Antologias: Jaime Nogueira Pinto no "i" [29 Dezembro 2009]

20-01-2011
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Jaime Nogueira Pinto no "i" [29 Dezembro 2009] via Império, Nação, Revolução by Riccardo Marchi on 3/27/10 "Como nós fomos..."Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época. Pensamos e lutamos por ideias de justiça social."Império, Nação, Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1945-1974)", de Riccardo Marchi, abre uma janela sobre uma terra quase incógnita da nossa historia próxima. Marchi nasceu em Pádua, em 1974. E por isso é um alien nesta paisagem, que vem olhar e contar. Mas trouxe cânones analíticos que faltam à intelectualidade indígena, que, seguindo a vulgata antifascista, arrumou indiscriminadamente todas estas "direitas" em "fascistas", "reaccionários", "extrema-direita" – os "maus" ou "vilões" da história.A hegemonia política da esquerda há trinta e cinco anos faz com que as categorias políticas de esquerda e extrema-esquerda sejam estudadas e debatidas com algum rigor. Mas persiste a amálgama conceptual na área da direita, que, salvo raras excepções, ainda é contada pela esquerda.Dai o mérito do livro de Marchi, que, além de estabelecer as distinções requeridas, procurou conhecer o pensamento, o sentimento, a história desta área. A galáxia aqui contada teve revistas, jornais, editoras – Tempo Presente, Combate, Via Latina, O Ataque, Política, Cidadela; teve movimentos de juventude – como o Jovem Portugal nacional-revolucionário, fundado pelo Zarco Moniz Ferreira; ou a FEN – Frente dos Estudantes Nacionalistas – mais salazarista; teve clubes de pensamento e reflexão, e até um grupo de teatro – A Oficina. Teve escritores, académicos, intelectuais, jornalistas, militantes, estudantes, combatentes; fez panfletos, furou greves, resistiu nas faculdades da década de 1965-74 à hegemonia de controlo do movimento associativo. E foi, em 1974-75, de onde veio a única resistência à descolonização.Conheço bem esta história; fiz parte dela. Dos que lá estivemos, uns voltaram à politica depois de 1976, como o Francisco Lucas Pires e o José Miguel Júdice, outros continuaram no combate cultural, outros desistiram, alguns morreram.Nestes movimentos estiveram conservadores, tradicionalistas, monárquicos, salazaristas, nacionalistas-revolucionários, fascistas. A trilogia nação, império, revolução pode servir-lhe de denominador: a nação e o império – e a ideia de transformar o império em nação – foram símbolos e valores de todos e estiveram na origem da vinda da maioria para a acção política. Já a revolução foi atributo dos que então se distanciaram do Estado Novo e buscaram inspirações em movimentos do passado, como o fascismo revolucionário de 1920 ou o falangismo de José António. Era a sua terceira via.Éramos assim. Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época e, bem longe dos estereótipos de senhoritos reaccionários ou de caceteiros do regime, pensamos e lutamos por ideias de integração nacional e justiça social. Que hoje podem parecer utópicos, mas na época nos surgiram como a alternativa ao que estava e àquilo que vinha.Jaime Nogueira PintoProfessor universitário


Jaime Nogueira Pinto no "i" [29 Dezembro 2009] via Império, Nação, Revolução by Riccardo Marchi on 3/27/10 "Como nós fomos..."Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época. Pensamos e lutamos por ideias de justiça social."Império, Nação, Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1945-1974)", de Riccardo Marchi, abre uma janela sobre uma terra quase incógnita da nossa historia próxima. Marchi nasceu em Pádua, em 1974. E por isso é um alien nesta paisagem, que vem olhar e contar. Mas trouxe cânones analíticos que faltam à intelectualidade indígena, que, seguindo a vulgata antifascista, arrumou indiscriminadamente todas estas "direitas" em "fascistas", "reaccionários", "extrema-direita" – os "maus" ou "vilões" da história.A hegemonia política da esquerda há trinta e cinco anos faz com que as categorias políticas de esquerda e extrema-esquerda sejam estudadas e debatidas com algum rigor. Mas persiste a amálgama conceptual na área da direita, que, salvo raras excepções, ainda é contada pela esquerda.Dai o mérito do livro de Marchi, que, além de estabelecer as distinções requeridas, procurou conhecer o pensamento, o sentimento, a história desta área. A galáxia aqui contada teve revistas, jornais, editoras – Tempo Presente, Combate, Via Latina, O Ataque, Política, Cidadela; teve movimentos de juventude – como o Jovem Portugal nacional-revolucionário, fundado pelo Zarco Moniz Ferreira; ou a FEN – Frente dos Estudantes Nacionalistas – mais salazarista; teve clubes de pensamento e reflexão, e até um grupo de teatro – A Oficina. Teve escritores, académicos, intelectuais, jornalistas, militantes, estudantes, combatentes; fez panfletos, furou greves, resistiu nas faculdades da década de 1965-74 à hegemonia de controlo do movimento associativo. E foi, em 1974-75, de onde veio a única resistência à descolonização.Conheço bem esta história; fiz parte dela. Dos que lá estivemos, uns voltaram à politica depois de 1976, como o Francisco Lucas Pires e o José Miguel Júdice, outros continuaram no combate cultural, outros desistiram, alguns morreram.Nestes movimentos estiveram conservadores, tradicionalistas, monárquicos, salazaristas, nacionalistas-revolucionários, fascistas. A trilogia nação, império, revolução pode servir-lhe de denominador: a nação e o império – e a ideia de transformar o império em nação – foram símbolos e valores de todos e estiveram na origem da vinda da maioria para a acção política. Já a revolução foi atributo dos que então se distanciaram do Estado Novo e buscaram inspirações em movimentos do passado, como o fascismo revolucionário de 1920 ou o falangismo de José António. Era a sua terceira via.Éramos assim. Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época e, bem longe dos estereótipos de senhoritos reaccionários ou de caceteiros do regime, pensamos e lutamos por ideias de integração nacional e justiça social. Que hoje podem parecer utópicos, mas na época nos surgiram como a alternativa ao que estava e àquilo que vinha.Jaime Nogueira PintoProfessor universitário

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