PALAVROSSAVRVS REX: SALOMÓNICO NICOLAU SANTOS E GELDOF

30-05-2010
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Gosto de artigos cujo tempo de maturação seja suficiente para exercerem a única justiça opinativa eficaz: a salomónica. Quando se fala da justiça salomónica, esquece-se que se trata de uma justiça dedutiva, isto é, ante uma situação de intransigência entre duas partes, a proposta do juiz é tão repelente que a parte que ama realmente e quer o verdadeiro bem do que está em disputa abdica do seu propósito inicial, lesando-se a si mesma porque a seus olhos um bem maior emerge. Assim, a proposta inicial do juiz não se consuma. As partes revelam a sua índole. E, tendo lido e observado tudo, tendo o juiz a última palavra, faz justiça. Mas só retemos a questão do meio por meio e é o que fica na expressão.lkjPor isso, e só nessa medida, é que Nicolau Santos vem pôr a claro os erros e excessos de ambas as partes na questão recente que opôs Geldof ao Governo Angolanoe o Governo Angolano a Geldof:kjh«Vamos lá então a ser politicamente incorrectos. Convidado pelo Expresso e pelo Banco Espírito Santo para vir a Portugal falar sobre "O futuro sustentável", o (ex-)cantor rock Bob Geldof informou-nos que ganhava melhor a dar concertos do que a fazer conferências pugnando pela ajuda internacional a África (uma afirmação "simpática"...), disse mal de quem lhe pagou o "cachet" ("Bankers? Fuck them!") e pôs a cereja em cima do bolo, ao sustentar que Angola "é gerida por criminosos".lkjPrimeiro ponto: manda a coerência que quem acha que os banqueiros são hipócritas não lhes aceite nem os convites nem o dinheiro. De outro modo, as boas causas que se defendem ficam, elas próprias, inquinadas e sob suspeição.lkjSegundo ponto: também não é de bom tom utilizar o solo português para disparar violentas críticas sobre um país independente, ao qual Portugal está ligado por um passado comum, mas também por um presente encorajador e um futuro promissor. Dirão que escrevo isto porque há interesses económicos, mas também sociais e culturais comuns aos dois países. É absolutamente verdade. E também é verdade que a classe dirigente angolana tem muito por onde ser criticada. lkjContudo, Geldof falha redondamente no simplismo com que analisa a situação angolana. Por um lado, há hoje em dia em África países com situações políticas e sociais bem mais graves do que Angola (Zimbabwe, Sudão, Guiné Equatorial...). Depois, Angola esteve em guerra durante 27 anos - e a guerra favorece o nepotismo, a corrupção, a impunidade, a cleptocracia, as grandes fortunas e a imensa miséria. lkjFinalmente, desde 2002, o país está a fazer um trajecto ascendente no caminho da normalidade democrática, que deve ser apoiado e incentivado, enquanto a evolução dos outros países referidos só tem tendência a piorar.kjhHá ainda muita desigualdade e miséria em Angola - e muito a corrigir. Mas discursos radicais como o de Geldof não contribuem em nada para melhorar a situação. E por mais atraentes que sejam são destinados às palmas fáceis e ao "show-off", mas soam lamentavelmente a falso.lkjPor último: o 'Jornal de Angola' publicou um artigo lamentável sobre o assunto. Ora este tipo repetido de artigos do jornal oficial do regime de Luanda também não contribui em nada para uma nova imagem do país. Em contrapartida, Aguinaldo Jaime, ministro-adjunto do primeiro-ministro angolano, dá uma entrevista notável ao "Diário Económico", onde demonstra, mais uma vez, que seria um brilhantissimo governante em qualquer parte do mundo.»


Gosto de artigos cujo tempo de maturação seja suficiente para exercerem a única justiça opinativa eficaz: a salomónica. Quando se fala da justiça salomónica, esquece-se que se trata de uma justiça dedutiva, isto é, ante uma situação de intransigência entre duas partes, a proposta do juiz é tão repelente que a parte que ama realmente e quer o verdadeiro bem do que está em disputa abdica do seu propósito inicial, lesando-se a si mesma porque a seus olhos um bem maior emerge. Assim, a proposta inicial do juiz não se consuma. As partes revelam a sua índole. E, tendo lido e observado tudo, tendo o juiz a última palavra, faz justiça. Mas só retemos a questão do meio por meio e é o que fica na expressão.lkjPor isso, e só nessa medida, é que Nicolau Santos vem pôr a claro os erros e excessos de ambas as partes na questão recente que opôs Geldof ao Governo Angolanoe o Governo Angolano a Geldof:kjh«Vamos lá então a ser politicamente incorrectos. Convidado pelo Expresso e pelo Banco Espírito Santo para vir a Portugal falar sobre "O futuro sustentável", o (ex-)cantor rock Bob Geldof informou-nos que ganhava melhor a dar concertos do que a fazer conferências pugnando pela ajuda internacional a África (uma afirmação "simpática"...), disse mal de quem lhe pagou o "cachet" ("Bankers? Fuck them!") e pôs a cereja em cima do bolo, ao sustentar que Angola "é gerida por criminosos".lkjPrimeiro ponto: manda a coerência que quem acha que os banqueiros são hipócritas não lhes aceite nem os convites nem o dinheiro. De outro modo, as boas causas que se defendem ficam, elas próprias, inquinadas e sob suspeição.lkjSegundo ponto: também não é de bom tom utilizar o solo português para disparar violentas críticas sobre um país independente, ao qual Portugal está ligado por um passado comum, mas também por um presente encorajador e um futuro promissor. Dirão que escrevo isto porque há interesses económicos, mas também sociais e culturais comuns aos dois países. É absolutamente verdade. E também é verdade que a classe dirigente angolana tem muito por onde ser criticada. lkjContudo, Geldof falha redondamente no simplismo com que analisa a situação angolana. Por um lado, há hoje em dia em África países com situações políticas e sociais bem mais graves do que Angola (Zimbabwe, Sudão, Guiné Equatorial...). Depois, Angola esteve em guerra durante 27 anos - e a guerra favorece o nepotismo, a corrupção, a impunidade, a cleptocracia, as grandes fortunas e a imensa miséria. lkjFinalmente, desde 2002, o país está a fazer um trajecto ascendente no caminho da normalidade democrática, que deve ser apoiado e incentivado, enquanto a evolução dos outros países referidos só tem tendência a piorar.kjhHá ainda muita desigualdade e miséria em Angola - e muito a corrigir. Mas discursos radicais como o de Geldof não contribuem em nada para melhorar a situação. E por mais atraentes que sejam são destinados às palmas fáceis e ao "show-off", mas soam lamentavelmente a falso.lkjPor último: o 'Jornal de Angola' publicou um artigo lamentável sobre o assunto. Ora este tipo repetido de artigos do jornal oficial do regime de Luanda também não contribui em nada para uma nova imagem do país. Em contrapartida, Aguinaldo Jaime, ministro-adjunto do primeiro-ministro angolano, dá uma entrevista notável ao "Diário Económico", onde demonstra, mais uma vez, que seria um brilhantissimo governante em qualquer parte do mundo.»

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