VERITAS FILIA TEMPORIS

18-12-2009
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A LAGARTIXA E O JACARÉ 24 (Fevereiro 2005)OS DADOS ESTÃO LANÇADOSSe no dia 20 de Fevereiro tudo correr como apontam os principais indicadores, o PS será governo, provavelmente sem maioria absoluta e na base da acordos permanentes ou pontuais com o BE e o PCP, o PSD passará á oposição, junto com o PP. Voltar-se-á formalmente à situação anterior a 2002, quando Guterres era primeiro-ministro. O único factor de dúvida pode ser a existência ou não de uma maioria absoluta, e de se saber se o PS sozinho tem mais votos que o PSD e o PP juntos, o que implicaria, neste caso, um apoio parlamentar mais sistemático do BE e do PCP ao PS, fragilizando a governação. Ainda no terreno formal, das eleições vai depender o futuro de Santana Lopes, em primeiro lugar, mas também de Jorge Sampaio e José Sócrates, a tríade de políticos mais directamente dependente deste processo eleitoral. Paulo Portas, pode também ver-se em risco, se o PP baixar do seu resultado actual, dadas as elevadas expectativas com que conduziu a campanha. Jerónimo de Sousa e Louça, pertencem a partidos em que a lógica eleitoral é menos importante e por isso atinge-os menos. É muita coisa junta, para que dos resultados apenas se possa considerar os aspectos formais e o “regresso ao passado”. Há uma crise sem precedentes no PSD, e há tensões no sistema político que irão condicionar de forma decisiva a próxima eleição presidencial. Se olharmos para o lado do pessoal político, a crise de representação é evidente e ela está presente como um fantasma para o PS e o PSD. Mas, se formos mais longe, essa crise de representação tem elementos positivos e mostra uma maior atenção dos portugueses com a coisa pública, uma exigência que levou os partidos a hesitar nas promessas, uma imediata reacção aos sinais mais preocupantes de populismo.FALHANÇO DO POPULISMO, PRIMEIRO ACTO?A primeira tentativa séria de moldar um partido ao perfil de um homem só, assente nos afectos televisivos e no culto de personalidade, parece ter falhado, a julgar pelo que se espera dos resultados eleitorais. Nunca como hoje, um grande partido nacional se tinha reduzido à exibição de uma personalidade, dos seus afectos, dos seus medos, dos seus desejos, como programa político, tudo assente numa ideia de que o “karma” individual da personagem bastava magicamente para ganhar eleições na era dos reality shows das televisões.No passado do nosso sistema partidário, algo de semelhante aconteceu com o general Eanes e o PRD, guardadas as diferenças de personalidade do general que era um homem íntegro e não tinha ambições pessoais de poder. As ideias justicialistas do PRD eram más, e ainda estão aí: migraram por muitos caminhos, para o PSN de Manuel Sérgio, para o PP de Portas-Monteiro, mas acabaram por se dissipar com as maiorias absolutas de Cavaco Silva, que da crise de representação levou a uma sobre- representação. Mas Eanes era da época pré-televisiva e o seu populismo muito mitigado, comparado com o actual. Talvez Santana Lopes tenha falhado por ter vindo cedo demais, quando ainda havia na sociedade uma dose de anticorpos bastantes, ou só tenha tido azar, a explicação que talvez estivesse escrita nas estrelas. Porém, o populismo está longe de desaparecer.RECONSTRUIR A OPOSIÇÃOA tarefa política do PSD depois de 20 de Fevereiro é organizar uma oposição intransigente, activa, credível e popular ao governo do PS, quer haja maioria relativa quer haja absoluta. Existe nesta tarefa uma oportunidade única para a retomada do papel político do partido, e é nessa mudança e nas reformas que a possibilitam que pode haver uma esperança de regeneração partidária.Em teoria, o centro dessa oposição deveria ser o parlamento, mas duvido que o seja. A fragilidade do Grupo parlamentar do PSD dificultará esse papel, e impedirá a luta pela reforma da Assembleia da República para a transformar naquilo que é hoje um parlamento moderno: um órgão de vigilância ao governo mais do que um local onde se produz leis. Seria bom que a oposição desenvolvesse, desde o primeiro dia, a sua acção na constituição de uma equipa de governo sombra, que acompanhe áreas do governo, especializando-se, e que possa, também na oposição, ser julgada por objectivos, pela sua capacidade e influência. Essas equipas devem permitir a participação qualificada de não militantes, voltando a sua acção para os meios universitários, empresariais, sindicais, envolvendo estudantes, professores, jovens empresários, num acompanhamento permanente da governação. É por aí que se tem que ir.IRMÃ LÚCIAA morte da Irmã Lúcia, a última vidente, é um acontecimento para a Igreja institucional, não inteiramente coincidente com o sentimento do catolicismo popular. Para as multidões de fiéis que vão a Fátima, há uma luz de santidade que necessariamente se derrama no lugar e em todos os protagonistas das aparições. Para eles, Lúcia é uma santa, a cuja morte não são indiferentes, porque parece ser mais uma metamorfose do que uma perda. Enquanto os não crentes falavam de “dor” pela morte de um ser humano, os crentes, a começar pelos que mais proximamente a acompanhavam, não mostravam sofrimento, mas esperança, quase uma alegria interior. É natural que assim seja, mas esta diferença de sensibilidade foi pouco percebida pelos políticos que quiseram em campanha eleitoral afivelar os sinais de luto e dor, gravatas negras, tom fúnebre, contrastando com a serenidade de bispos e padres.Talvez por isso, haja muitos equívocos na questão do luto nacional que a Igreja não pediu e que hoje o estado concede quase de forma trivial aos sabores das popularidades e das conveniências do momento.O PIOR DA SEMANA: A INVENÇÃO DE NOTÍCIASÉ difícil fazer pior do que as “notícias” de primeira página do Expresso sobre Cadilhe e sobre umas “convicções” de umas fontes anónimas sobre o que outras fontes anónimas tinham levado o Público a escrever falsamente. Se a “notícia” sobre Cadilhe ainda podia ter resultado de uma manobra política com algum fundamento, a que o jornal se prestou sem cuidado, a segunda sobre o papel dos círculos à volta de Santana na desinformação sobre Cavaco já é claramente jornalismo de manipulação. O Expresso deveria seguir o exemplo do Público e pedir desculpa aos seus leitores.

A LAGARTIXA E O JACARÉ 24 (Fevereiro 2005)OS DADOS ESTÃO LANÇADOSSe no dia 20 de Fevereiro tudo correr como apontam os principais indicadores, o PS será governo, provavelmente sem maioria absoluta e na base da acordos permanentes ou pontuais com o BE e o PCP, o PSD passará á oposição, junto com o PP. Voltar-se-á formalmente à situação anterior a 2002, quando Guterres era primeiro-ministro. O único factor de dúvida pode ser a existência ou não de uma maioria absoluta, e de se saber se o PS sozinho tem mais votos que o PSD e o PP juntos, o que implicaria, neste caso, um apoio parlamentar mais sistemático do BE e do PCP ao PS, fragilizando a governação. Ainda no terreno formal, das eleições vai depender o futuro de Santana Lopes, em primeiro lugar, mas também de Jorge Sampaio e José Sócrates, a tríade de políticos mais directamente dependente deste processo eleitoral. Paulo Portas, pode também ver-se em risco, se o PP baixar do seu resultado actual, dadas as elevadas expectativas com que conduziu a campanha. Jerónimo de Sousa e Louça, pertencem a partidos em que a lógica eleitoral é menos importante e por isso atinge-os menos. É muita coisa junta, para que dos resultados apenas se possa considerar os aspectos formais e o “regresso ao passado”. Há uma crise sem precedentes no PSD, e há tensões no sistema político que irão condicionar de forma decisiva a próxima eleição presidencial. Se olharmos para o lado do pessoal político, a crise de representação é evidente e ela está presente como um fantasma para o PS e o PSD. Mas, se formos mais longe, essa crise de representação tem elementos positivos e mostra uma maior atenção dos portugueses com a coisa pública, uma exigência que levou os partidos a hesitar nas promessas, uma imediata reacção aos sinais mais preocupantes de populismo.FALHANÇO DO POPULISMO, PRIMEIRO ACTO?A primeira tentativa séria de moldar um partido ao perfil de um homem só, assente nos afectos televisivos e no culto de personalidade, parece ter falhado, a julgar pelo que se espera dos resultados eleitorais. Nunca como hoje, um grande partido nacional se tinha reduzido à exibição de uma personalidade, dos seus afectos, dos seus medos, dos seus desejos, como programa político, tudo assente numa ideia de que o “karma” individual da personagem bastava magicamente para ganhar eleições na era dos reality shows das televisões.No passado do nosso sistema partidário, algo de semelhante aconteceu com o general Eanes e o PRD, guardadas as diferenças de personalidade do general que era um homem íntegro e não tinha ambições pessoais de poder. As ideias justicialistas do PRD eram más, e ainda estão aí: migraram por muitos caminhos, para o PSN de Manuel Sérgio, para o PP de Portas-Monteiro, mas acabaram por se dissipar com as maiorias absolutas de Cavaco Silva, que da crise de representação levou a uma sobre- representação. Mas Eanes era da época pré-televisiva e o seu populismo muito mitigado, comparado com o actual. Talvez Santana Lopes tenha falhado por ter vindo cedo demais, quando ainda havia na sociedade uma dose de anticorpos bastantes, ou só tenha tido azar, a explicação que talvez estivesse escrita nas estrelas. Porém, o populismo está longe de desaparecer.RECONSTRUIR A OPOSIÇÃOA tarefa política do PSD depois de 20 de Fevereiro é organizar uma oposição intransigente, activa, credível e popular ao governo do PS, quer haja maioria relativa quer haja absoluta. Existe nesta tarefa uma oportunidade única para a retomada do papel político do partido, e é nessa mudança e nas reformas que a possibilitam que pode haver uma esperança de regeneração partidária.Em teoria, o centro dessa oposição deveria ser o parlamento, mas duvido que o seja. A fragilidade do Grupo parlamentar do PSD dificultará esse papel, e impedirá a luta pela reforma da Assembleia da República para a transformar naquilo que é hoje um parlamento moderno: um órgão de vigilância ao governo mais do que um local onde se produz leis. Seria bom que a oposição desenvolvesse, desde o primeiro dia, a sua acção na constituição de uma equipa de governo sombra, que acompanhe áreas do governo, especializando-se, e que possa, também na oposição, ser julgada por objectivos, pela sua capacidade e influência. Essas equipas devem permitir a participação qualificada de não militantes, voltando a sua acção para os meios universitários, empresariais, sindicais, envolvendo estudantes, professores, jovens empresários, num acompanhamento permanente da governação. É por aí que se tem que ir.IRMÃ LÚCIAA morte da Irmã Lúcia, a última vidente, é um acontecimento para a Igreja institucional, não inteiramente coincidente com o sentimento do catolicismo popular. Para as multidões de fiéis que vão a Fátima, há uma luz de santidade que necessariamente se derrama no lugar e em todos os protagonistas das aparições. Para eles, Lúcia é uma santa, a cuja morte não são indiferentes, porque parece ser mais uma metamorfose do que uma perda. Enquanto os não crentes falavam de “dor” pela morte de um ser humano, os crentes, a começar pelos que mais proximamente a acompanhavam, não mostravam sofrimento, mas esperança, quase uma alegria interior. É natural que assim seja, mas esta diferença de sensibilidade foi pouco percebida pelos políticos que quiseram em campanha eleitoral afivelar os sinais de luto e dor, gravatas negras, tom fúnebre, contrastando com a serenidade de bispos e padres.Talvez por isso, haja muitos equívocos na questão do luto nacional que a Igreja não pediu e que hoje o estado concede quase de forma trivial aos sabores das popularidades e das conveniências do momento.O PIOR DA SEMANA: A INVENÇÃO DE NOTÍCIASÉ difícil fazer pior do que as “notícias” de primeira página do Expresso sobre Cadilhe e sobre umas “convicções” de umas fontes anónimas sobre o que outras fontes anónimas tinham levado o Público a escrever falsamente. Se a “notícia” sobre Cadilhe ainda podia ter resultado de uma manobra política com algum fundamento, a que o jornal se prestou sem cuidado, a segunda sobre o papel dos círculos à volta de Santana na desinformação sobre Cavaco já é claramente jornalismo de manipulação. O Expresso deveria seguir o exemplo do Público e pedir desculpa aos seus leitores.

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