Tasca das Amoreiras

02-02-2010
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Era uma cidade militar, cercada de muralhas e ladeada por fortes, cuja história estava repleta de inúmeros feitos de armas protagonizados por outros tantos heróis.

Nesta cidade viria a nascer um menino que, de tanto ouvir falar dos grandes feitos praticados na sua cidade, sonhou vir a tornar-se um guerreiro. Embalado neste sonho de criança, muniu-se o menino, anda na sua primeira juventude, de “armas” e começou a praticar a “arte do tiro” treinando para a “grande batalha” na qual sonhava um dia vir a participar. Treinava afincadamente quer em “campos públicos” quer num “campo” que construiu exclusivamente para o efeito, dedicando-se diariamente ao “tiro ao boneco”, sem grandes resultados práticos pois a pontaria não era muita.

Julgando-se no entanto preparado, decidiu iniciar a sua própria “guerra” escolheu “um alvo”, que passou a fustigar em permanência, umas vezes com “rajadas dispersas” a “peito descoberto”, outras com tiros de “carabina e mira telescópica” apontados com todo o cuidado a coberto da noite ou do interior do seu “esconderijo”, qual “snipper” dos filmes americanos, mas, ou por falta de pontaria ou porque “o alvo se resguardava” nunca lhe tocou nem de raspão. Concluindo que assim não chegaria a ser o “herói” que sempre sonhara ser, começou a elaborar um plano que pudesse dar visibilidade aos seus “tiros” e eventualmente fazer sair o seu “alvo” a descoberto para lhe tornar mais fácil o “tiro”.

Depois de muito pensar, adquiriu uma “arma” nova, o último grito da tecnologia, com um “tiro” muito “plano” e um “alcance” quase ilimitado, e combinou uma estratégia com um amigo:

- Ele iria para o seu “esconderijo habitual” munido da sua nova “arma”, e quando o amigo passasse faria uma série de disparos, suficientemente distantes para ter a certeza de não lhe acertar,

- Ao amigo caberia fazer um “grande alarido” em torno do facto, e se possível fazer recair as suspeitas no “alvo” para fazer sair este a terreiro e transformar a sua “guerra particular” numa “guerra aberta”.

Levado à prática o plano, tudo parecia estar a correr bem para o nosso “snipper”, quando, na sequência de uma zanga com o amigo, decidiu tornar este num “novo alvo”. Sentido os tiros cada vez mais próximos, o agora “ex-amigo”, conhecendo o seu esconderijo saiu de “peito feito” qual Sylvester Stallone em filme do Rambo, com quantas armas tinha, abrindo fogo na direcção do nosso “snipper”.

Vendo-se descoberto pela primeira vez debaixo de fogo, saiu do esconderijo e correu “queixando-se que o queriam matar, logo a ele um ser pacífico que nunca atirara sobre ninguém”. O “ex-amigo” persegui-o com rajadas enquanto se encontrou visível, e até hoje não sabemos se foi ou não “ferido”, e caso afirmativo qual a “gravidade” dos ferimentos, nem se depois da experiência desistiu de ser “guerreiro”. Sabemos, isso sim, que a cidade tem estado muito tranquila, nunca mais se ouviram “tiros”. E do nosso “snipper” só temos tido longos silêncios intercalados com alguns estalinhos de Carnaval.

António Venâncio

Nota do autor – O presente texto é pura ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Era uma cidade militar, cercada de muralhas e ladeada por fortes, cuja história estava repleta de inúmeros feitos de armas protagonizados por outros tantos heróis.

Nesta cidade viria a nascer um menino que, de tanto ouvir falar dos grandes feitos praticados na sua cidade, sonhou vir a tornar-se um guerreiro. Embalado neste sonho de criança, muniu-se o menino, anda na sua primeira juventude, de “armas” e começou a praticar a “arte do tiro” treinando para a “grande batalha” na qual sonhava um dia vir a participar. Treinava afincadamente quer em “campos públicos” quer num “campo” que construiu exclusivamente para o efeito, dedicando-se diariamente ao “tiro ao boneco”, sem grandes resultados práticos pois a pontaria não era muita.

Julgando-se no entanto preparado, decidiu iniciar a sua própria “guerra” escolheu “um alvo”, que passou a fustigar em permanência, umas vezes com “rajadas dispersas” a “peito descoberto”, outras com tiros de “carabina e mira telescópica” apontados com todo o cuidado a coberto da noite ou do interior do seu “esconderijo”, qual “snipper” dos filmes americanos, mas, ou por falta de pontaria ou porque “o alvo se resguardava” nunca lhe tocou nem de raspão. Concluindo que assim não chegaria a ser o “herói” que sempre sonhara ser, começou a elaborar um plano que pudesse dar visibilidade aos seus “tiros” e eventualmente fazer sair o seu “alvo” a descoberto para lhe tornar mais fácil o “tiro”.

Depois de muito pensar, adquiriu uma “arma” nova, o último grito da tecnologia, com um “tiro” muito “plano” e um “alcance” quase ilimitado, e combinou uma estratégia com um amigo:

- Ele iria para o seu “esconderijo habitual” munido da sua nova “arma”, e quando o amigo passasse faria uma série de disparos, suficientemente distantes para ter a certeza de não lhe acertar,

- Ao amigo caberia fazer um “grande alarido” em torno do facto, e se possível fazer recair as suspeitas no “alvo” para fazer sair este a terreiro e transformar a sua “guerra particular” numa “guerra aberta”.

Levado à prática o plano, tudo parecia estar a correr bem para o nosso “snipper”, quando, na sequência de uma zanga com o amigo, decidiu tornar este num “novo alvo”. Sentido os tiros cada vez mais próximos, o agora “ex-amigo”, conhecendo o seu esconderijo saiu de “peito feito” qual Sylvester Stallone em filme do Rambo, com quantas armas tinha, abrindo fogo na direcção do nosso “snipper”.

Vendo-se descoberto pela primeira vez debaixo de fogo, saiu do esconderijo e correu “queixando-se que o queriam matar, logo a ele um ser pacífico que nunca atirara sobre ninguém”. O “ex-amigo” persegui-o com rajadas enquanto se encontrou visível, e até hoje não sabemos se foi ou não “ferido”, e caso afirmativo qual a “gravidade” dos ferimentos, nem se depois da experiência desistiu de ser “guerreiro”. Sabemos, isso sim, que a cidade tem estado muito tranquila, nunca mais se ouviram “tiros”. E do nosso “snipper” só temos tido longos silêncios intercalados com alguns estalinhos de Carnaval.

António Venâncio

Nota do autor – O presente texto é pura ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

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