Sem título

27-01-2011
marcar artigo

Lola Duenas lendo lábios em Los Abrazos RotosO último Almodôvar pode ser lido como uma grande alegoria da montagem cinematográfica, ou da criação artística, se quiserem. Somos financiados por um ser abjecto, que detém a propriedade dos resultados do nosso trabalho e direito de pernada da mulher que desejamos. A nossa obra foi desfigurada intencionalmente. Tentamos restaurá-la mas cegámos- cegueira cortical, diz o médico, o que significa que não percebemos o que vemos.O vilão também não percebe. Visionando em directo o filme que encomendou para vigiar a produção do filme, o asqueroso detentor do capital desabafa: - Não percebo nada desta porcaria.E nos momentos mais deliciosos do filme, uma mulher do Leste lê, em tom monocórdico, os lábios dos que estão a ser espiados. Quando os lábios estão na sombra ela usa a expressão: - Não vejo lábios. A alternância de frases de elevado conteúdo emocional recitadas em voz funcionária, intercaladas com a expressão “ não vejo lábios”, criam um efeito divertido.Nesta campanha eleitoral, e na vida em geral, acontece-me com frequência não ver lábios. Não vejo lábios, não percebo nada desta porcaria e , de uma maneira geral estou atingido por cegueira cortical. Há felizmente quem veja tudo e rapidamente. Os jornalistas vêem tudo, e da noite para o dia investigam e põem setinhas para baixo e para cima. Mesmo o cauto público com que me relaciono é muito sensível ao critério das setinhas. Não havendo pachorra para ler a notícia e menos ainda para analisar a informação, fica a setinha, colada ao personagem, como se resultasse de escrutínio popular ou desígnio divino.O carro de combate do Simplex também vê tudo e tudo explica. No início espantei-me como é que gente respeitável podia meter-se numa lagarta socrática. Depois percebi. É a divisão de tarefas na máquina de guerra. Uns definem os alvos, outros carregam os obuses, outros disparam e os mais recatados fazem os relatórios de ocorrência. Há ainda os mais puros de todos, que nem estão bem no combate e só oleiam as lagartas. No final todos serão premiados, a curto ou longo prazo, na terra ministerial ou no céu da fraternidade socialista.A grande desilusão deste ciclo de debates é a Esquerda, seja lá isso o que for. O partido da vanguarda proletária e dos seus aliados tem um líder que inspira respeito e comiseração. O tipo de sentimentos que o recomendam para director do Museu do neo-realismo ou da Memória do Alfeite.Francisco Louçã não tem gabinete de imagem. Alguém que lhe diga todos os dias que uma grande parte dos portugueses lhe deplora a Virtude, a Indignação e o verbo fácil. No debate com Sócrates, Louçã esqueceu-se de que estava a falar para os portugueses, e de que era mais importante esclarecer a política fiscal do BE e a política de nacionalizações do que encostar Sócrates aos interesses da Mota-Engil e do Amorim. Louçã já diz “eu” vezes demais, levando a crer que o BE é um partido como os outros e cada vez menos um movimento que alguns reclamaram como necessidade.A direita portuguesa, se os seus dirigentes a representassem verdadeiramente, seria fantástica. Anti capitalista, defensora das liberdades, sempre ao lado dos mais pobres e desfavorecidos. Dir-se-á que depois de 4 anos de Sócrates, Campos, Coelho, Santos Silva e Victor Batista toda a direita reluz só por existir e ser outra coisa. A questão é que está ainda na memória de alguns a trapalhada de Santana e Portas- não o afável Paulo Portas que hoje disputa as eleições, urbano e culto, inteligente e educado, mas o ministro do Mar e dos submarinos, o Portas do Telmo e do Luís Nobre Guedes, a abaterem os sobreiros na noite em que já não eram, a noite fatídica em que os ministros, de mala feita, têm aquela convulsa dedicação ao bem público e ao interesse nacional.A senhora MFL é simpática. Se ela vencer teremos enfim o país com que Pacheco Pereira sonhou. Ou Aguiar Branco? Ou António Preto? Ou Jardim, o guru de Jaime Gama? Ou o inefável Arnaut, Mexia, o pugilista de que já não lembro o nome? Ou os candidatos em quem verdadeiramente, nominalmente, posso votar e cujo nome vou declinar para vosso opróbrio, amigos da cidade que prezais a claridade intelectual: Pedro Saraiva, Maria do Rosário Águas, Nuno Encarnação, Miguel Almeida, Madalena Carrito, Filipe Carraco, Maurício Marques, Ana Paula Sançana, Carlos Ferreira.Sim, eu sei. Paulo Mota Pinto lava a lista de Coimbra tal como Ana Jorge permite que os torturados socialistas de Coimbra votem em Victor Batista e Horácio Antunes. Mas não deixa de ser arrepiante. Oh António, oh Carolina, oh Camilinha, oh Francisco, eu sei que quereis como eu um Portugal futuro, onde se conseguisse ouvir a torre de Santo António dos Olivais e as crianças de manhã a entrar nas Escolas, mas olhem quem vão sentar no Parlamento. Olhem vocês. Eu não percebo nada desta porcaria. Não vejo lábios. Nem do Leste me vem nenhuma ajudaEtiquetas: Abrazos Rotos e Cegueira cortical

Lola Duenas lendo lábios em Los Abrazos RotosO último Almodôvar pode ser lido como uma grande alegoria da montagem cinematográfica, ou da criação artística, se quiserem. Somos financiados por um ser abjecto, que detém a propriedade dos resultados do nosso trabalho e direito de pernada da mulher que desejamos. A nossa obra foi desfigurada intencionalmente. Tentamos restaurá-la mas cegámos- cegueira cortical, diz o médico, o que significa que não percebemos o que vemos.O vilão também não percebe. Visionando em directo o filme que encomendou para vigiar a produção do filme, o asqueroso detentor do capital desabafa: - Não percebo nada desta porcaria.E nos momentos mais deliciosos do filme, uma mulher do Leste lê, em tom monocórdico, os lábios dos que estão a ser espiados. Quando os lábios estão na sombra ela usa a expressão: - Não vejo lábios. A alternância de frases de elevado conteúdo emocional recitadas em voz funcionária, intercaladas com a expressão “ não vejo lábios”, criam um efeito divertido.Nesta campanha eleitoral, e na vida em geral, acontece-me com frequência não ver lábios. Não vejo lábios, não percebo nada desta porcaria e , de uma maneira geral estou atingido por cegueira cortical. Há felizmente quem veja tudo e rapidamente. Os jornalistas vêem tudo, e da noite para o dia investigam e põem setinhas para baixo e para cima. Mesmo o cauto público com que me relaciono é muito sensível ao critério das setinhas. Não havendo pachorra para ler a notícia e menos ainda para analisar a informação, fica a setinha, colada ao personagem, como se resultasse de escrutínio popular ou desígnio divino.O carro de combate do Simplex também vê tudo e tudo explica. No início espantei-me como é que gente respeitável podia meter-se numa lagarta socrática. Depois percebi. É a divisão de tarefas na máquina de guerra. Uns definem os alvos, outros carregam os obuses, outros disparam e os mais recatados fazem os relatórios de ocorrência. Há ainda os mais puros de todos, que nem estão bem no combate e só oleiam as lagartas. No final todos serão premiados, a curto ou longo prazo, na terra ministerial ou no céu da fraternidade socialista.A grande desilusão deste ciclo de debates é a Esquerda, seja lá isso o que for. O partido da vanguarda proletária e dos seus aliados tem um líder que inspira respeito e comiseração. O tipo de sentimentos que o recomendam para director do Museu do neo-realismo ou da Memória do Alfeite.Francisco Louçã não tem gabinete de imagem. Alguém que lhe diga todos os dias que uma grande parte dos portugueses lhe deplora a Virtude, a Indignação e o verbo fácil. No debate com Sócrates, Louçã esqueceu-se de que estava a falar para os portugueses, e de que era mais importante esclarecer a política fiscal do BE e a política de nacionalizações do que encostar Sócrates aos interesses da Mota-Engil e do Amorim. Louçã já diz “eu” vezes demais, levando a crer que o BE é um partido como os outros e cada vez menos um movimento que alguns reclamaram como necessidade.A direita portuguesa, se os seus dirigentes a representassem verdadeiramente, seria fantástica. Anti capitalista, defensora das liberdades, sempre ao lado dos mais pobres e desfavorecidos. Dir-se-á que depois de 4 anos de Sócrates, Campos, Coelho, Santos Silva e Victor Batista toda a direita reluz só por existir e ser outra coisa. A questão é que está ainda na memória de alguns a trapalhada de Santana e Portas- não o afável Paulo Portas que hoje disputa as eleições, urbano e culto, inteligente e educado, mas o ministro do Mar e dos submarinos, o Portas do Telmo e do Luís Nobre Guedes, a abaterem os sobreiros na noite em que já não eram, a noite fatídica em que os ministros, de mala feita, têm aquela convulsa dedicação ao bem público e ao interesse nacional.A senhora MFL é simpática. Se ela vencer teremos enfim o país com que Pacheco Pereira sonhou. Ou Aguiar Branco? Ou António Preto? Ou Jardim, o guru de Jaime Gama? Ou o inefável Arnaut, Mexia, o pugilista de que já não lembro o nome? Ou os candidatos em quem verdadeiramente, nominalmente, posso votar e cujo nome vou declinar para vosso opróbrio, amigos da cidade que prezais a claridade intelectual: Pedro Saraiva, Maria do Rosário Águas, Nuno Encarnação, Miguel Almeida, Madalena Carrito, Filipe Carraco, Maurício Marques, Ana Paula Sançana, Carlos Ferreira.Sim, eu sei. Paulo Mota Pinto lava a lista de Coimbra tal como Ana Jorge permite que os torturados socialistas de Coimbra votem em Victor Batista e Horácio Antunes. Mas não deixa de ser arrepiante. Oh António, oh Carolina, oh Camilinha, oh Francisco, eu sei que quereis como eu um Portugal futuro, onde se conseguisse ouvir a torre de Santo António dos Olivais e as crianças de manhã a entrar nas Escolas, mas olhem quem vão sentar no Parlamento. Olhem vocês. Eu não percebo nada desta porcaria. Não vejo lábios. Nem do Leste me vem nenhuma ajudaEtiquetas: Abrazos Rotos e Cegueira cortical

marcar artigo