Tubo de Ensaio

18-12-2009
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«Era um homem de tempos passados e tinha o carácter indefinível habitual daqueles que eram jovens nessa época: um misto de cavalheirismo, iniciativa, autoconfiança, amabilidade e licenciosidade. (…) As duas maiores paixões da sua vida eram as cartas e as mulheres. (…) Um homem irresistível para as mulheres, e de que todos, sem excepção, gostavam – gente de todas a classes e condições sociais, especialmente as pessoas a quem ele desejava agradar. Ele sabia como levar sempre a melhor nas relações com qualquer pessoa. (…) Conhecia os limites exactos do orgulho e da autoconfiança que, sem ofender os outros, o elevavam perante a opinião pública. Era original, embora nem sempre, e utilizava muitas vezes a sua originalidade em substituição da riqueza ou estatuto social. Nada no mundo lhe causava espanto: por mais importante que fosse a situação em que se encontrasse, nunca parecia deslocado. Sabia esconder tão bem dos outros e de si próprio o lado sombrio da vida, com os pequenos desgostos e contrariedades com que todos se deparam, que não se podia deixar de sentir inveja dele. Era um perito em todos os objectos que proporcionavam conforto e divertimento, e sabia utilizá-los. (…) Era sensível e chorava facilmente. (…) A sua vida era tão cheia de divertimentos de todos os tipos que ele não tinha tempo de formar convicções e, além disso, tinha tanta sorte na vida que não sentia necessidade delas. Falava de um modo muito convincente, e esse dom, parecia-me, acentuava a elasticidade dos seus princípios: conseguia descrever exactamente o mesmo acto como uma travessura encantadora, ou como a pior das patifarias.»[Tolstoi. Infância, Adolescência e Juventude. Que espécie de homem era o meu pai. p.45. Trad. Isabel Sequeira.]Fotografia: sandra costa. Pai.Etiquetas: Fontes

«Era um homem de tempos passados e tinha o carácter indefinível habitual daqueles que eram jovens nessa época: um misto de cavalheirismo, iniciativa, autoconfiança, amabilidade e licenciosidade. (…) As duas maiores paixões da sua vida eram as cartas e as mulheres. (…) Um homem irresistível para as mulheres, e de que todos, sem excepção, gostavam – gente de todas a classes e condições sociais, especialmente as pessoas a quem ele desejava agradar. Ele sabia como levar sempre a melhor nas relações com qualquer pessoa. (…) Conhecia os limites exactos do orgulho e da autoconfiança que, sem ofender os outros, o elevavam perante a opinião pública. Era original, embora nem sempre, e utilizava muitas vezes a sua originalidade em substituição da riqueza ou estatuto social. Nada no mundo lhe causava espanto: por mais importante que fosse a situação em que se encontrasse, nunca parecia deslocado. Sabia esconder tão bem dos outros e de si próprio o lado sombrio da vida, com os pequenos desgostos e contrariedades com que todos se deparam, que não se podia deixar de sentir inveja dele. Era um perito em todos os objectos que proporcionavam conforto e divertimento, e sabia utilizá-los. (…) Era sensível e chorava facilmente. (…) A sua vida era tão cheia de divertimentos de todos os tipos que ele não tinha tempo de formar convicções e, além disso, tinha tanta sorte na vida que não sentia necessidade delas. Falava de um modo muito convincente, e esse dom, parecia-me, acentuava a elasticidade dos seus princípios: conseguia descrever exactamente o mesmo acto como uma travessura encantadora, ou como a pior das patifarias.»[Tolstoi. Infância, Adolescência e Juventude. Que espécie de homem era o meu pai. p.45. Trad. Isabel Sequeira.]Fotografia: sandra costa. Pai.Etiquetas: Fontes

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