PONTE EUROPA: Privilégios da Igreja católica

06-08-2010
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É admirável como a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) se infiltra no aparelho de Estado e consegue privilégios intoleráveis num Estado de Direito e indignos de um país laico. A chantagem que exerce sobre o Governo é da sua natureza, mas a capitulação do Estado é indigna. Os bispos rejubilam com o acordo a que chegaram. Durante a ditadura salazarista havia assistência religiosa nos hospitais e nas forças armadas, agora alargada às forças de segurança. Ficam excluídos os polícias municipais e os bombeiros. Os católicos fardados têm direito a um padre de piquete na sequência do acordo sobre assistência religiosa assinado com o Estado Português. O País paga à peça. A assistência passa a ser uma espécie de prestação de serviços ao Estado, paga segundo a tabela em vigor, tendo em conta o número de pessoas assistidas. Se um bispo rezar pelas Forças Armadas e de Segurança teremos de pagar milhares de actos pios? Resta saber se um presidiário que se confesse a prestações, 10 vezes por dia, custa 10 vezes mais do que outro que pede a remissão dos pecados a pronto. Tudo isto sem taxa moderadora. Há uma frase que me deixa perplexo, no telegrama da Lusa, referido no DN: «Um dos aspectos que ressaltou diz respeito ao artigo 16.º. Desta forma, quando um casamento for declarado nulo perante a Igreja, o Estado terá de o reconhecer». Fica a dúvida se esse «O» é pronome pessoal ou demonstrativo. Em caso de anulação do casamento pela Igreja – embora caro e difícil – o Estado tem de «O» reconhecer (a «ele», casamento, ou a «isso», anulação)? Parecendo anómala a inclusão do direito canónico no ordenamento jurídico português, deve ser pronome pessoal mas tudo é possível da Igreja que pôs o PR e o presidente da AR a integrarem a comissão de honra da canonização de D. Nuno. Quando a ICAR obtém a conivência de Cavaco e de Jaime Gama para a confirmação da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar peixe, por intercessão do espectro de D. Nuno, Portugal deixa de ser um país e torna-se uma sacristia. É curioso que a escalada beata e os atropelos cometidos contra a laicidade surjam na proximidade das eleições e no período de férias.
As escolas, prisões e quartéis passam a ser um campo privilegiado para a competição prosélita e o confronto religioso.

É admirável como a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) se infiltra no aparelho de Estado e consegue privilégios intoleráveis num Estado de Direito e indignos de um país laico. A chantagem que exerce sobre o Governo é da sua natureza, mas a capitulação do Estado é indigna. Os bispos rejubilam com o acordo a que chegaram. Durante a ditadura salazarista havia assistência religiosa nos hospitais e nas forças armadas, agora alargada às forças de segurança. Ficam excluídos os polícias municipais e os bombeiros. Os católicos fardados têm direito a um padre de piquete na sequência do acordo sobre assistência religiosa assinado com o Estado Português. O País paga à peça. A assistência passa a ser uma espécie de prestação de serviços ao Estado, paga segundo a tabela em vigor, tendo em conta o número de pessoas assistidas. Se um bispo rezar pelas Forças Armadas e de Segurança teremos de pagar milhares de actos pios? Resta saber se um presidiário que se confesse a prestações, 10 vezes por dia, custa 10 vezes mais do que outro que pede a remissão dos pecados a pronto. Tudo isto sem taxa moderadora. Há uma frase que me deixa perplexo, no telegrama da Lusa, referido no DN: «Um dos aspectos que ressaltou diz respeito ao artigo 16.º. Desta forma, quando um casamento for declarado nulo perante a Igreja, o Estado terá de o reconhecer». Fica a dúvida se esse «O» é pronome pessoal ou demonstrativo. Em caso de anulação do casamento pela Igreja – embora caro e difícil – o Estado tem de «O» reconhecer (a «ele», casamento, ou a «isso», anulação)? Parecendo anómala a inclusão do direito canónico no ordenamento jurídico português, deve ser pronome pessoal mas tudo é possível da Igreja que pôs o PR e o presidente da AR a integrarem a comissão de honra da canonização de D. Nuno. Quando a ICAR obtém a conivência de Cavaco e de Jaime Gama para a confirmação da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar peixe, por intercessão do espectro de D. Nuno, Portugal deixa de ser um país e torna-se uma sacristia. É curioso que a escalada beata e os atropelos cometidos contra a laicidade surjam na proximidade das eleições e no período de férias.
As escolas, prisões e quartéis passam a ser um campo privilegiado para a competição prosélita e o confronto religioso.

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