o tempo das cerejas*: Glórias do jornalismo português

29-05-2010
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Crise do rigor e da equidadeComo já referi, o primeiro-ministro escreveu ontem um artigo no JN que «nós não somos daquela esquerda que se limita a protestar, dispensando-se da maçada de contribuir para a solução de qualquer problema». Na peça que hoje dedica a esse artigo, e que é assinada pela jornalista São José Almeida, não consta nenhuma dedução de que, com tal afirmação, José Sócrates excluia qualquer coligação com o PCP ou com o BE e muito menos se titulava «Socrátes exclui coligações à esquerda do PS».Entretanto, na sua edição de hoje, a respeito da apresentação do Programa Eleitoral do PCP, pode ler-se o título acima e na notícia assinada também por São José Almeida pode ler-se este mimo (siblinhados meus): «Não é a primeira vez que Jerónimo de Sousa o diz, mas ontem foi cristalino: o PCP não fará qualquer acordo de coligação com o PS após as legislativas».Ora eu estive presente naquele acto público, ouvi a pergunta do jornalista e a resposta de Jerónimo de Sousa e posso jurar pelo que houver de mais sagrado que, em momento algum, o Secretário-geral do PCP disse a frase ou enunciou a formulação que a jornalista Sã José Almeida lhe atribui. O que Jerónimo de Sousa afirmou isso sim cristalinamente foi que «não contem com o PCP para subscrever» a continuação da política do actual governo cujos traços mais negativos repetiu na ocasião e naturalmente, de um novo Governo que lhe siga as mesmas pisadas.Aliás, a relevância (atenção: em termos distorcidos !) conferida a este tema parece não ter em conta que espantoso e suicidário seria Jerónimo de Sousa, depois de quatro anos e meio de combate do PCP à política do governo Sócrates/PS, viesse agora, à beira das eleições. anunciar para o futuro tudo o contrário do que tem feito e tem pensado.E assim voltamos ao problema das responsabilidades que, sem nenhuma contradita, já abordei aqui. Alías, merece registo que ontem nenhum jornalista perguntou a Jerónimo de Sousa :« e caso o PS, em consequência de um seu mau resultado eleitoral, estiver disposto a rever eixos estrurantes da sua política, estará o PCP por sua vez disposto a dialogar e a examinar as questões da política a definir e do govwerno a formar no pós-eleições ?».E pelo menos a jornalista do Público (que até tem obrigação de conhecer bem os códigos semânticos do PCP) também não terá reparado que na primeira parte do Programa Eleitoral ontem distribuido aos jornalistas se afirma com clareza que « O PCP será governo, se e quando o povo português quiser. Força política com trabalho e obra reconhecida no poder local, o PCP está em condições de assumir as mais elevadas responsabilidades no país quando a ruptura e a mudança de políticas forem impostas pela vontade popular com o reforço do PCP e com a ampliação decisiva da sua influência social, política e eleitoral. É nesse sentido que nos dirigimos aos trabalhadores e ao povo para com o seu voto contribuirem para a alteração da correlação de forças no plano institucional favorável ao PCP, que acabará por ditar uma outra política e um outro governo, patriótico e democrático, ao serviço dos trabalhadores e dos interesses nacionais.»O que acaba de acontecer com este título e notícia do Público (e provavelmente de outros órgãos de informação, para já não falar de carradas de precipitados blogues) não é nenhuma novidade, antes se insere numa antiquíssima incapacidade de muitos jornalistas de reproduzirem com fidelidade aa posições e declarações do PCP sobre uma matéria como esta. Acreditem que sei do que falo, porque vivi e trabalhei em muitas campanhas eleitorais do PCP e da CDU em que, dentro da mesma campanha, os títulos oscilavam sempre entre «PCP ataca PS» ou «PCP namora PS», ficando sempre de fora o que o PCP realmente havia dito.Por fim, sem prejuízo da sua liberdade de inquirição, talvez não fosse mau que os jornalistas que vão acompanhar as campanhas eleitorais dos partidos compreendessem que estes importantes períodos da vida democrática do país se destinam não tanto a permitir que os partidos troquem recados de uns para os outros ou resolvam ou negoceiem na praça pública questões pós-eleitorais mas sobretudo a que exponham perante o eleitorado as suas próprias propostas e projecto e para eles procurem ganhar o maior apoio possível dos cidadãos.


Crise do rigor e da equidadeComo já referi, o primeiro-ministro escreveu ontem um artigo no JN que «nós não somos daquela esquerda que se limita a protestar, dispensando-se da maçada de contribuir para a solução de qualquer problema». Na peça que hoje dedica a esse artigo, e que é assinada pela jornalista São José Almeida, não consta nenhuma dedução de que, com tal afirmação, José Sócrates excluia qualquer coligação com o PCP ou com o BE e muito menos se titulava «Socrátes exclui coligações à esquerda do PS».Entretanto, na sua edição de hoje, a respeito da apresentação do Programa Eleitoral do PCP, pode ler-se o título acima e na notícia assinada também por São José Almeida pode ler-se este mimo (siblinhados meus): «Não é a primeira vez que Jerónimo de Sousa o diz, mas ontem foi cristalino: o PCP não fará qualquer acordo de coligação com o PS após as legislativas».Ora eu estive presente naquele acto público, ouvi a pergunta do jornalista e a resposta de Jerónimo de Sousa e posso jurar pelo que houver de mais sagrado que, em momento algum, o Secretário-geral do PCP disse a frase ou enunciou a formulação que a jornalista Sã José Almeida lhe atribui. O que Jerónimo de Sousa afirmou isso sim cristalinamente foi que «não contem com o PCP para subscrever» a continuação da política do actual governo cujos traços mais negativos repetiu na ocasião e naturalmente, de um novo Governo que lhe siga as mesmas pisadas.Aliás, a relevância (atenção: em termos distorcidos !) conferida a este tema parece não ter em conta que espantoso e suicidário seria Jerónimo de Sousa, depois de quatro anos e meio de combate do PCP à política do governo Sócrates/PS, viesse agora, à beira das eleições. anunciar para o futuro tudo o contrário do que tem feito e tem pensado.E assim voltamos ao problema das responsabilidades que, sem nenhuma contradita, já abordei aqui. Alías, merece registo que ontem nenhum jornalista perguntou a Jerónimo de Sousa :« e caso o PS, em consequência de um seu mau resultado eleitoral, estiver disposto a rever eixos estrurantes da sua política, estará o PCP por sua vez disposto a dialogar e a examinar as questões da política a definir e do govwerno a formar no pós-eleições ?».E pelo menos a jornalista do Público (que até tem obrigação de conhecer bem os códigos semânticos do PCP) também não terá reparado que na primeira parte do Programa Eleitoral ontem distribuido aos jornalistas se afirma com clareza que « O PCP será governo, se e quando o povo português quiser. Força política com trabalho e obra reconhecida no poder local, o PCP está em condições de assumir as mais elevadas responsabilidades no país quando a ruptura e a mudança de políticas forem impostas pela vontade popular com o reforço do PCP e com a ampliação decisiva da sua influência social, política e eleitoral. É nesse sentido que nos dirigimos aos trabalhadores e ao povo para com o seu voto contribuirem para a alteração da correlação de forças no plano institucional favorável ao PCP, que acabará por ditar uma outra política e um outro governo, patriótico e democrático, ao serviço dos trabalhadores e dos interesses nacionais.»O que acaba de acontecer com este título e notícia do Público (e provavelmente de outros órgãos de informação, para já não falar de carradas de precipitados blogues) não é nenhuma novidade, antes se insere numa antiquíssima incapacidade de muitos jornalistas de reproduzirem com fidelidade aa posições e declarações do PCP sobre uma matéria como esta. Acreditem que sei do que falo, porque vivi e trabalhei em muitas campanhas eleitorais do PCP e da CDU em que, dentro da mesma campanha, os títulos oscilavam sempre entre «PCP ataca PS» ou «PCP namora PS», ficando sempre de fora o que o PCP realmente havia dito.Por fim, sem prejuízo da sua liberdade de inquirição, talvez não fosse mau que os jornalistas que vão acompanhar as campanhas eleitorais dos partidos compreendessem que estes importantes períodos da vida democrática do país se destinam não tanto a permitir que os partidos troquem recados de uns para os outros ou resolvam ou negoceiem na praça pública questões pós-eleitorais mas sobretudo a que exponham perante o eleitorado as suas próprias propostas e projecto e para eles procurem ganhar o maior apoio possível dos cidadãos.

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