o regabofe: palavra(s) favorita(s)

19-12-2009
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Mimi, com um ar aborrecido, diz que só os tolos se riem sem motivo, e Liúba, vermelha do esforço que faz para reprimir o riso, olha-me à socapa. Os nossos olhos encontram-se – e desatamos num riso tão homérico que nos vêm lágrimas aos olhos, e não conseguimos dominar os ataques de riso que nos sufocam. Mal acalmamos, olho para Liúba e digo a nossa palavra favorita da altura, que nos faz sempre rir… e desatamos novamente à gargalhada. Quando nos aproximamos de casa, abro a boca para fazer uma bela careta a Liúba, e os meus olhos recaem sobre uma tampa de caixão preta encostado à nossa porta, e a minha boca fica parada naquela posição distorcida.[Leon Tolstoi. Infância, Adolescência e Juventude. «Adolescência» Cap. 23. p.197. Trad. Isabel Sequeira]Tolstoi lança um véu transparente sobre a palavra favorita, demonstrando, sem prejuízo da ideia, que as palavras não passam de percepções invisíveis. (Mais tarde, recorde-se, Proust haveria de encerrar o tema). Daqui se depreenderá o nosso maior sufoco: só é possível entender com as palavras se delas o véu não for levantado. Daqui se depreenderá a nossa maior liberdade: sobra tudo para a ordem da imaginação nua.Obra citada e dito isto, há que perceber que este blogue é só uma tela em branco, e* não fosse por Tolstoi, não poderíamos esgotar esta corrente.*No entanto, o caso muda de figura no que pertence a estoutra: todos a favor da Oxford comma.

Mimi, com um ar aborrecido, diz que só os tolos se riem sem motivo, e Liúba, vermelha do esforço que faz para reprimir o riso, olha-me à socapa. Os nossos olhos encontram-se – e desatamos num riso tão homérico que nos vêm lágrimas aos olhos, e não conseguimos dominar os ataques de riso que nos sufocam. Mal acalmamos, olho para Liúba e digo a nossa palavra favorita da altura, que nos faz sempre rir… e desatamos novamente à gargalhada. Quando nos aproximamos de casa, abro a boca para fazer uma bela careta a Liúba, e os meus olhos recaem sobre uma tampa de caixão preta encostado à nossa porta, e a minha boca fica parada naquela posição distorcida.[Leon Tolstoi. Infância, Adolescência e Juventude. «Adolescência» Cap. 23. p.197. Trad. Isabel Sequeira]Tolstoi lança um véu transparente sobre a palavra favorita, demonstrando, sem prejuízo da ideia, que as palavras não passam de percepções invisíveis. (Mais tarde, recorde-se, Proust haveria de encerrar o tema). Daqui se depreenderá o nosso maior sufoco: só é possível entender com as palavras se delas o véu não for levantado. Daqui se depreenderá a nossa maior liberdade: sobra tudo para a ordem da imaginação nua.Obra citada e dito isto, há que perceber que este blogue é só uma tela em branco, e* não fosse por Tolstoi, não poderíamos esgotar esta corrente.*No entanto, o caso muda de figura no que pertence a estoutra: todos a favor da Oxford comma.

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