Fórum Palestina: "Palestina" de Mahmoud Darwish

19-12-2009
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só me restaperder-me pela tua sombra, que é a minha.só me restahabitar a tua voz, que é a minha.afastei-me da cruz estendidacomo claridade em horizonte que não se inclinaaté ao mais minúsculo monte que a vista alcançamas não achei minha ferida, minha liberdade.porque não sei onde morasnão encontro o caminho,e porque meu dorso não se apoia em ti com pregosinclinei-me tantocomo teus céus fazema quem espreita de escotilhas de aviãodevolve-me os pedaços do meu nomepara que possa convocar as fibras das árvoresdevolve-me as letras do meu rostopara que possa chamar as tempestades próximasdevolve-me as razões do meu prazerpara que possa invocar esse regresso sem razãoporque a minha voz está seca como pau de bandeirae a minha mão vazia como o hino nacionalporque a minha sombra é ampla como se fora uma festae os traços do meu rosto se passeiam de ambulância,porque eu não sou mais do que isto:o cidadão de um reino que não nasceu ainda.Mahmud Darwish (Palestina, 1942) - Tradução de Adalberto Alves.In. “Palestina: A saga de um Povo”, Al-Khudayri, Tariq, Hugin Editores, 2002. -------------------------------------------------------------------------------Mahmoud Darwish nasceu em 1941 em Al-Birwa, um povoado da Galileia que a sua família foi obrigada a abandonar, para fugir para o Líbano, quando ele tinha apenas sete anos.A localidade foi destruída na guerra ocorrida após a criação do Estado de Israel e que marcou o início da perseguição de todo o Povo palestino.Este exílio forçado marcou toda sua obra e forjou o seu compromisso político, que cumpriu até à sua morte.Após ter retornado do Líbano com a família, Darwish morou em várias regiões palestinas e foi preso, por diversas vezes, pelas autoridades israelitas por causa dos seus escritos e da sua actividade política contra a ocupação.Com 22 anos, publicou Leaves of Olives (Folhas de Oliveira), - o primeiro dos 20 livros de poesia que escreveu, junto a outros cinco de prosa -e cedo se tornou um membro da Organização de Libertação da Palestina de Yasser Arafat. .Em 1970, foi mais uma vez obrigado a abandonar a sua terra exilando-se, primeiro em Moscovo, e depois em várias capitais árabes, até chegar a Ramala.Até sua morte, ele conseguiu conciliar a política e a poesia com determinação, embora nem sempre com facilidade.Em várias ocasiões memoráveis, fundiu esses dois mundos como, por exemplo, quando se sentou para escrever o discurso de Arafat à Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1974, onde incluiu a famosa frase:"Hoje, cheguei trazendo um ramo de oliveira e a arma de um lutador pela liberdade. Não deixem que o ramo de oliveira caia da minha mão. "Foi o autor da Declaração da Independência da Palestina, em 1988, o que lhe valeu, junto com sua obra em defesa da liberdade e da sua terra, a alcunha de "poeta da resistência", apesar de também ter escrito sobre a vida e o amor.Darwish fez parte do comité executivo da OLP, cargo ao qual renunciou em protesto contra os Acordos de Oslo, em 1993.Morreu no passado dia 10 de Agosto de 2008, por o seu coração já não poder conter a vida.


só me restaperder-me pela tua sombra, que é a minha.só me restahabitar a tua voz, que é a minha.afastei-me da cruz estendidacomo claridade em horizonte que não se inclinaaté ao mais minúsculo monte que a vista alcançamas não achei minha ferida, minha liberdade.porque não sei onde morasnão encontro o caminho,e porque meu dorso não se apoia em ti com pregosinclinei-me tantocomo teus céus fazema quem espreita de escotilhas de aviãodevolve-me os pedaços do meu nomepara que possa convocar as fibras das árvoresdevolve-me as letras do meu rostopara que possa chamar as tempestades próximasdevolve-me as razões do meu prazerpara que possa invocar esse regresso sem razãoporque a minha voz está seca como pau de bandeirae a minha mão vazia como o hino nacionalporque a minha sombra é ampla como se fora uma festae os traços do meu rosto se passeiam de ambulância,porque eu não sou mais do que isto:o cidadão de um reino que não nasceu ainda.Mahmud Darwish (Palestina, 1942) - Tradução de Adalberto Alves.In. “Palestina: A saga de um Povo”, Al-Khudayri, Tariq, Hugin Editores, 2002. -------------------------------------------------------------------------------Mahmoud Darwish nasceu em 1941 em Al-Birwa, um povoado da Galileia que a sua família foi obrigada a abandonar, para fugir para o Líbano, quando ele tinha apenas sete anos.A localidade foi destruída na guerra ocorrida após a criação do Estado de Israel e que marcou o início da perseguição de todo o Povo palestino.Este exílio forçado marcou toda sua obra e forjou o seu compromisso político, que cumpriu até à sua morte.Após ter retornado do Líbano com a família, Darwish morou em várias regiões palestinas e foi preso, por diversas vezes, pelas autoridades israelitas por causa dos seus escritos e da sua actividade política contra a ocupação.Com 22 anos, publicou Leaves of Olives (Folhas de Oliveira), - o primeiro dos 20 livros de poesia que escreveu, junto a outros cinco de prosa -e cedo se tornou um membro da Organização de Libertação da Palestina de Yasser Arafat. .Em 1970, foi mais uma vez obrigado a abandonar a sua terra exilando-se, primeiro em Moscovo, e depois em várias capitais árabes, até chegar a Ramala.Até sua morte, ele conseguiu conciliar a política e a poesia com determinação, embora nem sempre com facilidade.Em várias ocasiões memoráveis, fundiu esses dois mundos como, por exemplo, quando se sentou para escrever o discurso de Arafat à Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1974, onde incluiu a famosa frase:"Hoje, cheguei trazendo um ramo de oliveira e a arma de um lutador pela liberdade. Não deixem que o ramo de oliveira caia da minha mão. "Foi o autor da Declaração da Independência da Palestina, em 1988, o que lhe valeu, junto com sua obra em defesa da liberdade e da sua terra, a alcunha de "poeta da resistência", apesar de também ter escrito sobre a vida e o amor.Darwish fez parte do comité executivo da OLP, cargo ao qual renunciou em protesto contra os Acordos de Oslo, em 1993.Morreu no passado dia 10 de Agosto de 2008, por o seu coração já não poder conter a vida.

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