VERITAS: Notas soltas: Novembro

13-11-2009
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Notas soltas: Novembro/2004

EUA – A reeleição de Bush, desta vez com mais votos do que o adversário, é um alento para a pena de morte, a tortura e o terrorismo. O integrismo cristão, o medo e os interesses petrolíferos foram os grandes vencedores.

Médio Oriente – Bush e Bin Laden são fundamentalistas religiosos que precisam um do outro. A fé messiânica que os une e assemelha é um problema que compromete as soluções de paz no mundo árabe.

Iraque – A derrota dos EUA e dos seus aliados é já uma certeza que a escalada da violência sublinha. Os países árabes ficam condenados à barbárie islâmica, com o Estado de Israel em risco de colapso e a democracia cada vez mais longe.

Tribunais – A absolvição da jovem que, aos 17 anos, ingeriu comprimidos para abortar enobrece a juíza e desacredita a lei. Os delatores – o enfermeiro e a médica – traíram a honra, o segredo profissional e o dever de humanidade.

Bíblia manuscrita – O Presidente da República de um país laico não deve apoiar um acto de proselitismo religioso, tal como não deve promover o ateísmo, igualmente respeitável, e mais de acordo com a sua formação.

Central de Informação – Foram destacados dois ministros e vários assessores de imprensa para o serviço de Propaganda. Na reedição pífia do velho SNI, que o PR vetou, pareciam os músicos do Titanic a tanger os violinos durante o naufrágio.

Censura – A investida contra a TVI, RTP, TSF, DN e PT Multimédia, resultou em cheio. O caso Marcelo apenas pôs a nu a ponta do icebergue que tem sacrificado inúmeros jornalistas, vítimas de pressões políticas, económicas e redactoriais.

Sabugal [BE1] – A Câmara Municipal abriu vagas para um sociólogo e um segundo veterinário. Por feliz coincidência, a primeira foi ocupada pela filha do presidente e a segunda pelo filho. É a apoteose do poder local no seu máximo esplendor.

Holanda – O realizador Theo van Gogh foi sucessivamente baleado, esfaqueado e degolado como represália pelo documentário que denuncia o tratamento bárbaro que os muçulmanos do Magreb infligem às mulheres. Eis o espírito de paz da religião.

Constituição Europeia – A Carta de Direitos Fundamentais é a garantia de que o tratado contempla as aspirações mais profundas dos cidadãos, merecendo que os 25 países acolham o melhor e mais promissor projecto colectivo da história europeia.

Yasser Arafat – O herói e a lenda confundem-se na figura singular de quem era o rosto e o líder incontestado da Palestina. Morreu com os sonhos desfeitos de um país por fazer, refém da anarquia, da pobreza, do caos e de Israel.

GNR – A comovente ternura com que o ministro da tutela apelida de «missão de paz» a ocupação do Iraque não convence o País da bondade da cumplicidade portuguesa nem da iminência da democracia em Bagdade.

Economia – Este Governo transformou a crise orçamental, que herdou, em crise económica, agravou as duas, consternou o país e lançou os portugueses numa crise de desemprego que em Outubro atingiu o máximo de que há registo.

PSD – O Congresso destinou-se a ratificar o endosso do partido e do Governo. A unção do líder adiou a queda do primeiro-ministro não eleito mas nos aplausos dos congressistas, acossados pelo medo de perder o poder, foi já o requiem que se escutou.

Rui Rio – Ao consagrar-se como primeiro vice-presidente da Comissão Política do PSD, pode tornar-se o próximo primeiro-ministro se as circunstâncias e a fraude política que guindaram Santana Lopes vierem a repetir-se.

PCP – Jerónimo de Sousa – o novo secretário-geral – é um comunista culto, determinado e acutilante. Conotado com o sector mais ortodoxo, arrisca-se a ver reduzir a base social de apoio e a influência sindical, autárquica e parlamentar do PCP.

Carlos Carvalhas – O economista sólido, distinto intelectual e cidadão íntegro, provou ser um político hábil e sensato. A comunicação social foi-lhe desfavorável mas o futuro julgá-lo-á pela forma como geriu o PCP 12 anos em condições tão adversas.

Orçamento/ 2005 – Foi aprovado pelo PSD/CDS com desconfiança do Banco de Portugal, dos agentes económicos e dos trabalhadores. A alteração da política anterior, só por si, não foi má, mas quase todos duvidam do orçamento e do autor.

Remodelação 1 – A troca de cadeiras entre ministros e mexidas em secretários de Estado, apenas poupou um desastrado ministro à pressão da comunicação social e mostrou que é inútil qualquer remodelação que exclua o primeiro-ministro.

Fernando Valle – Aos 104 anos desaparece uma referência da luta antifascista. Cidadão exemplar, médico, fundador do PS, político e maçom, exerceu um magistério de cultura cívica difícil de superar.

Remodelação 2 – O Governo não precisa da Oposição para cair, basta-lhe o PSD. A incubadora foi um desperdício para o bebé, demasiado prematuro para vingar. Devia ter sido atirado fora com a água do primeiro banho.

Posted by carlos_esperanca at novembro 30, 2004 06:07 PM

Notas soltas: Novembro/2004

EUA – A reeleição de Bush, desta vez com mais votos do que o adversário, é um alento para a pena de morte, a tortura e o terrorismo. O integrismo cristão, o medo e os interesses petrolíferos foram os grandes vencedores.

Médio Oriente – Bush e Bin Laden são fundamentalistas religiosos que precisam um do outro. A fé messiânica que os une e assemelha é um problema que compromete as soluções de paz no mundo árabe.

Iraque – A derrota dos EUA e dos seus aliados é já uma certeza que a escalada da violência sublinha. Os países árabes ficam condenados à barbárie islâmica, com o Estado de Israel em risco de colapso e a democracia cada vez mais longe.

Tribunais – A absolvição da jovem que, aos 17 anos, ingeriu comprimidos para abortar enobrece a juíza e desacredita a lei. Os delatores – o enfermeiro e a médica – traíram a honra, o segredo profissional e o dever de humanidade.

Bíblia manuscrita – O Presidente da República de um país laico não deve apoiar um acto de proselitismo religioso, tal como não deve promover o ateísmo, igualmente respeitável, e mais de acordo com a sua formação.

Central de Informação – Foram destacados dois ministros e vários assessores de imprensa para o serviço de Propaganda. Na reedição pífia do velho SNI, que o PR vetou, pareciam os músicos do Titanic a tanger os violinos durante o naufrágio.

Censura – A investida contra a TVI, RTP, TSF, DN e PT Multimédia, resultou em cheio. O caso Marcelo apenas pôs a nu a ponta do icebergue que tem sacrificado inúmeros jornalistas, vítimas de pressões políticas, económicas e redactoriais.

Sabugal [BE1] – A Câmara Municipal abriu vagas para um sociólogo e um segundo veterinário. Por feliz coincidência, a primeira foi ocupada pela filha do presidente e a segunda pelo filho. É a apoteose do poder local no seu máximo esplendor.

Holanda – O realizador Theo van Gogh foi sucessivamente baleado, esfaqueado e degolado como represália pelo documentário que denuncia o tratamento bárbaro que os muçulmanos do Magreb infligem às mulheres. Eis o espírito de paz da religião.

Constituição Europeia – A Carta de Direitos Fundamentais é a garantia de que o tratado contempla as aspirações mais profundas dos cidadãos, merecendo que os 25 países acolham o melhor e mais promissor projecto colectivo da história europeia.

Yasser Arafat – O herói e a lenda confundem-se na figura singular de quem era o rosto e o líder incontestado da Palestina. Morreu com os sonhos desfeitos de um país por fazer, refém da anarquia, da pobreza, do caos e de Israel.

GNR – A comovente ternura com que o ministro da tutela apelida de «missão de paz» a ocupação do Iraque não convence o País da bondade da cumplicidade portuguesa nem da iminência da democracia em Bagdade.

Economia – Este Governo transformou a crise orçamental, que herdou, em crise económica, agravou as duas, consternou o país e lançou os portugueses numa crise de desemprego que em Outubro atingiu o máximo de que há registo.

PSD – O Congresso destinou-se a ratificar o endosso do partido e do Governo. A unção do líder adiou a queda do primeiro-ministro não eleito mas nos aplausos dos congressistas, acossados pelo medo de perder o poder, foi já o requiem que se escutou.

Rui Rio – Ao consagrar-se como primeiro vice-presidente da Comissão Política do PSD, pode tornar-se o próximo primeiro-ministro se as circunstâncias e a fraude política que guindaram Santana Lopes vierem a repetir-se.

PCP – Jerónimo de Sousa – o novo secretário-geral – é um comunista culto, determinado e acutilante. Conotado com o sector mais ortodoxo, arrisca-se a ver reduzir a base social de apoio e a influência sindical, autárquica e parlamentar do PCP.

Carlos Carvalhas – O economista sólido, distinto intelectual e cidadão íntegro, provou ser um político hábil e sensato. A comunicação social foi-lhe desfavorável mas o futuro julgá-lo-á pela forma como geriu o PCP 12 anos em condições tão adversas.

Orçamento/ 2005 – Foi aprovado pelo PSD/CDS com desconfiança do Banco de Portugal, dos agentes económicos e dos trabalhadores. A alteração da política anterior, só por si, não foi má, mas quase todos duvidam do orçamento e do autor.

Remodelação 1 – A troca de cadeiras entre ministros e mexidas em secretários de Estado, apenas poupou um desastrado ministro à pressão da comunicação social e mostrou que é inútil qualquer remodelação que exclua o primeiro-ministro.

Fernando Valle – Aos 104 anos desaparece uma referência da luta antifascista. Cidadão exemplar, médico, fundador do PS, político e maçom, exerceu um magistério de cultura cívica difícil de superar.

Remodelação 2 – O Governo não precisa da Oposição para cair, basta-lhe o PSD. A incubadora foi um desperdício para o bebé, demasiado prematuro para vingar. Devia ter sido atirado fora com a água do primeiro banho.

Posted by carlos_esperanca at novembro 30, 2004 06:07 PM

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