Exílio de Andarilho: Miguel Sousa Tavares e "as lojas chinesas"

05-08-2010
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(...) O problema das ‘lojas chinesas’ não está apenas na concorrência desleal que fazem, trabalhando em famílias organizadas, sem horários nem direitos sociais, e vendendo a metade do preço produtos fabricados na China em regime de ‘dumping social’, que Jerónimo de Sousa imagina ser a versão actualizada do comunismo. De facto, para o peditório dos pasmados ‘comerciantes tradicionais’ da Baixa, já demos de mais e sempre em vão. Eles não querem, não sabem e não irão nunca reciclar-se.O problema também não está na nacionalidade dos donos, mas sim nas próprias lojas. O problema é que as ‘lojas chinesas’ são feias por fora e por dentro, com um aspecto sujo e degradado, e praticando um tipo de comércio de século XIX para cidades feias, sujas e degradadas. Se queremos recuperar e ressuscitar a Baixa, é óbvio que elas estão a mais ali. Se uma cidade não tem o poder de determinar que tipo de estabelecimentos quer e tolera nas suas zonas históricas, porque com isso pode atingir interesses de uma comunidade cuja cultura e hábitos são um enxerto estranho no seu meio, então mais vale dizer que prescindimos de qualquer política de defesa de valores culturais próprios. E, se temos de nos conformar com o ‘estilo chinês’ do pequeno comércio, então também teremos de aceitar passivamente as tabancas portuguesas com balcões de zinco, luzes de néon, cadeiras de plástico e toldos da ‘Olá’. (...)--/--/--MST gostaria de ser um dia uma espécie de grande sacerdote com poderes de vida e de morte sobre os seus concidadãos e sobre as suas opções de vida. Para ele ou as coisas se ajustam aos arquétipos que arroga justos ou verdadeiros ou os pequenotes mortais estão condenadas ao degredo eterno. Os "chineses" são os novos alvos das prédicas justiceiras e acaloradas de MST, os quais pelos vistos poluem o tecido urbano, por exemplo esse espaço de inutilidade turística que se chama a Baixa de Lisboa. Foleiros, pirosos, os chineses estão a dar cabo - dizem os xicos expertos - dos nossos pequenos e médios empresários. Coitados dos empresários. Porque funcionam a desoras, vivem por cima do estabelecimento, vendem coisas foleiras, não cumprem os horários de trabalho que os talibans do sindicalismo um dia impuseram como "regras" de vida urbana. Miseráveis, tais "dejectos" não têm direito à vida. Há que exterminá-los, surrá-los ou pelo menos espantá-los para onde não façam mal à nossa vista, condescendência e mediocridade. Como se imagina o problema é ao contrário que o nosso aprendiz de POL POT elocubra. Num país livre e de economia de mercado, são as leis da oferta e procura que decidem, quem vence e quem fracassa. Não o governo ou a Liga dos Cretinos Chateados com os Chineses. Cheios de inutilidades e de espantalhos, as lojas dos chineses respondem às pequenas necessidades dos portugueses que o pequeno comércio tradicional não quer satisfazer. Com o seu serviço medíocre, com os horários rígidos e espartilhados, com a sua falta de imaginação, os nossos comerciantes nada querem fazer para vencer a concorrência. Porque não é preciso, basta invocar o argumento rácico e mandar a concorrência para o degredo ou à merda. Para que não incomode.Noutras eras denunciá-los-iam seguramente à Santa Inquisição. Agora invoca-se o argumento patrioteiro. MST não acerta uma.


(...) O problema das ‘lojas chinesas’ não está apenas na concorrência desleal que fazem, trabalhando em famílias organizadas, sem horários nem direitos sociais, e vendendo a metade do preço produtos fabricados na China em regime de ‘dumping social’, que Jerónimo de Sousa imagina ser a versão actualizada do comunismo. De facto, para o peditório dos pasmados ‘comerciantes tradicionais’ da Baixa, já demos de mais e sempre em vão. Eles não querem, não sabem e não irão nunca reciclar-se.O problema também não está na nacionalidade dos donos, mas sim nas próprias lojas. O problema é que as ‘lojas chinesas’ são feias por fora e por dentro, com um aspecto sujo e degradado, e praticando um tipo de comércio de século XIX para cidades feias, sujas e degradadas. Se queremos recuperar e ressuscitar a Baixa, é óbvio que elas estão a mais ali. Se uma cidade não tem o poder de determinar que tipo de estabelecimentos quer e tolera nas suas zonas históricas, porque com isso pode atingir interesses de uma comunidade cuja cultura e hábitos são um enxerto estranho no seu meio, então mais vale dizer que prescindimos de qualquer política de defesa de valores culturais próprios. E, se temos de nos conformar com o ‘estilo chinês’ do pequeno comércio, então também teremos de aceitar passivamente as tabancas portuguesas com balcões de zinco, luzes de néon, cadeiras de plástico e toldos da ‘Olá’. (...)--/--/--MST gostaria de ser um dia uma espécie de grande sacerdote com poderes de vida e de morte sobre os seus concidadãos e sobre as suas opções de vida. Para ele ou as coisas se ajustam aos arquétipos que arroga justos ou verdadeiros ou os pequenotes mortais estão condenadas ao degredo eterno. Os "chineses" são os novos alvos das prédicas justiceiras e acaloradas de MST, os quais pelos vistos poluem o tecido urbano, por exemplo esse espaço de inutilidade turística que se chama a Baixa de Lisboa. Foleiros, pirosos, os chineses estão a dar cabo - dizem os xicos expertos - dos nossos pequenos e médios empresários. Coitados dos empresários. Porque funcionam a desoras, vivem por cima do estabelecimento, vendem coisas foleiras, não cumprem os horários de trabalho que os talibans do sindicalismo um dia impuseram como "regras" de vida urbana. Miseráveis, tais "dejectos" não têm direito à vida. Há que exterminá-los, surrá-los ou pelo menos espantá-los para onde não façam mal à nossa vista, condescendência e mediocridade. Como se imagina o problema é ao contrário que o nosso aprendiz de POL POT elocubra. Num país livre e de economia de mercado, são as leis da oferta e procura que decidem, quem vence e quem fracassa. Não o governo ou a Liga dos Cretinos Chateados com os Chineses. Cheios de inutilidades e de espantalhos, as lojas dos chineses respondem às pequenas necessidades dos portugueses que o pequeno comércio tradicional não quer satisfazer. Com o seu serviço medíocre, com os horários rígidos e espartilhados, com a sua falta de imaginação, os nossos comerciantes nada querem fazer para vencer a concorrência. Porque não é preciso, basta invocar o argumento rácico e mandar a concorrência para o degredo ou à merda. Para que não incomode.Noutras eras denunciá-los-iam seguramente à Santa Inquisição. Agora invoca-se o argumento patrioteiro. MST não acerta uma.

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