Arestas de Vento: agosto 10, 2008

22-10-2009
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O GRUPO DE ANIMAÇÃO E TEATRO ESPELHO MÁGICO VAI REALIZAR UM CASTING PARA ACTRIZES QUE SAIBAM REPRESENTAR, CANTAR E DANÇAR COM O OBJECTIVO DE INTEGRAREM O ELENCO DO GRUPO E, CONSEQUENTEMENTE, DO PRÓXIMO ESPECTÁCULO TEATRAL INFANTIL INÉDITO COM ESTREIA PREVISTA PARA FEVEREIRO DE 2009.

Moral da coisa: A cultura é um bem demasiado precioso para ficar condicionada pela teoria da pedra no sapato, ou por interesses de empresários com olho na testa e que muitas vezes substituem vereadores, chefes não sei de quê e, naturalmente, seus pares de contenda.

Pedro Namora, ex - casapiano e amigo de muitas das vítimas teme que (...) TUDO NUMA GRANDE ENTREVISTA AO SEMANÁRIO. Vamos ler??

“Com o tempo que durou o julgamento, dificilmente se fará justiça”

Pedro Namora, ex-casapiano e amigo de muitas das vítimas teme que com os actuais responsáveis da Casa Pia, a instituição tenha os dias contados. "Temo que Sócrates tenha incumbido a actual Provedora de esvaziar a Casa Pia de Lisboa, para poder alienar o valioso património da instituição."

Pedro Namora foi um dos rostos públicos da denúncia de crimes no caso "Casa Pia". Que balanço faz de todo este processo?

Faço um balanço extremamente positivo: conseguimos parar a barbárie do abuso sexual de crianças, que existia, há pelo menos quatro décadas, de forma organizada na instituição e contribuir para o conhecimento nacional de um fenómeno criminoso que, é preciso relembrar, ocorre em mais de 80% dos casos, em contexto familiar. Em consequência, aumentou o número de denúncias aos órgãos de polícia criminal. Em suma, a nossa luta contribuiu para que as crianças deste país estejam hoje mais seguras.

A excessiva mediatização do caso "Casa Pia" afectou o processo de investigação?

É preciso recordar que sem a mediatização, sobretudo sem o corajoso e honrado trabalho da jornalista Felícia Cabrita, as denúncias que fizemos teriam tido o mesmo destino das que, ao longo dos anos, foi fazendo o Mestre Américo Henriques: o caixote da inacção conivente.

O que afectou o processo foi a acção concertada de criminosos, jornalistas de cartão apenas, para descredibilizar a investigação, trabalho de que foram incumbidos, em devido tempo, por políticos e outras pessoas influentes.

Quem são os culpados por este processo se arrastar por tanto tempo?

Os culpados são os que apostaram na destruição do processo desde o início. Os que ameaçaram, perseguiram, difamaram e, em desespero, tentaram comprar, todos quantos assumiram uma atitude consequente de solidariedade e defesa das vítimas.

Uma das figuras tão ou mais mediáticas do que os arguidos foi o juiz Rui Teixeira. Considera que foi graças a ele que o processo avançou da simples investigação para acusações formais?

Não! A responsabilidade por essa fase processual é do Ministério Público, cujo trabalho foi apoiado pela equipa da Polícia Judiciária e outros órgãos de polícia criminal. O juiz Rui Teixeira limitou-se a cumprir com aquilo que a sua função exige. Mas é fundamental assinalar que pela coragem, competência e seriedade demonstrada ficará para sempre no coração dos portugueses.

Houve um aproveitamento político atirando nomes para a praça pública, como foi o caso dos nomes de Paulo Pedroso, Jorge Sampaio, Jaime Gama e Ferro Rodrigues?

Em primeiro lugar, é preciso dizer que nunca nenhum aluno da Casa Pia se referiu ao Dr. Jorge Sampaio e a miserável referência ao seu nome foi feita por gente apostada em descredibilizar toda a investigação. Relativamente a Jaime Gama, Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues, várias vítimas os referiram. Os referidos senhores têm processado esses meus irmãos casapianos e têm perdido todos os processos.

No seu blogue fala sobre uma suposta vítima, que foi acusada de difamar o bom-nome do actual Presidente da Assembleia da República. Quer esclarecer os leitores do SEMANÁRIO?

Julgo que a resposta anterior esclarece a questão. Também esta vítima foi absolvida no processo que Jaime Gama lhe moveu. Infelizmente, as vítimas não podem processar muitos dos que delas abusaram por estarem prescritos os respectivos procedimentos criminais.

A relação com o Adelino Granja deteriorou-se e foi público o vosso desentendimento. Não deveriam lutar e dar voz por aqueles que designadamente sofreram abusos?

Eu tenho lutado ao lado dos que, por impulso decisivo de Catalina Pestana, criaram a Rede de Cuidadores e têm mostrado, de forma consequente, que estão ao lado das crianças, contra os abusos sexuais e outras formas de maus-tratos.

Adelino Granja, numa entrevista ao SEMANÁRIO disse que "Catalina Pestana, numa época tão conturbada como a que foi nomeada, centrou-se mais na colaboração com a investigação criminal." Concorda?

Não. Catalina Pestana foi a melhor coisa que podia ter acontecido aos casapianos e à Casa Pia de Lisboa. Claro que colaborou com a investigação criminal, o que por mim teria bastado. Porque combateu o terror e defendeu as crianças. Mas fez muito, muito mais. Além de ter reformulado todo o sistema de segurança da instituição, procedeu a uma profunda reestruturação dos serviços administrativo-financeiros. Admitiu mais sessenta educadores e os lares residenciais passaram a ter cinco educadores em vez dos anteriores três, o que permitiu reforçar o acompanhamento das crianças. Por um lado, promoveu, com o apoio determinante do Dr. Bagão Félix, a constituição do Conselho Técnico-científico, de que fizeram parte personalidades como o Eng. Roberto Carneiro, o Dr. José Roquete; os Prof. Daniel Sampaio e Gomes Pedro, o Dr. Álvaro de Carvalho; a senhora Procuradora Dulce Rocha; os Dr. Joaquim Azevedo e Leandro de Almeida e o senhor Padre Alberto Brito. O Conselho, contando sempre com o apoio entusiástico e a reconhecida competência e sensibilidade de Catalina Pestana, produziu, gratuitamente, um estudo designado Casa Pia, um Projecto de Esperança, que consubstancia um modelo alternativo de instituições similares à Casa Pia de Lisboa. Por outro lado, foi com Catalina Pestana que nasceu o PIPAS, Projecto de Prevenção Primária de Abusos Sexuais para Crianças e Adolescentes.

Considera que a ex-Provedora foi importante para erguer moralmente a instituição?

Sem dúvida! Com Catalina Pestana a Casa Pia de Lisboa renasceu e estou certo de que se José Sócrates não a tivesse afastado tão prematuramente, a instituição teria sido reconduzida à sua função primordial: dar abrigo e futuro às crianças pobres e sem meio familiar adequado.

Só aquando da saída de Catalina Pestana da Provedoria da Instituição, é que esta veio a público afirmar a existência de abusos sexuais, ao longo da sua regência. Como encara estes acontecimentos?

Catalina Pestana, enquanto provedora, a única na longa história da Casa Pia de Lisboa, combateu corajosamente os abusadores sexuais, que rapidamente entenderam que não poderiam continuar impunemente a sua actividade criminosa. Como o atesta a carta em que denunciou os abusos ao senhor Procurador-geral da República, fê-lo no exacto momento em que deles teve conhecimento. E não pode ser responsabilizada pela inacção dos que preferiram desvalorizar as denúncias que atempadamente fez.

A actual responsável, Joaquina Madeira, disse em Outubro de 2007 que não tinha conhecimento de tais abusos, mais tarde admitiu existirem suspeitas. Considera, que como sempre, não interessa se alguém é abusado ou não?

Joaquina Madeira reconheceu que a Dra. Catalina Pestana lhe deu conhecimento das denúncias que fez. Por isso, cabe-lhe explicar a posição estranha que assumiu. Agora, para mim é evidente que se a intenção de José Sócrates fosse a de dar combate determinado aos abusos sexuais e apoiar as vítimas, jamais teria afastado a Dra. Catalina Pestana.

Como classifica o actual desempenho da actual Provedoria?

Para Joaquina Madeira tudo parece resumir-se a meras operações de cosmética. Por isso, preferiu ofender os sentimentos profundos dos casapianos, alterando o hino e o símbolo que tanto amamos, em vez de dotar a instituição dos mecanismos preconizados no estudo que referi. Temo que Sócrates a tenha incumbido de esvaziar a Casa Pia de Lisboa, para poder alienar o valioso património da instituição.

Adelino Granja disse que a nomeação de Vieira da Silva para a tutela da Casa Pia "não foi coincidência." No seu entendimento foi?

A nomeação de Vieira da Silva aconteceu pela impossibilidade de Sócrates nomear Paulo Pedroso ou Ferro Rodrigues.

A instituição Casa Pia, no seu entender, tem os dias contados?

Com os seus actuais responsáveis temo que sim. Aliás, esta gente já demonstrou ser capaz de tudo, invocando sempre os melhores argumentos. Em meu entender, porém, a Casa Pia de Lisboa tem que ser preservada, reformulada, dotada de meios técnicos e humanos aptos a lidar com crianças pobres e na generalidade sem família. Só assim se pode dar combate à crescente exclusão social.

Qual é o estado de espírito daqueles que foram molestados sexualmente, numa altura que o caso parece esquecido?

As vítimas têm sido reiteradamente abusadas e desrespeitadas. Mas estou confiante de que mantém a serenidade dos que só falam verdade. E como ficou manifesto na recente criação da Rede de Cuidadores, que também as apoiará, sabem que podem contar com a solidariedade da generalidade dos portugueses. E, sobretudo, sabem, como afirmou o Dr. Pedro Strecht, que podem andar de cabeça levantada, porque temos, todos, muito orgulho neles.

Porque é que tão poucas pessoas vêm defender os jovens que supostamente sofreram os abusos?

Antes de mais, não é adequado usar a expressão supostamente, porque todas as vítimas foram analisadas e as respectivas lesões confirmadas, pelo Instituto Nacional de Medicina Legal. Depois, a defesa pública de vítimas deste crime bárbaro, não é rentável, nem confere espaço mediático. E muitas figuras públicas mostraram ter uma pedra no lugar do coração, quando ofenderam as vítimas e o seu imenso sofrimento. E não podemos esquecer a tremenda maquinação que se urdiu contra a investigação e as crianças. Aliás, foi só quando ficou demonstrado que o arguido Carlos Silvino não possuía o dom da ubiquidade, e portanto, não podia ter cometido todos os crimes e violado tantas crianças, que os defensores da primeira hora convenientemente desertaram.

Acredita na Justiça?

Está mais do que demonstrado que em Portugal existe uma Justiça de classe, em que só são punidos os fracos. E cada vez mais o poder político, dominado pelos grandes grupos económicos e interesses que movimentam milhões de euros, tende a subjugar o poder judicial. Basta atentar no que se passou no "Caso Maddie" e nas tentativas, diversas, de enxovalhar a reputação do senhor inspector Gonçalo Amaral. Também no "Caso Casa Pia" tudo foi feito para que se não fizesse justiça.

Mas os envolvidos são demasiadamente poderosos para existir justiça?

Com o tempo que durou o julgamento, dificilmente se fará justiça. E isto sem esquecer que muitas vítimas jamais poderão processar quem as abusou, por estar prescrito o respectivo procedimento criminal. Acresce que, aos que foi roubado o futuro, justiça alguma poderá ser feita.

O Procurador-Geral da República está a dar suficiente atenção ao processo?

Julgo que a estratégia dos que anteviram, no afastamento abjecto do brilhante magistrado Souto Moura, o triunfo da impunidade criminosa, saiu furada.

Marinho Pinto, disse que "o processo ‘Casa Pia' visou decapitar o PS". Como reage a estas declarações?

Marinho Pinto sabe que mentiu descaradamente, o que, mesmo tendo sido feito para ajudar um amigo, só lhe fica mal. Mas essa afirmação nem sequer é novidade, porque esse senhor sempre se pronunciou contra as vítimas.

Temeu, em algum momento, pelo seu bem-estar, desde que foi tornado público este caso?

Temi sobretudo pelo bem-estar dos meus familiares mais chegados. Mas se recomeçasse a luta que já dura há seis anos, tirando alguns erros que também cometi, faria tudo de novo.

No seu blogue, entre muitas coisas, podemos ler: "O Governo de Sócrates é uma excrescência, um aglomerado de trapaceiros políticos." Porque razão critica tão ferozmente a governação do Primeiro-Ministro?

Porque considero que este Governo alicerça a sua acção na mentira reiterada e no ataque, desprezível, aos que trabalham. Além de mascarar, com uma linguagem pré-fabricada e pensada ao pormenor, a incompetência com que paralisou o País. Nunca se viveu tão mal em Portugal e o principal responsável é este executivo, dito socialista, mas que na prática não passa de uma secção da Internacional Neoliberal.

Que comentário faz à governação de José Sócrates?

Se analisarmos a situação nacional, não há um único domínio em que este Governo se tenha destacado positivamente. O desemprego aumenta diariamente. O sector produtivo tem vindo a ser destruído. A Educação, a Justiça e a Saúde degradam-se de forma impensável. Não se combate a corrupção, nem o branqueamento de capitais. Aliás, cada vez mais, em consequência de alterações legislativas que este Governo determinou, Portugal será um paraíso para os criminosos. E que faz Sócrates perante este desastre? Assobia para o lado e finge viver num mundo perfeito.

João Pinheiro da Costa

Fonte : http://www.semanario.pt/noticia.php?ID=4295

O GRUPO DE ANIMAÇÃO E TEATRO ESPELHO MÁGICO VAI REALIZAR UM CASTING PARA ACTRIZES QUE SAIBAM REPRESENTAR, CANTAR E DANÇAR COM O OBJECTIVO DE INTEGRAREM O ELENCO DO GRUPO E, CONSEQUENTEMENTE, DO PRÓXIMO ESPECTÁCULO TEATRAL INFANTIL INÉDITO COM ESTREIA PREVISTA PARA FEVEREIRO DE 2009.

Moral da coisa: A cultura é um bem demasiado precioso para ficar condicionada pela teoria da pedra no sapato, ou por interesses de empresários com olho na testa e que muitas vezes substituem vereadores, chefes não sei de quê e, naturalmente, seus pares de contenda.

Pedro Namora, ex - casapiano e amigo de muitas das vítimas teme que (...) TUDO NUMA GRANDE ENTREVISTA AO SEMANÁRIO. Vamos ler??

“Com o tempo que durou o julgamento, dificilmente se fará justiça”

Pedro Namora, ex-casapiano e amigo de muitas das vítimas teme que com os actuais responsáveis da Casa Pia, a instituição tenha os dias contados. "Temo que Sócrates tenha incumbido a actual Provedora de esvaziar a Casa Pia de Lisboa, para poder alienar o valioso património da instituição."

Pedro Namora foi um dos rostos públicos da denúncia de crimes no caso "Casa Pia". Que balanço faz de todo este processo?

Faço um balanço extremamente positivo: conseguimos parar a barbárie do abuso sexual de crianças, que existia, há pelo menos quatro décadas, de forma organizada na instituição e contribuir para o conhecimento nacional de um fenómeno criminoso que, é preciso relembrar, ocorre em mais de 80% dos casos, em contexto familiar. Em consequência, aumentou o número de denúncias aos órgãos de polícia criminal. Em suma, a nossa luta contribuiu para que as crianças deste país estejam hoje mais seguras.

A excessiva mediatização do caso "Casa Pia" afectou o processo de investigação?

É preciso recordar que sem a mediatização, sobretudo sem o corajoso e honrado trabalho da jornalista Felícia Cabrita, as denúncias que fizemos teriam tido o mesmo destino das que, ao longo dos anos, foi fazendo o Mestre Américo Henriques: o caixote da inacção conivente.

O que afectou o processo foi a acção concertada de criminosos, jornalistas de cartão apenas, para descredibilizar a investigação, trabalho de que foram incumbidos, em devido tempo, por políticos e outras pessoas influentes.

Quem são os culpados por este processo se arrastar por tanto tempo?

Os culpados são os que apostaram na destruição do processo desde o início. Os que ameaçaram, perseguiram, difamaram e, em desespero, tentaram comprar, todos quantos assumiram uma atitude consequente de solidariedade e defesa das vítimas.

Uma das figuras tão ou mais mediáticas do que os arguidos foi o juiz Rui Teixeira. Considera que foi graças a ele que o processo avançou da simples investigação para acusações formais?

Não! A responsabilidade por essa fase processual é do Ministério Público, cujo trabalho foi apoiado pela equipa da Polícia Judiciária e outros órgãos de polícia criminal. O juiz Rui Teixeira limitou-se a cumprir com aquilo que a sua função exige. Mas é fundamental assinalar que pela coragem, competência e seriedade demonstrada ficará para sempre no coração dos portugueses.

Houve um aproveitamento político atirando nomes para a praça pública, como foi o caso dos nomes de Paulo Pedroso, Jorge Sampaio, Jaime Gama e Ferro Rodrigues?

Em primeiro lugar, é preciso dizer que nunca nenhum aluno da Casa Pia se referiu ao Dr. Jorge Sampaio e a miserável referência ao seu nome foi feita por gente apostada em descredibilizar toda a investigação. Relativamente a Jaime Gama, Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues, várias vítimas os referiram. Os referidos senhores têm processado esses meus irmãos casapianos e têm perdido todos os processos.

No seu blogue fala sobre uma suposta vítima, que foi acusada de difamar o bom-nome do actual Presidente da Assembleia da República. Quer esclarecer os leitores do SEMANÁRIO?

Julgo que a resposta anterior esclarece a questão. Também esta vítima foi absolvida no processo que Jaime Gama lhe moveu. Infelizmente, as vítimas não podem processar muitos dos que delas abusaram por estarem prescritos os respectivos procedimentos criminais.

A relação com o Adelino Granja deteriorou-se e foi público o vosso desentendimento. Não deveriam lutar e dar voz por aqueles que designadamente sofreram abusos?

Eu tenho lutado ao lado dos que, por impulso decisivo de Catalina Pestana, criaram a Rede de Cuidadores e têm mostrado, de forma consequente, que estão ao lado das crianças, contra os abusos sexuais e outras formas de maus-tratos.

Adelino Granja, numa entrevista ao SEMANÁRIO disse que "Catalina Pestana, numa época tão conturbada como a que foi nomeada, centrou-se mais na colaboração com a investigação criminal." Concorda?

Não. Catalina Pestana foi a melhor coisa que podia ter acontecido aos casapianos e à Casa Pia de Lisboa. Claro que colaborou com a investigação criminal, o que por mim teria bastado. Porque combateu o terror e defendeu as crianças. Mas fez muito, muito mais. Além de ter reformulado todo o sistema de segurança da instituição, procedeu a uma profunda reestruturação dos serviços administrativo-financeiros. Admitiu mais sessenta educadores e os lares residenciais passaram a ter cinco educadores em vez dos anteriores três, o que permitiu reforçar o acompanhamento das crianças. Por um lado, promoveu, com o apoio determinante do Dr. Bagão Félix, a constituição do Conselho Técnico-científico, de que fizeram parte personalidades como o Eng. Roberto Carneiro, o Dr. José Roquete; os Prof. Daniel Sampaio e Gomes Pedro, o Dr. Álvaro de Carvalho; a senhora Procuradora Dulce Rocha; os Dr. Joaquim Azevedo e Leandro de Almeida e o senhor Padre Alberto Brito. O Conselho, contando sempre com o apoio entusiástico e a reconhecida competência e sensibilidade de Catalina Pestana, produziu, gratuitamente, um estudo designado Casa Pia, um Projecto de Esperança, que consubstancia um modelo alternativo de instituições similares à Casa Pia de Lisboa. Por outro lado, foi com Catalina Pestana que nasceu o PIPAS, Projecto de Prevenção Primária de Abusos Sexuais para Crianças e Adolescentes.

Considera que a ex-Provedora foi importante para erguer moralmente a instituição?

Sem dúvida! Com Catalina Pestana a Casa Pia de Lisboa renasceu e estou certo de que se José Sócrates não a tivesse afastado tão prematuramente, a instituição teria sido reconduzida à sua função primordial: dar abrigo e futuro às crianças pobres e sem meio familiar adequado.

Só aquando da saída de Catalina Pestana da Provedoria da Instituição, é que esta veio a público afirmar a existência de abusos sexuais, ao longo da sua regência. Como encara estes acontecimentos?

Catalina Pestana, enquanto provedora, a única na longa história da Casa Pia de Lisboa, combateu corajosamente os abusadores sexuais, que rapidamente entenderam que não poderiam continuar impunemente a sua actividade criminosa. Como o atesta a carta em que denunciou os abusos ao senhor Procurador-geral da República, fê-lo no exacto momento em que deles teve conhecimento. E não pode ser responsabilizada pela inacção dos que preferiram desvalorizar as denúncias que atempadamente fez.

A actual responsável, Joaquina Madeira, disse em Outubro de 2007 que não tinha conhecimento de tais abusos, mais tarde admitiu existirem suspeitas. Considera, que como sempre, não interessa se alguém é abusado ou não?

Joaquina Madeira reconheceu que a Dra. Catalina Pestana lhe deu conhecimento das denúncias que fez. Por isso, cabe-lhe explicar a posição estranha que assumiu. Agora, para mim é evidente que se a intenção de José Sócrates fosse a de dar combate determinado aos abusos sexuais e apoiar as vítimas, jamais teria afastado a Dra. Catalina Pestana.

Como classifica o actual desempenho da actual Provedoria?

Para Joaquina Madeira tudo parece resumir-se a meras operações de cosmética. Por isso, preferiu ofender os sentimentos profundos dos casapianos, alterando o hino e o símbolo que tanto amamos, em vez de dotar a instituição dos mecanismos preconizados no estudo que referi. Temo que Sócrates a tenha incumbido de esvaziar a Casa Pia de Lisboa, para poder alienar o valioso património da instituição.

Adelino Granja disse que a nomeação de Vieira da Silva para a tutela da Casa Pia "não foi coincidência." No seu entendimento foi?

A nomeação de Vieira da Silva aconteceu pela impossibilidade de Sócrates nomear Paulo Pedroso ou Ferro Rodrigues.

A instituição Casa Pia, no seu entender, tem os dias contados?

Com os seus actuais responsáveis temo que sim. Aliás, esta gente já demonstrou ser capaz de tudo, invocando sempre os melhores argumentos. Em meu entender, porém, a Casa Pia de Lisboa tem que ser preservada, reformulada, dotada de meios técnicos e humanos aptos a lidar com crianças pobres e na generalidade sem família. Só assim se pode dar combate à crescente exclusão social.

Qual é o estado de espírito daqueles que foram molestados sexualmente, numa altura que o caso parece esquecido?

As vítimas têm sido reiteradamente abusadas e desrespeitadas. Mas estou confiante de que mantém a serenidade dos que só falam verdade. E como ficou manifesto na recente criação da Rede de Cuidadores, que também as apoiará, sabem que podem contar com a solidariedade da generalidade dos portugueses. E, sobretudo, sabem, como afirmou o Dr. Pedro Strecht, que podem andar de cabeça levantada, porque temos, todos, muito orgulho neles.

Porque é que tão poucas pessoas vêm defender os jovens que supostamente sofreram os abusos?

Antes de mais, não é adequado usar a expressão supostamente, porque todas as vítimas foram analisadas e as respectivas lesões confirmadas, pelo Instituto Nacional de Medicina Legal. Depois, a defesa pública de vítimas deste crime bárbaro, não é rentável, nem confere espaço mediático. E muitas figuras públicas mostraram ter uma pedra no lugar do coração, quando ofenderam as vítimas e o seu imenso sofrimento. E não podemos esquecer a tremenda maquinação que se urdiu contra a investigação e as crianças. Aliás, foi só quando ficou demonstrado que o arguido Carlos Silvino não possuía o dom da ubiquidade, e portanto, não podia ter cometido todos os crimes e violado tantas crianças, que os defensores da primeira hora convenientemente desertaram.

Acredita na Justiça?

Está mais do que demonstrado que em Portugal existe uma Justiça de classe, em que só são punidos os fracos. E cada vez mais o poder político, dominado pelos grandes grupos económicos e interesses que movimentam milhões de euros, tende a subjugar o poder judicial. Basta atentar no que se passou no "Caso Maddie" e nas tentativas, diversas, de enxovalhar a reputação do senhor inspector Gonçalo Amaral. Também no "Caso Casa Pia" tudo foi feito para que se não fizesse justiça.

Mas os envolvidos são demasiadamente poderosos para existir justiça?

Com o tempo que durou o julgamento, dificilmente se fará justiça. E isto sem esquecer que muitas vítimas jamais poderão processar quem as abusou, por estar prescrito o respectivo procedimento criminal. Acresce que, aos que foi roubado o futuro, justiça alguma poderá ser feita.

O Procurador-Geral da República está a dar suficiente atenção ao processo?

Julgo que a estratégia dos que anteviram, no afastamento abjecto do brilhante magistrado Souto Moura, o triunfo da impunidade criminosa, saiu furada.

Marinho Pinto, disse que "o processo ‘Casa Pia' visou decapitar o PS". Como reage a estas declarações?

Marinho Pinto sabe que mentiu descaradamente, o que, mesmo tendo sido feito para ajudar um amigo, só lhe fica mal. Mas essa afirmação nem sequer é novidade, porque esse senhor sempre se pronunciou contra as vítimas.

Temeu, em algum momento, pelo seu bem-estar, desde que foi tornado público este caso?

Temi sobretudo pelo bem-estar dos meus familiares mais chegados. Mas se recomeçasse a luta que já dura há seis anos, tirando alguns erros que também cometi, faria tudo de novo.

No seu blogue, entre muitas coisas, podemos ler: "O Governo de Sócrates é uma excrescência, um aglomerado de trapaceiros políticos." Porque razão critica tão ferozmente a governação do Primeiro-Ministro?

Porque considero que este Governo alicerça a sua acção na mentira reiterada e no ataque, desprezível, aos que trabalham. Além de mascarar, com uma linguagem pré-fabricada e pensada ao pormenor, a incompetência com que paralisou o País. Nunca se viveu tão mal em Portugal e o principal responsável é este executivo, dito socialista, mas que na prática não passa de uma secção da Internacional Neoliberal.

Que comentário faz à governação de José Sócrates?

Se analisarmos a situação nacional, não há um único domínio em que este Governo se tenha destacado positivamente. O desemprego aumenta diariamente. O sector produtivo tem vindo a ser destruído. A Educação, a Justiça e a Saúde degradam-se de forma impensável. Não se combate a corrupção, nem o branqueamento de capitais. Aliás, cada vez mais, em consequência de alterações legislativas que este Governo determinou, Portugal será um paraíso para os criminosos. E que faz Sócrates perante este desastre? Assobia para o lado e finge viver num mundo perfeito.

João Pinheiro da Costa

Fonte : http://www.semanario.pt/noticia.php?ID=4295

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