PALAVROSSAVRVS REX: A VENDEDORA DE FARTURAS

24-12-2009
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Cavalo de Tróia em pintura de Giovanni Domenico TiepololkjMulher grávida, desejos redobrados. Sair e vogar para saciá-los é natural e desportivo.Gosto de ir pelo litoral à procura dos recantos onde a maresia nos não seja sonegadae tudo possa acontecer. Foi o caso. Mal parei defronte a uma caravana de petiscos e farturas, a Vendedora de Farturas, que eu não reconheci, reconheceu-me logo:«Por aqui, Dr. joshua? E o seu blogue vai ou não vai?»jhgNão me surpreendo de ser reconhecido e visitado até pela Vendedora de Farturas.É bom sinal. Os meus amigos na carne e no osso nunca me deram sinal de me terem visitado, nunca me cumprimentaram por ele-blogue.Ser a Mulher das Farturas a visitar-me e a dar-me mimos é um bom indicador de onde pára a amizade e começa a profissão apaixonante da estupidez normalmente feita de silêncios preguiçosos e da negra inveja amarela:«Eram duas farturas e um churro de chocolate, se faz favor. O blogue vai bem obrigado. Olhe, ajuda-me a viver ainda mais apaixonado pela vida e pelo mundo, na medida em que os espelha a minha peculiar maneira de os ver e viver.»lkjÉ de bom tom que se corresponda a um cumprimento afável com igual ou superior afabilidade.Também por isso, contente de ser lido, de o PALAVROSSAVRVS REX ser lido, vejam lá!, pela Vendedora de Farturas, não me detive: «E as vendas de farturas vão bem?»kjhFoi neste ponto que fui inundado de informações e inquietações do mais competente que há, pelo menos para uma Vendedora de Farturas: «Sou uma grande leitora sua, Dr. joshua, do Palavroso Dinossáuro. As farturas é sempre naquela: pouco e tal, às vezes dá e às vezes não dá. O que me preocupa mesmo é um novo aeroporto para Lisboa, é um TGV de Lisboa para Madrid, outro do Porto para Vigo e uma nova ponte sobre o Tejo para o servir. Ó Dr. joshua, acha sinceramente que temos País para isto tudo?... » lkjTentei responder e equilibrar o diálogo, mas a Vendedora de Farturas não se deteve: «Quem foi que andou a gritar "gastem-me o dinheiro dos meus impostos a fazer auto-estradas, pontes, aeroportos e comboios de que não precisamos? Sim, porque eu tenho dois filhos desempregados, tenho contas para pagar, impostos atrasados para pagar,o custo de vida cada vez mais alto, a miséria e a fome a roçar-me a vizinhança e nisto não se fala que sabe Deus quanta roupa e pão e outros víveres dou à caridade».ljNa verdade, tudo aquilo era pertinente e ter um blogue afinal é útil e dignoporque é com estas questões de fundo que nós bloggers gastamos horas e dias a fumigar a realidade e a revisitar, inquisitivos e investigadores, os dossiês, mais activos e insaciáveis cidadãos que os outros, verdadeiros pré-partícipes do Poder Democrático em sentido próprio e pleno,mas a vendedora de farturas não me poupava à prova da sua cidadania lúcida,consciente, interventiva e muito bem informada: «Porque veja, Dr. joshua,porque razão, então, o lóbi das obras públicas, os engenheiros, projectistas, banqueiros e advogados que os assessoram, mais a ilusão keynesiana do primeiro-ministro, nos hão-de impingir o que não pedimosnem sequer é prioritário, coisas a que nenhuma Suécia se deu ao trabalho, coisas de que nenhuma Irlanda quer saber,coisas a que nenhuma Dinamarca atribui qualquer importância ou prioridade?»lkjNesta altura, eu já estava excitado porque é exactamente isto que eu penso.Em trinta e quatro anos de pseudodemocracia, as pessoas nunca foram prioridade. Só os tachos dos políticos e as multidões que gravitam em torno de si e seus favores. Contente com a conversa, já tinha comido uma fartura, a minha mulher outra,a minha filha estava já besuntada com o chocolate do churro e eu queria ouvir mais: «Fomos nós, Dr. joshua, porventura - ou os autarcas, os especuladores imobiliários e os empresários do turismo - que reclamámos a legislação de excepção dos Projectos PIN para dar cabo da costa alentejana e do que resta do Algarve? Foi nossa a decisão que a Comissão Europeia classificou como uma batota para contornar as normas de protecção ambiental e ordenamento do território?».lkjNeste passo, acometeu-me uma aflição defecatória, e dei por mim,enquanto me desculpava e me despedia da Vendedora de Farturas, a louvar a pertinênciadas suas observações de Vendedora de Farturas, visitadora de blogues e fã do meu, uma mulher loura, com dentes postiços, mamas de silicone, implantes de cabelo,intervenção cirúrgica no períneo e, mesmo assim, capaz de sentir Portugal, as injustiças, as derivas faraónicas e loucuras empreendedoras, que nos atrasam a vida a todos perante a inacção de todos. E tudo com enorme conhecimento de causa e competência discursiva, para uma Vendedora de Farturas. Quarentona e atenta, sem qualquer dúvida. Embora intelectualmente excitado e aflitíssimo para cagar, depois de este comprimido socializador, comecei a descer à floresca dantesca e virgiliana de uma certa angústia.lkjMeti-me no carro, filha e mulher, e conduzi o mais depressa que pudedentro dos limites da lei, até à minha sanita preferida cá em casa, mas desperto para todos aqueles tópicos, não parava de reflectir numa outra ordem de ideias por causa da angústia dantesca que me assaltou:«Meu Deus, que amigos fiz eu na vida que não querem saber de nada?Que com nada se angustiam, concentrados na sua gamela da sopa, e desinteressadosdo sentido de estes negócios afinal de duvidosíssima necessidade? Sinto-me envergonhado de amigos que me não lêem porque escrevo difícil e sou duro e pareço irado,que não lhes sou compreensível nem legível,que não apreendem o volume das minhas frases e chegam vazios ao fim delas,que não reagem nem respondem a quaisquer dos meus textos,eles que me viram o cu, que me conhecem quase melhor que eu mesmo,gente com quem um dia acampei, gente com quem um dia tomei banho depois do suor de um jogo,a quem suportei piadinhas de mau gosto e brincadeiras que podiam dar mau resultado? Amigos? É preciso que venha uma Vendedora de Farturas, que não conheço, explicar-me o por que razão afinal é impossível que algum dia eu tenha tido amigos! Porca de vida!» lkjAcabei de defecar e vim escrever isto. Pronto, está escritoe vai dedicado à extraordinária Vendedora de Farturas que me interpelou.O Cavalo de Tróia? Bem, isso era para ilustrar um pensamento peregrino e sanitário:depois da sua oca entrevista ao Expresso, Manuela Ferreira Leite, respeitável que seja, que o é, parece-me cada vez mais e sobretudo o Cavalo de Tróia inexpressivo e Vácuode um Rui Rio, de um Pacheco Pereira e de uma multidão de outros que se aninham bem dentro da Ideia-Leite à Liderança só para dela poderem saltar, mal o Cavalo esteja na cidadela do Poder a que, por si sós, não se atrevem.E tudo tem a ver com tudo.kjhSe a história do Cavalo de Tróia se repetir, é claro!...


Cavalo de Tróia em pintura de Giovanni Domenico TiepololkjMulher grávida, desejos redobrados. Sair e vogar para saciá-los é natural e desportivo.Gosto de ir pelo litoral à procura dos recantos onde a maresia nos não seja sonegadae tudo possa acontecer. Foi o caso. Mal parei defronte a uma caravana de petiscos e farturas, a Vendedora de Farturas, que eu não reconheci, reconheceu-me logo:«Por aqui, Dr. joshua? E o seu blogue vai ou não vai?»jhgNão me surpreendo de ser reconhecido e visitado até pela Vendedora de Farturas.É bom sinal. Os meus amigos na carne e no osso nunca me deram sinal de me terem visitado, nunca me cumprimentaram por ele-blogue.Ser a Mulher das Farturas a visitar-me e a dar-me mimos é um bom indicador de onde pára a amizade e começa a profissão apaixonante da estupidez normalmente feita de silêncios preguiçosos e da negra inveja amarela:«Eram duas farturas e um churro de chocolate, se faz favor. O blogue vai bem obrigado. Olhe, ajuda-me a viver ainda mais apaixonado pela vida e pelo mundo, na medida em que os espelha a minha peculiar maneira de os ver e viver.»lkjÉ de bom tom que se corresponda a um cumprimento afável com igual ou superior afabilidade.Também por isso, contente de ser lido, de o PALAVROSSAVRVS REX ser lido, vejam lá!, pela Vendedora de Farturas, não me detive: «E as vendas de farturas vão bem?»kjhFoi neste ponto que fui inundado de informações e inquietações do mais competente que há, pelo menos para uma Vendedora de Farturas: «Sou uma grande leitora sua, Dr. joshua, do Palavroso Dinossáuro. As farturas é sempre naquela: pouco e tal, às vezes dá e às vezes não dá. O que me preocupa mesmo é um novo aeroporto para Lisboa, é um TGV de Lisboa para Madrid, outro do Porto para Vigo e uma nova ponte sobre o Tejo para o servir. Ó Dr. joshua, acha sinceramente que temos País para isto tudo?... » lkjTentei responder e equilibrar o diálogo, mas a Vendedora de Farturas não se deteve: «Quem foi que andou a gritar "gastem-me o dinheiro dos meus impostos a fazer auto-estradas, pontes, aeroportos e comboios de que não precisamos? Sim, porque eu tenho dois filhos desempregados, tenho contas para pagar, impostos atrasados para pagar,o custo de vida cada vez mais alto, a miséria e a fome a roçar-me a vizinhança e nisto não se fala que sabe Deus quanta roupa e pão e outros víveres dou à caridade».ljNa verdade, tudo aquilo era pertinente e ter um blogue afinal é útil e dignoporque é com estas questões de fundo que nós bloggers gastamos horas e dias a fumigar a realidade e a revisitar, inquisitivos e investigadores, os dossiês, mais activos e insaciáveis cidadãos que os outros, verdadeiros pré-partícipes do Poder Democrático em sentido próprio e pleno,mas a vendedora de farturas não me poupava à prova da sua cidadania lúcida,consciente, interventiva e muito bem informada: «Porque veja, Dr. joshua,porque razão, então, o lóbi das obras públicas, os engenheiros, projectistas, banqueiros e advogados que os assessoram, mais a ilusão keynesiana do primeiro-ministro, nos hão-de impingir o que não pedimosnem sequer é prioritário, coisas a que nenhuma Suécia se deu ao trabalho, coisas de que nenhuma Irlanda quer saber,coisas a que nenhuma Dinamarca atribui qualquer importância ou prioridade?»lkjNesta altura, eu já estava excitado porque é exactamente isto que eu penso.Em trinta e quatro anos de pseudodemocracia, as pessoas nunca foram prioridade. Só os tachos dos políticos e as multidões que gravitam em torno de si e seus favores. Contente com a conversa, já tinha comido uma fartura, a minha mulher outra,a minha filha estava já besuntada com o chocolate do churro e eu queria ouvir mais: «Fomos nós, Dr. joshua, porventura - ou os autarcas, os especuladores imobiliários e os empresários do turismo - que reclamámos a legislação de excepção dos Projectos PIN para dar cabo da costa alentejana e do que resta do Algarve? Foi nossa a decisão que a Comissão Europeia classificou como uma batota para contornar as normas de protecção ambiental e ordenamento do território?».lkjNeste passo, acometeu-me uma aflição defecatória, e dei por mim,enquanto me desculpava e me despedia da Vendedora de Farturas, a louvar a pertinênciadas suas observações de Vendedora de Farturas, visitadora de blogues e fã do meu, uma mulher loura, com dentes postiços, mamas de silicone, implantes de cabelo,intervenção cirúrgica no períneo e, mesmo assim, capaz de sentir Portugal, as injustiças, as derivas faraónicas e loucuras empreendedoras, que nos atrasam a vida a todos perante a inacção de todos. E tudo com enorme conhecimento de causa e competência discursiva, para uma Vendedora de Farturas. Quarentona e atenta, sem qualquer dúvida. Embora intelectualmente excitado e aflitíssimo para cagar, depois de este comprimido socializador, comecei a descer à floresca dantesca e virgiliana de uma certa angústia.lkjMeti-me no carro, filha e mulher, e conduzi o mais depressa que pudedentro dos limites da lei, até à minha sanita preferida cá em casa, mas desperto para todos aqueles tópicos, não parava de reflectir numa outra ordem de ideias por causa da angústia dantesca que me assaltou:«Meu Deus, que amigos fiz eu na vida que não querem saber de nada?Que com nada se angustiam, concentrados na sua gamela da sopa, e desinteressadosdo sentido de estes negócios afinal de duvidosíssima necessidade? Sinto-me envergonhado de amigos que me não lêem porque escrevo difícil e sou duro e pareço irado,que não lhes sou compreensível nem legível,que não apreendem o volume das minhas frases e chegam vazios ao fim delas,que não reagem nem respondem a quaisquer dos meus textos,eles que me viram o cu, que me conhecem quase melhor que eu mesmo,gente com quem um dia acampei, gente com quem um dia tomei banho depois do suor de um jogo,a quem suportei piadinhas de mau gosto e brincadeiras que podiam dar mau resultado? Amigos? É preciso que venha uma Vendedora de Farturas, que não conheço, explicar-me o por que razão afinal é impossível que algum dia eu tenha tido amigos! Porca de vida!» lkjAcabei de defecar e vim escrever isto. Pronto, está escritoe vai dedicado à extraordinária Vendedora de Farturas que me interpelou.O Cavalo de Tróia? Bem, isso era para ilustrar um pensamento peregrino e sanitário:depois da sua oca entrevista ao Expresso, Manuela Ferreira Leite, respeitável que seja, que o é, parece-me cada vez mais e sobretudo o Cavalo de Tróia inexpressivo e Vácuode um Rui Rio, de um Pacheco Pereira e de uma multidão de outros que se aninham bem dentro da Ideia-Leite à Liderança só para dela poderem saltar, mal o Cavalo esteja na cidadela do Poder a que, por si sós, não se atrevem.E tudo tem a ver com tudo.kjhSe a história do Cavalo de Tróia se repetir, é claro!...

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