Fórum Palestina: Sir Winston Peres, por Uri Avnery. (Será o Irão nazi?)

19-12-2009
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Antes do mais, quero pedir desculpas a todas as boas mulheres que participam na mais velha profissão do mundo.Recentemente descrevi Shimon Peres como uma prostituta da política. Um dos meus leitores do sexo feminino tem protestado vigorosamente. As prostitutas, assinalou, ganham o seu dinheiro honestamente. Elas entregam o que prometeram.O nosso presidente, por outro lado, só diz a verdade por acidente. É um impostor político e uma farsa política. A ele, aplicam-se também, as palavras de Winston Churchill sobre um antigo Primeiro-Ministro: "Sua Excelência, o Honorável cavalheiro por vezes tropeça sobre a verdade, mas sempre se apressa como se nada tivesse acontecido." Ou as palavras do ex-ministro Amnon Rubinstein sobre Ariel Sharon: "Ele cora quando fala verdade.".Como um caixeiro-viajante que oferece um produto falsificado, Peres apregoa uma mercadoria chamada Binyamin Netanyahu. Ele apresenta ao mundo um Netanyahu que nós nunca conhecemos: um mediador da paz, o símbolo da boa fé, um homem com nenhuma outra ambição se não a de ficar na história como o fundador do Estado da Palestina. Um Judeu Justo (1) eclipsando todos os Gentios Justos (1)..NO ENTANTO, TODAS essas mentiras não são nada quando comparadas à banalização do Holocausto.Nalguns países, é um crime, punível com pena de prisão. A banalização tem muitos disfarces. Por exemplo: a afirmação de que as câmaras de gás nunca existiram. Ou: que não foram mortos seis milhões de judeus, mas apenas seiscentos mil. Mas a forma mais perigosa de banalização é a comparação do Holocausto a eventos passados, tornando-o assim "um detalhe da história", como de modo infame, Jean-Marie Le Pen, o descreveu.Esta semana, Shimon Peres cometeu exactamente este crime.Tal como um lacaio caminhando na frente do rei, espalhando flores na estrada, Peres voou para os E.U.A. para preparar o terreno para a próxima visita Netanyahu. Ele impôs-se a um relutante Barack Obama, que não tinha escolha, senão recebê-lo.Posando como um novo Winston Churchill, o homem que alertou o mundo contra a ascensão do nazismo na Alemanha, ele informou Obama com estilo pomposamente bombástico: "Como Judeus, não podemos senão comparar o Irão à Alemanha nazi".Sobre esta frase, três coisas, pelo menos, devem ser ditas: (a) é falsa, (b) banaliza o Holocausto, e (c) reflecte uma política catastrófica.SERÁ QUE O IRÃO se assemelha realmente à Alemanha nazi?Eu não gosto do regime de lá. Como ateu empenhado, que insiste na total separação entre o Estado e a religião, oponho-me a qualquer regime baseado na religião - no Irão, em Israel ou em qualquer outro país.Além disso, não gosto de políticos como Mahmoud Ahmadinejad. Sou alérgico a líderes que, do alto das varandas, declamam para as massas lá em baixo. Detesto demagogos que apelam para instintos básicos de ódio e medo.Infelizmente, Ahmadinejad não é o único líder deste tipo. Na verdade, o mundo está cheio deles, alguns deles estão entre os apoiantes firmes do governo israelita. Em Israel, também, não temos falta dessa espécie.Mas o Irão não é um estado fascista. De acordo com as provas, há bastante liberdade por lá, incluindo a liberdade de expressão. Ahmadinejad não é o único candidato a presidente na presente campanha eleitoral. Há uma série de outros, alguns mais radicais, alguns menos.Nem o Irão é um estado anti-semita. A comunidade judaica, cujos membros se recusam a emigrar, vivem ali confortavelmente. Gozam de liberdade religiosa e tem um representante no parlamento. Mesmo se tomarmos esses relatórios com um grão de sal, é claro que os judeus no Irão não estão a ser perseguidos como os judeus na Alemanha nazi.E, mais importante: o Irão não é um país agressivo. Não tem atacado os seus vizinhos ao longo dos séculos. A longa e sangrenta guerra Irão-Iraque foi iniciada por Saddam Hussein. Podemos recordar que na altura Israel (ao contrário dos E.U.) apoiou o lado iraniano e forneceu-lhe armas. (Um tal operação foi acidentalmente divulgada no caso Irangate.) Antes da revolução de Khomeini, o Irão foi o nosso [de Israel] mais importante aliado na região.Ahmadinejad odeia Israel. Mas ele negou que tenha sido ele que ameaçou aniquilar Israel. Afigura-se que o período crucial no seu famoso discurso foi mal traduzido: ele não declarou a sua determinação em varrer Israel do mapa, mas expressou a opinião de que Israel vai desaparecer do mapa..Francamente, não creio que exista uma grande diferença entre as duas versões. Quando o líder de um grande país prevê que o meu estado irá desaparecer, isso preocupa-me. Quando esse país parece fazer todo o possível para produzir uma bomba nuclear, preocupa-me ainda mais. Eu tirarei conclusões sobre isso, mas mais tarde.Além disso, Ahmadinejad - ao contrário Hitler - não é o líder supremo do seu país. Ele está sujeito à verdadeira liderança, composta por clérigos. Todos os sinais indicam que esta não é um grupo de aventureiros. Pelo contrário, eles são muito equilibrados, sofisticados e prudentes. Agora mesmo estão tacteando cautelosamente o seu caminho para o diálogo com os E.U.A., tentando chegar a um acordo sem sacrificar as suas ambições regionais, que são absolutamente normais..Em resumo, os discursos demagógicos de um líder não transformam um país na Alemanha nazi. O Irão não é um país de loucos. Não tem verdadeiros interesses na questão Israel / Palestina. Os seus interesses centram-se sobre a área do Golfo Pérsico, e pretende aumentar a sua influência em todo o mundo árabe e muçulmano. As suas relações com a Síria, Hezbollah e Hamas servem principalmente este propósito, e assim também o incitamento anti-israelita de Ahmadinejad.Em resumo, a comparação do Irão à Alemanha nazi carece de bases objectivas.DO PONTO DE VISTA judaico, a comparação é ainda mais questionável.O Holocausto foi um crime único. É verdade que o século XX viu outros terríveis actos de genocídio, mas nada que se assemelhasse à Shoa. No império otomano, teve lugar um horroroso massacre de cidadãos arménios, equivalente a um genocídio. Hitler ele próprio o referiu, dizendo que a aniquilação dos judeus seria igualmente esquecida. Stalin matou milhões de cidadãos soviéticos em nome de uma ideologia monstruosa, que tinha começado como um credo humanista. Assim fez Pol Pot, que matou milhões, a fim de mudar a sociedade para melhor. No Ruanda, os membros de uma tribo chacinaram os membros de uma outra. E, infelizmente, a lista é longa.Mas a Alemanha nazi foi a única em empregar os instrumentos de uma sociedade industrial moderna, com o fim de eliminar as minorias indefesas (não vamos esquecer os ciganos, as pessoas com deficiência e os homossexuais), num processo prolongado, planeado e altamente organizado, com a participação de todos os órgãos do Estado. Se o regime nazi não tivesse sido derrubado pela guerra, Hitler teria continuado com a aniquilação de muitos mais milhões de polacos, ucranianos e russos.Nada de semelhante pode ser razoavelmente esperado que aconteça no Irão. Nem a ideologia, nem a composição do regime, nem qualquer outra indicação levam nessa direcção. Assim como a sua crescente capacidade nuclear é preocupante – o poder de dissuasão israelita prevenirá qualquer pensamento que daí resultasse. (Não nos esqueçamos de que o único país a utilizar bombas nucleares na guerra foi o nosso amigo, os E.U.A.).Nada do que está acontecendo no mundo de hoje se assemelha à Shoa, em que seis milhões de judeus foram aniquilados. Os palestinos não mataram seis milhões de israelitas, e nós não matamos seis milhões de palestinos. Comparar-se os árabes aos nazis não é menos abominável do que comparar-se os israelitas aos nazis. Muitas coisas terríveis aconteceram e estão a ser cometidas em nosso nome - mas estão tão longe de serem como os actos dos nazis, como a terra das galáxias distantes.Qualquer comparação para obter fugazes vantagens a nível de propaganda banaliza o Holocausto e os seus autores. Se os nazis não foram piores que os Ayatollahs, então a Shoa não foi tão terrível, apesar de tudo.Em todos os meus contactos com os líderes palestinos, incluindo Yasser Arafat, sempre os aconselhei a evitar esta desconcertante comparação. Isso também seria um bom conselho para os nossos próprios líderes.A comparação entre o Irão e a Alemanha nazi servirão os interesses israelitas?O Irão está lá. Foi nosso aliado, no passado, e pode ser nosso aliado novamente no futuro. Líderes vão e vêm, mas os interesses geopolíticos são mais ou menos constantes. Ahmadinejad pode ser substituído por um líder que verá os interesses iranianos sob uma luz diferente.A ameaça nuclear a Israel não vai desaparecer - nem depois de um (mau) discurso de Peres, nem depois de um (bom) discurso de Netanyahu. Por toda a região, as instalações nucleares irão aparecer. Este processo não pode ser parado. Todos nós precisamos da energia nuclear para dessalinizar a água e produzir electricidade sem destruir o ambiente. Como um professor israelita, um antigo empregado da central nuclear em Dimona, disse esta semana: é preciso repensar a nossa política nuclear. Pode muito bem ser para nossa vantagem aceitar o pedido da porta-voz americana para que Israel (assim como a Índia e o Paquistão) adiram ao Tratado de não proliferação nuclear e a um regime de estrita supervisão.O Presidente Barack Obama está dizendo a Israel: Ponham um fim ao conflito israelo-palestiniano. Essa é uma condição prévia para a eliminação da ameaça a Israel. Quando os palestinos, e todo o mundo árabe, fizerem a paz com Israel - o Irão não será capaz de explorar o conflito para o aprofundamento dos seus interesses. A propósito, estamos dizendo isto há muitos anos.A recusa de Netanyahu-Lieberman-Barak em aceitar este pedido revela a falsidade dos seus argumentos sobre o Irão. Se eles realmente acreditassem que o Irão coloca uma ameaça existencial, teriam pressa em desmantelar os colonatos, demolir os postos avançados e fazer a paz. Esse seria, afinal, um pequeno preço a pagar para a eliminação de um perigo existencial. A sua recusa prova que toda a história existencial é um bluff.E relativamente à comparação do Irão à Alemanha nazi - é tão convincente como a comparação de Shimon Peres a Sir Winston.(1) “Judeus Virtuosos”, este termo foi inspirado na expressão “Gentios Virtuosos”, usada inicialmente para referir e honrar os não-judeus que arriscaram as suas vidas para salvar judeus do extermínio nazi, durante o Holocausto, e actualmente referidos como "Justos entre as Nações". Assim, “Judeus Virtuosos”serão aqueles que se consideram judeus e que tem trabalhado para os direitos humanos dos palestinos não-judeus.


Antes do mais, quero pedir desculpas a todas as boas mulheres que participam na mais velha profissão do mundo.Recentemente descrevi Shimon Peres como uma prostituta da política. Um dos meus leitores do sexo feminino tem protestado vigorosamente. As prostitutas, assinalou, ganham o seu dinheiro honestamente. Elas entregam o que prometeram.O nosso presidente, por outro lado, só diz a verdade por acidente. É um impostor político e uma farsa política. A ele, aplicam-se também, as palavras de Winston Churchill sobre um antigo Primeiro-Ministro: "Sua Excelência, o Honorável cavalheiro por vezes tropeça sobre a verdade, mas sempre se apressa como se nada tivesse acontecido." Ou as palavras do ex-ministro Amnon Rubinstein sobre Ariel Sharon: "Ele cora quando fala verdade.".Como um caixeiro-viajante que oferece um produto falsificado, Peres apregoa uma mercadoria chamada Binyamin Netanyahu. Ele apresenta ao mundo um Netanyahu que nós nunca conhecemos: um mediador da paz, o símbolo da boa fé, um homem com nenhuma outra ambição se não a de ficar na história como o fundador do Estado da Palestina. Um Judeu Justo (1) eclipsando todos os Gentios Justos (1)..NO ENTANTO, TODAS essas mentiras não são nada quando comparadas à banalização do Holocausto.Nalguns países, é um crime, punível com pena de prisão. A banalização tem muitos disfarces. Por exemplo: a afirmação de que as câmaras de gás nunca existiram. Ou: que não foram mortos seis milhões de judeus, mas apenas seiscentos mil. Mas a forma mais perigosa de banalização é a comparação do Holocausto a eventos passados, tornando-o assim "um detalhe da história", como de modo infame, Jean-Marie Le Pen, o descreveu.Esta semana, Shimon Peres cometeu exactamente este crime.Tal como um lacaio caminhando na frente do rei, espalhando flores na estrada, Peres voou para os E.U.A. para preparar o terreno para a próxima visita Netanyahu. Ele impôs-se a um relutante Barack Obama, que não tinha escolha, senão recebê-lo.Posando como um novo Winston Churchill, o homem que alertou o mundo contra a ascensão do nazismo na Alemanha, ele informou Obama com estilo pomposamente bombástico: "Como Judeus, não podemos senão comparar o Irão à Alemanha nazi".Sobre esta frase, três coisas, pelo menos, devem ser ditas: (a) é falsa, (b) banaliza o Holocausto, e (c) reflecte uma política catastrófica.SERÁ QUE O IRÃO se assemelha realmente à Alemanha nazi?Eu não gosto do regime de lá. Como ateu empenhado, que insiste na total separação entre o Estado e a religião, oponho-me a qualquer regime baseado na religião - no Irão, em Israel ou em qualquer outro país.Além disso, não gosto de políticos como Mahmoud Ahmadinejad. Sou alérgico a líderes que, do alto das varandas, declamam para as massas lá em baixo. Detesto demagogos que apelam para instintos básicos de ódio e medo.Infelizmente, Ahmadinejad não é o único líder deste tipo. Na verdade, o mundo está cheio deles, alguns deles estão entre os apoiantes firmes do governo israelita. Em Israel, também, não temos falta dessa espécie.Mas o Irão não é um estado fascista. De acordo com as provas, há bastante liberdade por lá, incluindo a liberdade de expressão. Ahmadinejad não é o único candidato a presidente na presente campanha eleitoral. Há uma série de outros, alguns mais radicais, alguns menos.Nem o Irão é um estado anti-semita. A comunidade judaica, cujos membros se recusam a emigrar, vivem ali confortavelmente. Gozam de liberdade religiosa e tem um representante no parlamento. Mesmo se tomarmos esses relatórios com um grão de sal, é claro que os judeus no Irão não estão a ser perseguidos como os judeus na Alemanha nazi.E, mais importante: o Irão não é um país agressivo. Não tem atacado os seus vizinhos ao longo dos séculos. A longa e sangrenta guerra Irão-Iraque foi iniciada por Saddam Hussein. Podemos recordar que na altura Israel (ao contrário dos E.U.) apoiou o lado iraniano e forneceu-lhe armas. (Um tal operação foi acidentalmente divulgada no caso Irangate.) Antes da revolução de Khomeini, o Irão foi o nosso [de Israel] mais importante aliado na região.Ahmadinejad odeia Israel. Mas ele negou que tenha sido ele que ameaçou aniquilar Israel. Afigura-se que o período crucial no seu famoso discurso foi mal traduzido: ele não declarou a sua determinação em varrer Israel do mapa, mas expressou a opinião de que Israel vai desaparecer do mapa..Francamente, não creio que exista uma grande diferença entre as duas versões. Quando o líder de um grande país prevê que o meu estado irá desaparecer, isso preocupa-me. Quando esse país parece fazer todo o possível para produzir uma bomba nuclear, preocupa-me ainda mais. Eu tirarei conclusões sobre isso, mas mais tarde.Além disso, Ahmadinejad - ao contrário Hitler - não é o líder supremo do seu país. Ele está sujeito à verdadeira liderança, composta por clérigos. Todos os sinais indicam que esta não é um grupo de aventureiros. Pelo contrário, eles são muito equilibrados, sofisticados e prudentes. Agora mesmo estão tacteando cautelosamente o seu caminho para o diálogo com os E.U.A., tentando chegar a um acordo sem sacrificar as suas ambições regionais, que são absolutamente normais..Em resumo, os discursos demagógicos de um líder não transformam um país na Alemanha nazi. O Irão não é um país de loucos. Não tem verdadeiros interesses na questão Israel / Palestina. Os seus interesses centram-se sobre a área do Golfo Pérsico, e pretende aumentar a sua influência em todo o mundo árabe e muçulmano. As suas relações com a Síria, Hezbollah e Hamas servem principalmente este propósito, e assim também o incitamento anti-israelita de Ahmadinejad.Em resumo, a comparação do Irão à Alemanha nazi carece de bases objectivas.DO PONTO DE VISTA judaico, a comparação é ainda mais questionável.O Holocausto foi um crime único. É verdade que o século XX viu outros terríveis actos de genocídio, mas nada que se assemelhasse à Shoa. No império otomano, teve lugar um horroroso massacre de cidadãos arménios, equivalente a um genocídio. Hitler ele próprio o referiu, dizendo que a aniquilação dos judeus seria igualmente esquecida. Stalin matou milhões de cidadãos soviéticos em nome de uma ideologia monstruosa, que tinha começado como um credo humanista. Assim fez Pol Pot, que matou milhões, a fim de mudar a sociedade para melhor. No Ruanda, os membros de uma tribo chacinaram os membros de uma outra. E, infelizmente, a lista é longa.Mas a Alemanha nazi foi a única em empregar os instrumentos de uma sociedade industrial moderna, com o fim de eliminar as minorias indefesas (não vamos esquecer os ciganos, as pessoas com deficiência e os homossexuais), num processo prolongado, planeado e altamente organizado, com a participação de todos os órgãos do Estado. Se o regime nazi não tivesse sido derrubado pela guerra, Hitler teria continuado com a aniquilação de muitos mais milhões de polacos, ucranianos e russos.Nada de semelhante pode ser razoavelmente esperado que aconteça no Irão. Nem a ideologia, nem a composição do regime, nem qualquer outra indicação levam nessa direcção. Assim como a sua crescente capacidade nuclear é preocupante – o poder de dissuasão israelita prevenirá qualquer pensamento que daí resultasse. (Não nos esqueçamos de que o único país a utilizar bombas nucleares na guerra foi o nosso amigo, os E.U.A.).Nada do que está acontecendo no mundo de hoje se assemelha à Shoa, em que seis milhões de judeus foram aniquilados. Os palestinos não mataram seis milhões de israelitas, e nós não matamos seis milhões de palestinos. Comparar-se os árabes aos nazis não é menos abominável do que comparar-se os israelitas aos nazis. Muitas coisas terríveis aconteceram e estão a ser cometidas em nosso nome - mas estão tão longe de serem como os actos dos nazis, como a terra das galáxias distantes.Qualquer comparação para obter fugazes vantagens a nível de propaganda banaliza o Holocausto e os seus autores. Se os nazis não foram piores que os Ayatollahs, então a Shoa não foi tão terrível, apesar de tudo.Em todos os meus contactos com os líderes palestinos, incluindo Yasser Arafat, sempre os aconselhei a evitar esta desconcertante comparação. Isso também seria um bom conselho para os nossos próprios líderes.A comparação entre o Irão e a Alemanha nazi servirão os interesses israelitas?O Irão está lá. Foi nosso aliado, no passado, e pode ser nosso aliado novamente no futuro. Líderes vão e vêm, mas os interesses geopolíticos são mais ou menos constantes. Ahmadinejad pode ser substituído por um líder que verá os interesses iranianos sob uma luz diferente.A ameaça nuclear a Israel não vai desaparecer - nem depois de um (mau) discurso de Peres, nem depois de um (bom) discurso de Netanyahu. Por toda a região, as instalações nucleares irão aparecer. Este processo não pode ser parado. Todos nós precisamos da energia nuclear para dessalinizar a água e produzir electricidade sem destruir o ambiente. Como um professor israelita, um antigo empregado da central nuclear em Dimona, disse esta semana: é preciso repensar a nossa política nuclear. Pode muito bem ser para nossa vantagem aceitar o pedido da porta-voz americana para que Israel (assim como a Índia e o Paquistão) adiram ao Tratado de não proliferação nuclear e a um regime de estrita supervisão.O Presidente Barack Obama está dizendo a Israel: Ponham um fim ao conflito israelo-palestiniano. Essa é uma condição prévia para a eliminação da ameaça a Israel. Quando os palestinos, e todo o mundo árabe, fizerem a paz com Israel - o Irão não será capaz de explorar o conflito para o aprofundamento dos seus interesses. A propósito, estamos dizendo isto há muitos anos.A recusa de Netanyahu-Lieberman-Barak em aceitar este pedido revela a falsidade dos seus argumentos sobre o Irão. Se eles realmente acreditassem que o Irão coloca uma ameaça existencial, teriam pressa em desmantelar os colonatos, demolir os postos avançados e fazer a paz. Esse seria, afinal, um pequeno preço a pagar para a eliminação de um perigo existencial. A sua recusa prova que toda a história existencial é um bluff.E relativamente à comparação do Irão à Alemanha nazi - é tão convincente como a comparação de Shimon Peres a Sir Winston.(1) “Judeus Virtuosos”, este termo foi inspirado na expressão “Gentios Virtuosos”, usada inicialmente para referir e honrar os não-judeus que arriscaram as suas vidas para salvar judeus do extermínio nazi, durante o Holocausto, e actualmente referidos como "Justos entre as Nações". Assim, “Judeus Virtuosos”serão aqueles que se consideram judeus e que tem trabalhado para os direitos humanos dos palestinos não-judeus.

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