guerrrrreiros”, da mesma forma que o Operário Jerónimo imita as mudanças de tom características do saudoso Dr. Cunhal.Trata-se portanto, não só de uma mera fonética da indignação, como erradamente pensei a princípio, mas também da marca inconfundível dos líderes. Eu, se fosse o Dr. Louçã, mantinha o Dr. Pureza em rédea curta e sempre debaixo de olho.Pelo menos até à próxima purga.

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